Degradação do pasto custou mais de R$ 15 por arroba para o pecuarista em 2018

Agrônomo Maurício Nogueira falou em entrevista sobre como investir da maneira certa no momento de alta e os impactos das mentiras sobre a sustentabilidade do setor

Nesta quarta-feira, dia 20, o Giro do Boi exibiu entrevista com o engenheiro agrônomo e consultor Maurício Palma Nogueira, diretor da Athenagro, empresa responsável pela realização do Rally da Pecuária. Nogueira destacou os pontos que chamaram atenção no balanço da edição 2019 da expedição e comentou ainda os impactos que as mentiras sobre sustentabilidade ambiental têm sobre o setor.

“Aconteceram duas coisas interessantes neste ano. A produtividade aumentou mais do que a gente esperava neste público, então nós estamos falando do sistema de produção realmente da pecuária que está sendo cada vez mais otimizado. […] E também constatamos uma presença muito maior de produtores menores este ano. […] O produtor menor é a ponta tecnológica hoje da pecuária se você pegar em nível de produtividade por área e isso eu acho que trouxe um pouco de ânimo para o público todo que a gente conversou”, relatou Nogueira.

Dentro das principais mudanças do setor do ano passado para 2019, no universo da amostragem do Rally da Pecuária, Nogueira citou o crescimento da intenção de confinamento em 15% e também o aumento da intenção do uso da TIP – terminação intensiva a pasto – em 30%. A intensificação provocou alterações também na dinâmica da gestão nas propriedades, área em que o consultor afirmou que houve avanços observados pontualmente durante as visitas nas propriedades.

Segundo Nogueira, o planejamento do produtor é essencial para que ele aproveite este bom momento do mercado da pecuária por conta da evolução dos preços. “Confinamento tá bom! Pra quem? Para quem decidiu na hora que era dúvida. Então quem vende e quem ganha é quem fez. Não dá para fazer depois que a situação ficou boa. […] Geralmente a gente aumenta o custo da fazenda e prejudica essas fazendas no momento que os preços estão altos, não quando o preço está baixo, quando a situação está ruim, a gente não tem muito o que fazer, a gente faz o que é possível. Quando os preços estão altos às vezes a gente quer crescer, e não que o investimento seja errado, mas a hora é errada. O que eu foco agora? Vai na produtividade. Pastagem, comida, reprodução, sanidade, todo componente que aumenta tua venda, que acelera o gado. E lembre que nós estamos com uma mudança que veio ficar, a tendência que bois tenham que ser produzidos em até 30 meses, mesmo que nem tudo seja exportado para a China, este produto vai ser valorizado pelo mercado como aconteceu em outras cadeias produtivas”, resumiu.

O consultor alertou para um dado importante referente às condições das pastagens, que hoje representam o maior custo da produção pecuária no país. “Pastagem hoje é o maior custo de produção do pecuarista. A gente também faz uma comparação em que a gente acompanha o fluxo financeiro da cadeia produtiva. Se a gente dividir o custo da degradação de pastagens, tanto aquela que vai ser consertada quanto aquela que é perdida, e na verdade a gente até subestima o custo e a gente poderia usar outra metodologia, mas a gente pode calcular que em 2018, em média, a degradação de pastagem custou R$ 15 por arroba”, calculou o diretor da Athenagro.

Entre os gargalos da pecuária brasileira, Nogueira apontou também as vacas que passam vazias o ano inteiro dentro da fazenda, custando e não gerando valor nenhum ao criador. “São drenos de resultados que prejudicam a pecuária”, advertiu.

Nogueira comentou também os principais ataques que o setor agro sofreu em 2019 por notícias falsas relacionadas à sustentabilidade ambiental. “Está na moda falar fake news, mas vamos falar o português claro. Sustentabilidade é um tema que vem sendo tratado com muita mentira. A gente pega um grupo pessoas que brinca de ciência. O que eles fazem? Excluem os cientistas que não estão alinhados, então eles param de ser convidados para seminários. Passa a falsa impressão de que a ciência está chegando a uma conclusão, mas na verdade eu estou reunindo só quem conclui igual. E ciência não é consenso, ciência é dissenso. Você tem que experimentar, tem que analisar, tem que pesquisar, tem que testar. Consenso é religião”, sustentou o agrônomo.

Maurício lamentou que o debate sobre sustentabilidade tenha sido desenvolvido em meio ao debate político, o que terminou por enviesar as discussões científicas. “As medidas que estão sendo tomadas (pelo Ministério do Meio Ambiente) estão no sentido certo e não é porque a gente é do agro, é porque vai defender de fato o meio ambiente. E aí a gente vê toda essa briga criando dados mentirosos. Então hoje uma das fontes que tenta ser uma das maiores referências em áreas de pastagens, da publicação de fevereiro para publicação de julho, eles aumentaram a área de pastagens em quase 30 milhões de hectares! Então como pode?”, questionou Nogueira.

“Nós não podemos aceitar estes dados porque […] vão embasar projeções, modelos matemáticos, modelos científicos com premissas erradas que vão chegar a conclusões erradas”, projetou. “E nós vamos sofrer uma pressão na cadeia produtiva da carne. Quem paga o pato no final do dia? O pobre consumidor e o pobre, o pequeno produtor. Esses pagam o pato. Então nós não estamos falando de sustentabilidade no Brasil, nós estamos hoje debatendo pontos radicais do ponto de vista ambiental”, comentou.

O consultor também afirmou que, ao contrário do que pensa parcela da população, o desmatamento não é bom para a cadeia produtiva da carne, por isso é usado somente por quem atua no mercado paralelo da pecuária. “O pessoal precisa entender que o desmatamento não é bom para o setor pecuário. O desmatamento ilegal é feito por gente que vai atuar no mercado paralelo, no mercado informal. Isso prejudica frigorífico e prejudica o pecuarista. Isso derruba o preço do boi. […] Todo o setor é contra estas atividades. O que acontece no momento de polarização que a gente viu é que a gente tem o pessoal acreditando que vai ter impunidade, então aumentam de fato as atividades ilegais porque ele acredita na impunidade. Agora quem deu o sinal de impunidade, foi o governo que falou que pode desmatar? Isso não foi dito em nenhum momento, pelo contrário, sempre se falou no Código Florestal. Ou foi a imprensa que começou a falar que o governo estava dizendo isto? Então nós temos muita desinformação que acaba prejudicando tudo o que se quer defender,” sustentou o consultor.

Veja a entrevista completa no vídeo abaixo: