A hora e a vez dos pequenos pecuaristas de Rondônia

Programa Selo Combustível Social promove uso de biodiesel produzido a partir do sebo bovino e gera conhecimento e renda para produtores familiares

Uma iniciativa que promove o uso de um combustível limpo, com menos emissões de poluentes, produzidos a partir de um resíduo e que ainda garante a integração de pequenos produtores na economia. Este é o resumo do Selo Combustível Social, da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead) e incorporado pelas indústrias do biocombustível.

O Selo é uma iniciativa de 2004 Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), instituído pelo então MDA, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, hoje a Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo, para a “implementação, de forma sustentável, tanto técnica, como econômica, da produção e uso do biodiesel, com enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional, via geração de emprego e renda”. Entretanto, foi apenas em 2015 que os pecuaristas puderam integrar o Selo Combustível Social, destinado até então a pequenos sojicultores. Ao perceber que o sebo bovino se consolidava como a segunda fonte mais relevante para a produção do biocombustível, o projeto passou a contemplar também os bovinocultores como forma de aumentar o estímulo à economia.

A partir de então, a JBS Biodiesel, em parceria com a Friboi, divisão de carnes da companhia, instituiu no estado de Rondônia um projeto piloto para gerar renda e conhecimento para pequenos produtores da região de São Miguel do Guaporé. O programa levou assistência técnica e consultoria gratuitas de agrônomos, zootecnistas e médicos veterinários especializados em reprodução para os pecuaristas familiares “visando melhoria de pastagens, gestão da propriedade, manejo do rebanho e melhoramento genético, com garantia de compra pela empresa”, divulgou à época a companhia.

Ao passo que fornecem matéria-prima para a produção de um combustível sustentável, os produtores aprendem sobre planejamento financeiro, têm garantia de venda de 100% do gado de corte, aprendem sobre opções de comercialização de seus animais e estão aptos a receberem premiação pela qualidade deste gado.

Segundo o diretor da JBS Biodiesel, Alexandre Pereira, que falou ao Giro do Boi desta segunda, 29, já são 323 famílias de 21 municípios no entorno de São Miguel do Guaporé-RO contempladas do programa. “A gente começou a fazer os contratos com o produtor a partir 2017. Nós já temos o Selo Combustível Social desde 2007, 2008, que foi o início do programa de biodiesel no Brasil. Porém o boi só foi incluído neste programa a partir de 2015 com uma portaria que o Ministério do Desenvolvimento Agrário, na época, implementou reconhecendo o boi como uma importante matéria-prima na produção do biodiesel. E nós desenvolvemos o projeto a partir de 2016. Em 2017 a gente começou a organizar os contratos, procurar os produtores, explicar como funcionava, o pecuarista ainda não conhecia o Selo Combustível Social, e o que ele poderia ganhar com isto. E ali começou a nossa história, a história do Selo na pecuária”, resumiu Pereira.

“É um projeto pioneiro. A gente começou lá em janeiro de 2017, agora em janeiro de 2019 nós fizemos dois anos. Os contratos que a gente realiza tem dois anos de duração, então agora em janeiro a gente começou a fazer a renovação dos contratos. E tanto se mostrou eficiente, os produtores estão contentes com a gente, que foram 99% deles que fizeram a assinatura do contrato novamente”, revelou.

Em 2019 serão 28 mil cabeças abatidas pelo programa e até o final de 2022 a empresa já tem 75 mil cabeças destes produtores contratadas. Os abates são feitos nas unidades da indústria no próprio município de São Miguel do Guaporé e também em Pimenta Bueno e Vilhena.

“Eles geralmente tinham prejuízo, inclusive por não estar fazendo trato de forma adequada. Trabalho eles sempre cultivaram, têm isso no sangue, mas quando você é bem orientado, as coisas mudam, e estão mudando para este pessoal que está com a gente […] sabendo a hora exata de fazer a cobertura, que o solo não está adequado para o pasto dele, a gente faz análise de solo quando entra na fazenda, faz um diagnóstico do que está ocorrendo na propriedade e o que pode ser melhorado”, explicou o executivo.

Em depoimentos, alguns dos produtores que integram o programa atestaram as melhorias em suas propriedades. “Todo dia de campo, independente do que seja, é bom. Porque eu sou daqueles que nasci aprendendo e vou morrer aprendendo”, disse o pecuarista Vanderlei Alberto, do Sítio Guarapuava, em São Miguel do Guaporé, após participar de evento sobre bem-estar animal dentro do programa Selo Combustível Social.

“Para ter noção, acabei de soltar ali 160 bezerras e novilhinhas e elas já sumiram de vista”, disse outro produtor em meio à pastagem recuperada com ajuda dos técnicos do programa.

“Entrei no projeto junto com eles no biodiesel fazendo melhoramento tanto na parte de engorda, como na parte leiteira. E estamos fazendo inseminação. A cada 60 dias ou conforme precisa os técnicos fazem visitas para a gente. […] E a gente vai melhorando a cada dia. Depois que eu aderi ao projeto eles estão dando assistência para a gente e a gente pode ir melhorando as condições dos animais, o trato, o manejo de pasto. A parte de inseminação também, o veterinário dá assistência sobre os medicamentos para a gente estar usando corretamente para melhorar a qualidade do gado, diminuir o gasto com os bezerros leiteiros”, celebrou o pecuarista Joed Palharin da Silva, do Sítio Boa Esperança, em São Francisco do Guaporé-RO.

Somente na parte da reprodução, já foram cerca de três mil protocolos de inseminação artificial aplicados para os pecuaristas do programa, confirmou o diretor da JBS Biodiesel.

“A JBS iniciou a sua produção de biodiesel justamente com o propósito de dar a destinação correta deste resíduo da cadeia da carne que é o sebo bovino. O biodiesel é uma solução inteligente por conta de que tira um resíduo que iria para a natureza e transforma em biocombustível, limpo, é muito mais eficiente na questão das emissões do que o óleo diesel fóssil, de petróleo, que ele substitui”, ressaltou.

“É um projeto que vai expandir e estamos fazendo conforme a nossa capacidade. […] A expansão vai acontecer à medida em que o nosso braço vai alcançando. […] E nós estamos indo conforme um planejamento que não extrapole os custos de produção porque nós temos que ser competitivos para vender este biodiesel no mercado”, estimou.

Para produtores interessados no programa, a lista de contatos é a que segue:
[email protected] ou (14) 9 9946 4379 / [email protected] (69) 99278 7030 / [email protected] ou (69) 9 9972 6500 / [email protected] ou (69) 9 9949 7556.

Veja a entrevista completa com Alexandre Pereira pelo vídeo abaixo: