Tecnologias de monitoramento aumentam em 30% o lucro por animal confinado

Um mês após entrada no confinamento, sistema de inteligência artificial pode predizer com 99% de certeza qual será o desempenho do boi ao longo de 100 dias em cocho

Quem acha que a pecuária está passando por uma mudança deve estar atrasado uns dez anos. Porque já passou, ela já mudou. Quem não acompanhou essa mudança, corra atrás porque senão já, já você vai deixar de ser pecuarista”, alertou em entrevista ao Giro do Boi nesta quarta, 02, o médico veterinário Rodrigo Meirelles, doutor em nutrição animal e sócio diretor da Meirelles Agroeficiência.

O veterinário apresentou novas tecnologias que estão servindo como soluções na gestão da pecuária em um momento em que a intensificação do sistema se torna uma necessidade. Um dos exemplos veio de confinamentos em Goiás, que estão usando monitoramento individual dos animais para encontrar um que é chamada de P.O.N.: ponto ótimo de negociação.

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“Isso é lá em Goiás (veja foto abaixo). São propriedades em que a tecnologia está dentro da baia e a gente consegue fazer o monitoramento de cada animal individualmente, conseguindo encontrar o que a gente chama de P.O.N., que é o ponto ótimo de negociação. Então eu posso saber o exato momento que cada boi está no ápice do seu desempenho zootécnico e no ápice da sua lucratividade, linkado diretamente com os preços da arroba do frigorífico, com todas as margens e com todos os benefícios que isso pode levar”, apresentou Meirelles.

“O grande diferencial é que a gente tem um painel fotovoltaico e um leitor de brincos automático que está a dois metros de altura. Então cada vez que o boi passar para comer ou beber água isso está no meio da baia – então a gente cortou o meio da baia – e faz uma leitura do desempenho dele. O que a gente tem hoje nos confinamentos, pensando no confinamento tradicional: chega o boi, pesa na entrada e pesa na saída. Mas isso aqui, se o boi for dez vezes por dia tomar água, a gente pesa dez vezes por dia. Como é na ida e na volta, são 20 vezes por dia. Veja a quantidade de informação que a gente consegue ter para conseguir monitorar os animais sem ter a presença humana. Eu não preciso monitorar nada pessoalmente: eu simplesmente sei se o boi está doente ou não, se está ou não ganhando peso, quanto ele está ganhando e quanto ele está deixando de lucro para a sua baia e para o confinamento todo. É um negócio muito bacana”, esclareceu.

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Segundo o veterinário, a tecnologia pode ser implementada tanto em confinamento ou pasto. “Funciona da mesma maneira. A gente consegue fazer em praça de alimentação, adequar conforme for a situação”, apontou. A adaptação dos animais não é um obstáculo para a implementação da tecnologia. “O boi acostuma no primeiro dia. A gente faz até uma escolinha no começo, às vezes ele fica um pouco mais arredio, mas aprendem muito fácil, vão atrás da comida e da água e vira uma rotina”, assegurou.

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Segundo Meirelles, o custo da implantação da tecnologia tem retorno rápido ao produtor, além de aumentar o lucro por animal expressivamente. “Os custos da tecnologia, claro, tem que ser mensurados, colocados na conta do confinamento, do pasto, da fazenda como um todo. Mas para ter ideia daquela estrutura de confinamento ali, uma baia paga toda aquela estrutura e o monitoramento dos animais em um ciclo e meio. Então a gente tem um payback de cinco meses. Em cinco meses se paga só com o lucro do animal. Então você consegue aumentar em até 30% o lucro de cada animal no confinamento coletando esse monte de informações e agindo em cima delas”, exaltou Rodrigo.

O profissional destacou a precisão das informações e como isso pode beneficiar o pecuarista. “À partir do início do monitoramento desses animais, no dia 30 do confinamento, fechando o primeiro mês, a gente consegue ter 99% de certeza sobre como ele vai estar no dia 100. É predição. […] Eu sei quando eu vou matar ele. […] Eu já sei quais são os animais, se eu vou descascar o lote ou não, se eu vou levar para confinamento. Isso tudo eu sei com 99% de certeza. E não só do ganho de peso do animal, como escore, acabamento… Eu defino como vou matar esse animal”, observou.

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O doutor em nutrição animal revelou que ferramentas como essa, que monitoram com precisão o desempenho dos animais, não só ajudam o pecuarista a tomar a decisão. Na prática, é a tecnologia tomando decisão pelo pecuarista, conforme sua programação. “A grande vantagens das ferramentas é que elas tiram da mão do produtor o peso da tomada de decisão. Ele recebe a decisão pronta com inteligência artificial. São algoritmos de precisão que tomam essa decisão e entregam para ele. Ele acompanha isso pelo telefone, por exemplo, pega no iPhone dele, tem informação de cada boi, cada monitoramento, cada pesagem, cada fluxo de informação e cada decisão, na hora que ele quiser”, complementou.

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A intensidade e o tipo de informação coletada elevam o nível de gestão do produtor, conforme sustentou Rodrigo. “O que a gente tinha até então? O ganho de peso do animal, o ganho médio diário. Mas agora eu consigo ter o lucro do animal. Perceba que agora mudou um pouco a conversa. Eu não estou conversando de peso, estou conversando de dinheiro, quanto ele vai dar de dinheiro. Isso que é importante. Então essa margem dos confinamentos, a margem de cada boi, do lote, da baia ou no pasto, na recria, o ponto ótimo do lucro desse animal, é isso que a gente busca, é isso que o pecuarista busca”, respaldou.

Ao passo que a tecnologia facilita a gestão e inclusive toma certas decisões, o produtor tem que estar preparado para calibrar as etapas de produção conforme recebe os indicadores. “Não é uma coisa só que resolve o problema. […] Quando a gente faz um planejamento nutricional, que vai envolver a gestão, o projeto, a nutrição, a chegada do boi no confinamento… para tudo isso o boi tem que ter nascido. Então a vaca tem que ter emprenhado. Na cria, já tem gente que trabalha fazendo um trabalho um pouco mais tecnológico, com programação fetal, ou seja, sabendo quanto de fibra muscular o boi vai ter lá no confinamento inclusive antes de ele nascer. Eu programo isso através da nutrição, através do manejo, da sanidade. […] Cada grama faz a diferença, e faz mesmo!”, constatou.

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“O boi não é uma máquina de produzir, é um ser vivo que a gente tem que saber como conduzir para produzir mais. Então em um um confinamento não é simplesmente colocar comida no cocho que vai comer e engordar, não. Ele tem o tamanho de partícula que ele come, ele tem nutrição adequada, o balanceamento, a qualidade da mistura é importante. Então todos são fatores que tem que ser levados em conta para que sobre dinheiro”, detalhou.

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Meirelles comentou que o momento é propício para o aporte tecnológico dentro da porteira. “Quando é que Noé construiu a barca? Antes da chuva! Então se a gente esperar chover ou esperar fazer seca ou esperar a arroba subir ou baixar… O que interessa é meu custo de produção. Se eu tiver ele controlado, eu só vou conseguir ganhar mais e mais dinheiro, independente do preço da arroba”, alegou.

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“Para fazer a pecuária do futuro, a gente tem que construir já agora no presente. […] E, para isso, tem que planejar, tem que estudar, tem que buscar profissionais que consigam interagir e fazer entender o que o homem do campo quer, o que o pecuarista quer para conseguir buscar esse lucro todo”, concluiu.

Meirelles colocou seu endereço eletrônico à disposição caso o produtor queira saber mais informações sobre as tecnologias citadas na entrevista. O contato pode ser feito pelo e-mail [email protected].

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Assista a entrevista completa com Rodrigo Meirelles no Giro do Boi desta quarta, 02: