Associação lança sumário de touros com índice para facilidade de parto

Segundo técnicos da Conexão Delta G, característica contribui especialmente para fazendas com ciclo de produção curto, que desafiam novilhas mais precoces à reprodução

O Sumário de Touros 2020 Hereford & Braford da Conexão Delta G apresentou neste ano uma novidade que pode incentivar os produtores a desafiarem suas novilhas à reprodução mais cedo. São 73 reprodutores avaliados para índice de facilidade de parto.

“Este ano estamos apresentando o Índice Facilidade de Parto a partir das características Auxílio ao Parto, Peso ao Nascer e Duração da Gestação. A facilidade de parto é uma característica especialmente importante em rebanhos de ciclo curto, onde a novilha é exposta à reprodução com uma idade muito jovem, o que pode potencializar problemas de parto. O impacto sobre a lucratividade do sistema ocorre pelo aumento da mortalidade dos terneiros bem como elevação dos custos veterinários. Além disso, a facilidade de parto afeta diretamente o intervalo entre o parto e o primeiro cio, já que vacas que necessitam auxílio ao parirem levam mais tempo para retornar ao cio. Com isto, a escolha dos reprodutores deve levar em conta, além das características de desempenho, a facilidade de parto, dada a sua influência nos indicadores de eficiência do rebanho”, consta na folha de apresentação do sumário.

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Nesta quinta, 15, o Giro do Boi levou ao ar entrevista com a médica veterinária e presidente do Conexão Delta G, a Patrícia Leal Wolf, para aprofundar o assunto. “Vaca tem que parir! Não adianta a gente ter todo o trabalho de escolher touro, fazer acasalamento dirigido, passar por diversas etapas e aí chegar na hora do parto e trancar tudo. Não tem como!”, sustentou Wolf.

A veterinária explicou o processo que levou à formatação do índice. “Uma das características que a gente seleciona na Conexão desde sempre é o peso ao nascimento. Só que o peso ao nascimento nem sempre explica uma vaca que tem a distocia. Então a gente, junto com o pessoal do Gensys, que é responsável pela análise dos nossos dados e confecção da avaliação genética, nós estudamos quais seriam as características mais envolvidas com problema de parto. A gente chegou nesse índice, que leva em consideração o peso ao nascimento, se teve assistência ao parto ou não – se a vaca pariu sozinha ou não, se precisou de algum tipo de ajuda -, e também a duração da gestação. Principalmente em comparação com animais cruzados, a vaca Nelore estende um pouco a gestação e o terneiro vai ganhando peso enquanto isso, então às vezes pode ser o suficiente para dar um problema lá na frente. Então a gente foi atrás, estudou, considerou e chegou ao índice de facilidade de parto”, contextualizou.

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Com a preocupação com a acurácia e qualidade dos dados divulgados, a decisão da Conexão Delta G com a Gensys limitou o uso das informações nesta safra. “Nós chegamos à conclusão de que neste primeiro ano, para ter mais confiabilidade no que a gente divulga, a gente vai só trabalhar com banco de dados das primíparas, tanto parindo aos dois anos – aos 24 meses – ou aos 36 meses, que é o mais comum aqui no Sul. Desse banco de dados que começou com 50 mil dados de avaliação e, no fim, chegamos a 14 mil dados mais consistentes, nós temos no Sumário 2020 da Conexão Delta G 73 touros com índice de facilidade de parto”, contabilizou.

+ Acesse aqui o Sumário de Touros 2020 Hereford & Braford da Conexão Delta G

A novidade no sumário da associação se soma a outros momentos importantes na linha do tempo da Conexão Delta G, fundada em 1993, mas cujo trabalho de seleção de seus fundadores remonta à década de 1970, conforme destacou Patrícia.

“A Conexão, na verdade, foi fundada em 1993, então ela tem quase 30 anos de coleta de dados como Conexão. Mas os rebanhos fundadores começaram o trabalho de melhoramento genético lá na década de 1970. Com os primeiros dados que foram coletados, os fundadores da Conexão já faziam melhoramento genético. Então essa é praticamente a nossa idade. É uma responsabilidade enorme que a gente tem de seguir fazendo este trabalho com bastante seriedade, com bastante comprometimento”, afirmou.

Ao todo a associação hoje reúne 18 empresas com rebanhos no Rio Grandes do sul, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Minas Gerais, coletando dados de 20 mil vacas ativas e a desmama de dez mil produtos/ano. Em toda sua história, a empresa tem 420 mil dados em seu banco. “A gente considera que é um trabalho bastante robusto para o Rio Grande do Sul. A gente tem um compromisso bem grande”, frisou.

Wolf contou em entrevista ao Giro do Boi os principais momentos da história do programa de melhoramento da associação.

“Os associados da Conexão têm um perfil pioneiro, um perfil inquieto, de estar sempre querendo buscar melhorias na pecuária. Então antes de 1985 a gente já fazia acasalamento aos 14 meses. Lá por 1986 foi quando começou a introdução do Braford dentro do programa de avaliação genética. […] Logo em seguida, por volta de 1990, evoluiu para DEP de Dias, que era um coisa que na época na pecuária de corte não existia muito, então esse foi um conceito que veio da avaliação genética de suínos, buscando não só peso, mas buscando velocidade, que desse eficiência para a produção. Em 1993, alguns os criadores de Nelore do Centro do País começaram a se interessar pelo trabalho de seleção que estava sendo feito aqui no Sul e, então, a Conexão abriu para selecionadores de Nelore começarem a participar junto conosco. Assim que o Ministério da Agricultura criou o projeto de CEIP, a Conexão foi pioneira. O nosso projeto de CEIP foi o número 2 do Ministério da Agricultura. […] A partir de 2001, veio uma das grandes conquistas que a gente tem na Conexão, que é um trabalho super pioneiro, […] que foi o projeto de seleção em cima da resistência ao carrapato. Desde 2001 nós coletamos dentro da Conexão dados de contágio de carrapatos, que é um gargalo de produção que a gente tem aqui no Sul e que a gente também ouve comentar que mais ao norte, no cruzamento com raças britânicas, também é um fato”, comentou a veterinária.

“A raça britânica tem N qualidades, mas ela é mais suscetível à infestação de carrapato”, reconheceu. “Então é muito importante, para manter o nível alto de produção, a gente liquidar os gargalos. Em 2001 começou a se coletar dados para resistência ao carrapato e em 2018 nós fizemos um projeto muito importante em parceria com a Embrapa, com apoio da Associação de Hereford e Braford, e aí a gente criou a seleção genômica para resistência a carrapato. É um projeto muito grande, é um projeto robusto e muito importante, que a gente se orgulha muito”, valorizou.

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Ainda em sua participação, a presidente da Conexão Delta G opinou sobre o sucesso recente do cruzamento industrial no Brasil. “O Hereford e o Braford têm capacidade de dar peso de carcaça muito grande, de ter uma boa cobertura de gordura. É um cruzamento que vem sendo muito bem aceito por esses programas de carne top de qualidade, que dão bons cortes, boas carcaças para exportação por causa do volume”, observou.

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Assista a entrevista completa com a médica veterinária e presidente do Conexão Delta G, a Patrícia Leal Wolf:

Foto: Reprodução / Conexão Delta G