Quando devo castrar meus bois e quais as vantagens para a minha fazenda?

Ferramenta necessária para a produção de carnes com valor agregado, castração traz benefícios paralelos, como evitar a sodomia e conservar as estruturas; saiba o que levar em consideração para decidir o momento ideal de realizar o manejo

Quais são os efeitos da castração em cada ciclo produtivo do boi dentro da fazenda? Que variáveis levar em consideração sobre produzir boi capão ou inteiro? O Giro do Boi desta terça, 03, respondeu às dúvidas enviadas por telespectadores levando ao ar uma entrevista feita com o médico veterinário André Souza, consultor da Planpec, mestre em ciência animal e pastagens pela Esalq/USP e doutor em nutrição e produção animal pela Unesp e Universidade do Colorado/EUA.

O veterinário relembrou uma mudança na demanda por carne de qualidade no início dos anos 2000 que fez com que muitos produtores tomassem a decisão de castrar seus machos, aprimorando o manejo desde então. “A castração passa a ser ferramenta necessária para se ter qualidade”, reforçou Souza.

60% dos consumidores preferem carne de boi castrado e cruzado

“Quando nos falamos em castração, temos que entender que ela leva a uma grande alteração. Eu altero a curva de crescimento desse animal, a composição de carcaça e, consequentemente, estou alterando a exigência nutricional. Assim, produz-se um produto totalmente diferente. Por isso a decisão de castrar deve ser tomada dentro dos objetivos que essa propriedade tem. Quais seriam: produzir quantidade ou qualidade? É possível ganhar dinheiro das duas formas, só que são dois sistemas de produção completamente diferentes”, analisou o consultor.

Este é, para o veterinário, o grande equívoco do pecuarista que decide castrar ou não os machos que cria. “E o grande erro do produtor, na maioria das vezes que nós fomos consultados, é que ele usava um sistema para produzir quantidade e castrava o animal, ou o inverso, buscava produzir qualidade com boi inteiro. Mas estas duas coisas não se encaixam”, diferiu.

André reforçou que há demanda pela chamada carne commodity, como para a produção de hambúrgueres e outros produtos de menor valor agregado. Para os pecuaristas que pretendem ganhar dinheiro suprindo esta demanda, Souza indicou a criação de animais inteiros e possivelmente o uso de raças continentais, que são mais musculosas que possuem excelente eficiência produtiva, embora de modo geral seja mais difícil imprimir qualidade à carne pela dificuldade de acabamento. O pecuarista deve levar em conta ainda a adaptação de sua propriedade para um sistema que preveja os efeitos da criação do boi inteiro. “Às vezes é um problema manejar o animal inteiro e eu preciso de alguns detalhes na minha estrutura”, acrescentou.

Mesmo jovem boi inteiro produz carne inferior

Já para o pecuarista que busca premiação para a entrega de animais que produzem carne premium, o veterinário delimitou que o perfil de produção deve ser de fêmeas jovens e machos castrados, sendo que  os bovinos de raças britânicas geralmente atingem a qualidade esperada de modo mais regular. Os machos castrados usados para esta produção alcançam mais facilmente a qualidade desejada por conta da diminuição do peso final quando adulto, por isso o acabamento de gordura na carcaça acontece antes, além de ter o diferencial da gordura marmorizada, ou intramuscular.

QUANDO CASTRAR MEUS BOIS?

Para os pecuaristas que decidirem castrar os animais, há algumas variáveis a serem levadas em consideração, como adaptações na nutrição e a idade para realizar o manejo.

Entre as vantagens da castração ao nascimento, estão a potencialização da qualidade da carne e também facilidades no manejo, conforme exemplificou o pecuarista Paulo Stedile, da Fazenda Saleiro Velho, de Bela Vista, no Mato Grosso do Sul. “Nós tínhamos um problema de acabamento dos machos na fazenda. As fêmeas estavam excelentes e os machos não davam acabamento, além de ter problema de aramado, estragar pasto e muito boi machucado. Até consultamos a empresa que nos vendia sêmen e falaram que talvez se baixássemos o frame do touro, poderíamos solucionar, mas podíamos perder qualidade e também prejudicar o peso das novilhas. Então falei pro meu filho para experimentar capar, já tem cinco anos que começamos a capar no dia que o bezerro nasce e é impressionante. Com quatro a cindo dias está tudo sequinho e não bicha”, contou Stedile.

Veja abaixo reportagem da Rota do Boi sobre a Fazenda Saleiro Velho:

Castração ao nascimento melhora acabamento na terminação

O pecuarista afirmou que tinha problemas ainda com garrotes enxertando as irmãs à desmama, entre oito e nove meses de idade, quando algumas fêmeas já acusavam prenhez, algo que foi completamente solucionado. “O resultado da fazenda é excelente. Estamos conseguindo vender novilhas em torno de 20 a 20,5@ com menos de dois anos e os machos com até 24,5@”, celebrou Paulo Stedile.

Calibrando a nutrição de seu sistema produtivo, o pecuarista corrigiu um dos principais pontos de atenção na castração ao nascimento, que é compensar a falta de hormônios testiculares produzidos na puberdade para o crescimento dos bovinos. “A castração ao nascimento tem essa grande vantagem do animal se recuperar muito rápido. A mãe ajuda lambendo”, ponderou o veterinário André Souza.

O consultor afirmou que o pecuarista pode optar por fazer a qualquer momento a castração desde o nascimento até antes de puberdade, desde que este momento não seja a desmama para não sobrepor fontes de estresse ao boi. Antes da puberdade, que chega por volta dos 250 kg em Nelore e 220 kg em cruzados, não há diferença do momento de castrar os animais porque nesta fase são outros hormônios, e não os testiculares, que influenciam o crescimento dos bovinos.

Já depois da puberdade, quanto mais o pecuarista “atrasar” a castração, mais efeitos de crescimento promovidos pelo hormônio testicular ele vai obter, chegando a crescer 12% a mais em relação aos machos castrados antes da puberdade, muito embora fique mais difícil ao longo do tempo assegurar a qualidade da carcaça produzida.

Para quem optar pela castração após a puberdade, Souza apresentou a seguinte conta que vale para diversos sistemas produtivos. “Eu digo que o pecuarista projete o peso de abate, tire 120 kg deste valor. Este é o momento que o animal tem que ser castrado porque é onde ele vai conseguir produzir carcaça de qualidade”, recomendou.

Em conversa com o apresentador Mauro Sério Ortega, o médico veterinário comentou ainda os efeitos de diferentes métodos de castração que podem ser utilizados, como a castração cirúrgica e a imunocastração, afirmando que quanto mais pesado o animal, mais ele pode sentir a perda de peso de uma castração na faca ou no burdizzo, problema que pode ser evitado com o uso da imunocastração.

“Nós temos pesquisas que mostram que o consumidor prefere e aceita pagar mais por esta carne. E o elo da indústria com o pecuarista tem que levar o produto de melhor qualidade para este consumidor, já que é ele quem sustenta a cadeia produtiva”, concluiu André Souza.

Veja abaixo a entrevista completa do consultor da Planpec ao Giro do Boi: