Olho do dono engorda o boi - e combate as pragas das pastagens

Agrônomo destacou que monitoramento no momento ideal pode ser decisivo para controlar infestações e manter forrageiras em condições de alimentar o rebanho

Nesta terça-feira, 22, um dos destaques do Giro do Boi foi entrevista com o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental Roni de Azevedo, engenheiro agrônomo, mestre e doutor em entomologia e fitossanidade. O profissional respondeu dúvidas de telespectadores do programa que estão com dificuldade para combater pragas das pastagens, como lagartas, cigarrinhas e percevejos. Em entrevista concedida ao apresentador Marco Ribeiro, o agrônomo enalteceu que o olho do dono pode, neste caso, literalmente engordar o boi. Isto porque o monitoramento feito no momento certo pode ser decisivo para o combate das pragas das pastagens, mantendo as forrageiras em condições de alimentar os animais e manter seu desempenho.

“A principal praga é cigarrinha e aí tem um segundo grupo que a gente chama de pragas ocasionais, como, por exemplo, lagartas, percevejos das gramíneas, algumas colchonilhas e algumas que são chamadas de pragas gerais, que são os cupins, formigas, percevejo castanho, larvas do besouro rola-bosta e gafanhotos. Eles são os principais insetos que podem ocorrer nas pastagens”, listou Azevedo.

O pesquisador destacou que há um fator principal que influencia no aumento dos níveis populacionais dos insetos. “O principal é a própria temperatura. Em regiões de climas mais quentes, esta temperatura propicia o desenvolvimento e inclusive acelera o ciclo e o inseto mais rapidamente fica adulto, o que, consequentemente, gera mais população e mais dano. Em regiões de clima mais ameno, mais frias, o dano tende a ser menor”, revelou.

CIGARRINHA
“As cigarrinhas, tanto em sua fase jovem, ou ninfa, quanto adulta, sugam a seiva da planta. Então ao invés do nutriente ser usado pra fazer a fotossíntese para a planta crescer, e produzir folha para o gado se alimentar e produzir carne, o inseto acaba roubando nutriente no desenvolvimento da forrageira. Além disso, ele injeta toxinas no capim e isso acaba deformando e prejudicando crescimento do vegetal”, esclareceu.

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LAGARTAS
“O grupo das lagartas é o das pragas ocasionais. Nem todo ano ocorre infestação. Qual a principal característica? Normalmente quando ocorre é no início da estação chuvosa porque é o momento que capim está crescendo, com folhas tenras, e acaba sendo bastante palatável pra estas lagartas. Também é o momento adequado fisiologicamente para o próprio inseto porque há a eclosão do ovo e as primeiras lagartas pequenas aparecem. É natural, embora indesejável. A lagarta, diferente da cigarrinha, consome folha, então é mais agressiva”, apontou o agrônomo.

A prevenção requer dedicação do pecuarista, conformou disse o pesquisador. “O que a gente comenta é para o pecuarista, um produtor de pasto e, consequentemente, de carne ou leite, estar sempre atento e olhar a sua propriedade, olhar o pasto. Quando ele constatar as primeiras infestações de lagartas pequenas, é o momento que tem que fazer uma estratégia de controle Quando a lagarta já infestou e comeu basicamente as folhas do pasto que tínhamos, o dano já está causado. Então a gente pede pra que o pecuarista visualize sua pastagem como uma lavoura pra que veja as primeiras infestações. Para as lagartas pequenas, existem produtos biológicos que são bastante seletivos, específicos, e até produtos químicos, caso haja necessidade. Eles são pouco tóxicos e vão conseguir controlar para não ter dano na propriedade”, aconselhou.

PERCEVEJO
De acordo com Roni, são três principais espécies de percevejos castanhos e em suas fases jovem (ninfa) e adulta, elas vivem embaixo do solo. “A gente não vê e isso é um problema. O monitoramento tem que ser feito de maneira diferente. Para piorar, a fase ninfa é bastante longa. O inseto vive cerca 150 dias nesta fase e na adulta mais 150 dias. É quase o ano inteiro o mesmo inseto presente no solo e causando dano. Assim como a cigarrinha, ele é sugador de seiva, só que neste caso, é a seiva das raízes da planta. Ao fazer isso, o percevejo acaba passando despercebido. Quando os níveis de infestação são baixos, ele retarda o crescimento do capim. Em níveis altos de infestação, normalmente ocorre em reboleira, acabam ocorrendo em algumas touceiras de pasto e abre espaço pra concorrência de plantas daninhas. O pecuarista deve fazer o monitoramento, olhar, cavar, fazer trincheira pra ver se tem presença ou não do inseto na propriedade”, detalhou.

O doutor em entomologia e fitossanidade avisou que o melhor momento para monitorar as pragas é o início das chuvas, quando as atitudes podem surtir mais efeito. “Os agricultores, que têm culturas anuais, como soja e algodão, de duas ou três vezes na semana estão fazendo monitoramento de pragas. Faz parte do seu manejo integrado de pragas. E é importante também que o pecuarista considere sua pastagem como lavoura. […] Quando melhor ele cuidar, fizer correção do solo, adubação, as plantas mais nutridas acabam tendo mais resistência natural e o dano das pragas acaba sendo muitas vezes menor”, concluiu.

Veja a entrevista completa pelo vídeo abaixo: