Chances de lesões em carcaças saltam de 13% para 140% com estruturas da fazenda em más condições

Pesquisadora da Apta destacou estudo recentemente publicado na revista científica Livestock Science; animais velhos têm mais chances de sofrer hematomas

O Giro do Boi desta quarta, 19, levou ao ar entrevista com a a pesquisadora Ivanna Moraes de Oliveira, graduada, mestre e doutora em zootecnia que atua pela Apta, a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo. Ela abordou a extensão da problema das lesões em carcaças bovinas no Brasil e sugeriu formas de amenizá-lo.

Ivanna listou como solução cuidados primários, como a lotação dos animais no caminhão (lotação abaixo da capacidade da gaiola pode fazer os animais perderem o equilíbrio), não misturar lotes para evitar disputas e até mesmo uma questão pouco lembrada pelo produtor: animais mais erados, como é o caso de marrucos e vacas de descarte, têm chifres maiores, o que, ao longo da viagem, provoca machucados em outros indivíduos do lote.

Até mesmo pela comercialização comum de vacas de descarte, geralmente mais velhas, esta é uma das categorias que mais sofrem com lesões em carcaças, lembrou Ivanna, salientando que é maior a chance de haver chifres longos. A comprovação veio em um estudo citado pela pesquisadora que foi recentemente publicado pela revista científica especializada Livestock Science.

Ivanna referiu-se ao artigo “Pre-slaughter factors affecting the incidence of severe bruising in cattle carcasses”, ou em tradução livre “Fatores do manejo pré-abate que impactam na incidência de hematomas graves em carcaças de gado”, publicado em abril deste ano pelo pesquisador João Restle, engenheiro agrônomo, mestre em agronomia na área de concentração em zootecnia e PhD em Ciência Animal, em conjunto com outros pesquisadores.

+ Acesse o artigo “Pre-slaughter factors affecting the incidence of severe bruising in cattle carcasses”

“Para você ter ideia, a partir dos dados deles, quando é feito tem um bom manejo, eles observaram que 80% das carcaças não apresentam lesão. […] Quando você tem uma condição boa de embarque, 75% do lote não vão apresentar lesão. […] Quando tenho a manutenção de uma instalação, como uma cerca, um curral, de um caminhão, que passa de boa para ruim, a probabilidade de acontecer um hematoma que era de 13% para aumenta para 140%. E a probabilidade de este hematoma ser severo, ou seja, ser grave, quando a instalação está com a manutenção boa e passa para ruim, aumenta de 76% para 174%”, destacou Ivanna entre as descobertas do estudo. “O caso é muito grave”, lamentou a zootecnista.

Entre as soluções propostas para evitar as lesões, Ivanna comentou os seguintes tópicos:

– Planejar o embarque com antecedência, tendo em mãos documentos necessários;
– Evitar colocar brinco nos animais no momento do embarque;
– Assegurar o acesso adequado dos caminhões aos currais, planejando-se com horário de chegada e saída dos veículos;
– Evitar estender o tempo do embarque para não estressar os animais;
– Evitar superlotação do curral;
– Estar em dia com as manutenções necessárias nas instalações, de modo a evitar porteiras quebradas e tábuas soltas, por exemplo;
– Manter o curral limpo, sem fezes, evitando escorregões e quedas;
– Promover treinamentos para funcionários;
– Contratar consultorias quando necessário;
– Visitar as instalações da indústria frigorífica para verificar o desembarque, as instalações que receberão os animais e eventualmente acompanhar o abate;
– Evitar misturar lotes;
– Evitar embarque de animais erados, que tenham chifres excessivamente longos, como vacas de descarte.

PUBLICAÇÃO DA APTA
Ivanna foi uma das pesquisadoras que editaram a obra “Entendendo o conceito boi 777”, livro lançado pela Apta em 2018. Na publicação, a zootecnista discorre sobre “Considerações sobre qualidade de carcaça do Boi 7.7.7”. Pelo link abaixo é possível fazer a aquisição do volume:

+ Livro “Entendendo o conceito – boi 777”

Veja a entrevista completa com Ivanna Moraes de Oliveira no vídeo abaixo: