Inteligência artificial chega aos confinamentos do Brasil

Tecnologia envolve sensores que acompanham o desempenho de cada animal. “O dono do boi pode ir para a praia que o olho dele continua na fazenda”, brincou professor da Esalq

A tecnologia aplicada em alguns confinamentos do Brasil já está além do que boa parte dos pecuaristas imagina. Sensores de movimento, balanças e aferição de pesagens em tempo real – até oito vezes ao dia -, monitoramento por câmeras em locais estratégicos que acompanham o desenvolvimento do gado, o ganho de peso, e verificam se eles apresentam algum comportamento diferente, como sinais de enfermidade, tudo isto pode parecer uma realidade distante da pecuária de corte no País, mas é algo que já está presente em algumas unidades de terminação intensiva.

É a aplicação prática da inteligência artificial contribuindo para a evolução do conceito de pecuária de precisão. O projeto está sendo desenvolvido pelo Departamento de Zootecnia da Esalq-USP, através do pesquisador Dante Lanna, e por uma startup fundada por um ex-aluno da instituição.

O professor lembrou que as primeiras pesquisas que levaram até a tecnologia atual começaram há quase duas décadas e envolviam a curiosidade em saber a conversão alimentar dos animais, buscando resposta para a pergunta sobre diferenças no desempenho entre indivíduos de um mesmo lote. Como descobriu-se que havia disparidade, então as pesquisas tiveram sequência.

“Nós demonstramos que sim, cada animal tem uma conversão alimentar e um custo diferente. Nós evoluímos também olhando a parte da qualidade, cada animal pode estar mais ou menos acabado e buscar maior lucratividade de cada animal, não mais do lote. Isso que estamos fazendo aqui é uma experiência com o uso de várias tecnologias para a pecuária de precisão”, disse o professor.

As tecnologias buscam identificar o ganho de peso e a composição do ganho de peso para fazer uma avaliação mais objetiva do ponto ótimo de abate de cada rês. “É complicado em um confinamento como esse, para quatro mil cabeças. A avaliação é subjetiva e muitos erros acabam acontecendo. Agora estamos vendo por sensores, câmeras e balanças localizadas onde o animal passa ou bebe água e com isso estamos conseguindo o ganho de peso desse indivíduo a cada dia, em seis a oito pesagens ao longo do dia. Isso gera um mundo de informações, sobre, por exemplo, se o animal está desacelerando seu desenvolvimento, seu ganho peso, se já está acabado ou não, se vai ganhar premiação do frigorífico ou não”, ilustrou.

Depois de coletados, dados são processados por um software para gerar a inteligência desejada pelo pecuarista. Além do ganho de peso e ponto de abate, fazendo com que o pecuarista poupe diárias extras com cada cabeça, o sistema pode detectar com até cinco dias de antecedência com relação à observação tradicional de um peão se um boi está doente. “A pesquisa tem demonstrado que os sensores identificam animais doentes com três a cinco dias antes dos peões. E temos peões bons, mas em quatro mil bois, do jeito que é corrido o dia a dia, para um capataz que esteja já curando outro animal identificado doente, ele acaba deixando passar um grande número de animais”, acrescentou.

Segundo Lanna, a tecnologia já está disponível no mercado ao pecuarista e pode substituir o famoso “olho do dono. “Agora as câmeras funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana. O dono do boi pode ir para a praia que o olho dele continua na fazenda”, brincou o professor da Esalq.

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