Cheia no Pantanal Sul pode ocupar área mais extensa em 2018

Solo já encharcado por chuvas pode se somar à inundação do Rio Paraguai e extender áreas alagadas; pesquisadores da Embrapa lançam alertas em página na internet

Nesta quarta, 7, o Giro do Boi exibiu entrevista com o biólogo, mestre e doutor na área de ecologia aplicada Carlos Roberto Padovani, pesquisador da Embrapa Pantanal. Em conversa com o apresentador Marco Ribeiro, o pesquisador detalhou o funcionamento do ciclo das águas no Pantanal e alertou para a possibilidade de uma cheia mais abrangente em 2018 por conta das chuvas localizadas no Pantanal Sul.

Padovani explicou que a média do pico das cheias no Pantanal do MS ocorrem de junho a julho, mas quando há uma cheia extraordinária, o pico pode ocorrer já em abril. “O que acontece é que além das chuvas no Planalto, nós estamos observando chuvas dentro do Pantanal e dentro da região ocorre uma maior inundação”, avisou Padovani. “Nós tivemos dois meses mais chuvosos, que foram dezembro (2017) e janeiro (2018). Choveu bem em alguns lugares, muito além da média. Na Fazenda Nhumirim (propriedade da Embrapa Pantanal em Corumbá-MS), choveu o dobro do esperado, que era 200mm e acabou chovendo 400mm no período”, contabilizou o biólogo. Por isso, a cheia esperada vinda do Rio Paraguai encontrará o solo já encharcado, com menos possibilidade de absorver as águas, processo que geralmente leva à extensão das áreas alagadas.

Padovani advertiu que, para 2018, produtores localizados nas regiões dos rios Taquari, Miranda, Negro e Aquidauana podem passar por um período mais crítico de alagamento. Para fazer o acompanhamento do ciclo das águas, o pecuarista pode acessar uma página pelo Facebook que lança informações coletadas e analisadas por pesquisadores da própria Embrapa Pantanal, chamada Geohidro-Pantanal, que em breve migrará para o site oficial do centro de pesquisa.

A página contém mapas de chuvas do Pantanal e bacia do Alto Paraguai, com níveis semanais e mensais, seguindo a temporada de chuvas e estiagem de anos anteriores usando ferramentas como mapas, imagens de satélites e gráficos

+ Clique e acesse a página Geohidro-Pantanal pelo Facebook

AVISO AO PECUARISTA

Padovani recomendou aos pecuaristas da região que se informem sobre as condições além do local de sua fazenda, mas também sobre o caminho a ser percorrido pelo gado até a área segura. Segundo o pesquisador, algumas estradas são cortadas por corixos e rios afluentes que inundam as regiões de passagem dos animais. “Não é só atentar à cheia na fazenda. As fazendas muito dentro do Pantanal têm caminhos que o pecuarista tem que tomar pra tirar o gado para as áreas mais altas, seja dentro ou fora do Pantanal. Neste caminho, ele deve ter atenção porque às vezes a fazenda em si não está sob ameaça, mas o caminho está. Essa região cortada pela BR-262, que liga Campo Grande a Corumbá, é repleta de corixos e rios que transbordam. A Estrada Parque em MS tem trechos de muitas vazantes também”, completou o biólogo, avisando ainda que em certos pontos destas estradas o rio já exerce pressão sobre as pontes, inclusive com algumas sendo interditadas pelo DNIT para veículos pesados, inviabilizando o embarque de gado em caminhões.

“É preciso se atentar e, de preferência, que o pecuarista tenha um esquema montado para levar gado, saber quem vai transportar, fazer o descarte e/ou a venda de alguns lotes antes de chegar a cheia. E é importante dizer também que o pecuarista pantaneiro tradicional já sabe o movimento, mas para os novos, é essencial conversar os mais antigos, os seus vizinhos e peões para saber as orientações, além de acompanhar os dados oficiais”, indicou Padovani.

O pesquisador ponderou ainda sobre o nível de alarme para os produtores. “Existem comunicações alarmistas, de cheia excepcional, mas o Pantanal é assim, tem sua inundação sazonal, de ano em ano, de cheias maiores e menores, cada ano sob influências de diferentes fontes de água. É uma região extensa e é preciso entender bem sua própria região para entender o contexto”, tranquilizou.

Veja a entrevista completa pelo vídeo abaixo: