Com “Boi Safrinha”, pecuarista antecipa abate e diminui custo de produção da @

De acordo com consultor, sistema viabiliza custo de R$ 140/@ contra R$ 200/@ na pastagem convencional; na BA, fazenda reduziu idade ao abate de 36 para 24 meses

O “Boi Safrinha” é uma das 152 tecnologias que causou “impactos econômicos, sociais, ambientais e institucionais” positivos que constam no Balanço Social 2020 da Embrapa. O sistema produtivo, que está se popularizando no Brasil, consiste no uso, dentro do período seco do ano, de áreas de agricultura das fazendas que fazem integração para produzir forrageira, engordando o gado e produzindo carne a baixo custo.

De acordo com a avaliação de impactos da tecnologia realizada pela Embrapa Cerrados (DF), o Boi Safrinha ocupou, no ano-safra 2019/20, 3 milhões de ha no Cerrado, ante 2,3 milhões de ha no ano-safra 2018/19”, consta na reportagem ““Boi safrinha” maximiza uso da terra e potencializa ganhos de produtores no Cerrado”, disponível pelo site da Embrapa.

Nesta quarta-feira, dia 28, um dos pesquisadores da Embrapa responsáveis pela consolidação do sistema produtivo do Boi Safrinha, o engenheiro agrônomo Lourival Vilela, mestre em ciências do solo, falou ao Giro do Boi sobre o sucesso da nova prática.

“A integração lavoura-pecuária veio com esse objetivo de maximizar o uso das áreas. Eu sempre falo que a integração lavoura-pecuária é como uma carteira que você investe na bolsa: você tem ações de alto risco e ações de baixo risco. As de alto risco normalmente são as culturas de grão, de sequeiro, claro, e o boi é uma atividade de baixo risco. A gente conhece o passado do Brasil, a gente passava os animais durante seis meses de seca em pasto de baixa qualidade, então é um sistema robusto. Mas um dos maiores prazeres que os nossos pecuaristas têm é observar e ver seus animais bem criados dentro da sua propriedade, então havendo esses sistemas em que você permite ter uma produção de forragem ao longo do ano todo, puxa, não sei por quê não adotar um sistema desse”, sustentou.

Área total com sistemas integrados no Brasil salta para 17 milhões de hectares

Com os números apurados apontando o crescimento da adoção do sistema, tudo indica que o pecuarista pensou da mesma forma que o produtor. “Quem fez o dever de casa no passado ganhou muito dinheiro esse ano com boi. E agora está todo mundo querendo fazer, muita gente liga para mim e pergunta como começa a fazer esse sistema”, revelou Vilela.

Um dos exemplos de propriedade que tiveram sucesso com o sistema Boi Safrinha e que ganhou comentários de Lourival Vilela em sua participação no programa desta quarta-feira foi a Fazenda Triunfo, localizada em Formosa do Rio Preto, na Bahia, onde a prática é adotada há uma década, ocupando hoje uma área de quase cinco mil hectares. Na propriedade, tudo começou com a busca da forrageira pela palhada, que logo virou oportunidade de transformar o capim em safrinha de carne.

Já nos primeiros cinco anos de sistema, a propriedade observou redução da idade de abate em um ano, de 36 para 24 meses, e também aumento de quase 30% no peso médio da carcaça, saltando de 202 para 261 kg.

A soja também foi beneficiada pelo consórcio, saindo de uma produtividade de 54 sacas por hectare antes da integração com capim para 67,5 sacas por hectare logo após a implantação da técnica e chegando atualmente a uma média de 72 sacas por hectare, atingindo até um pico de 82 sc/ha em 2017/18.

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Lourival projetou o potencial que o sistema tem para aumentar a produtividade tanto da agricultura como da pecuária conforme sua disseminação por mais fronteiras agrícolas brasileiras. “Nós temos no Brasil uma área de milho, tanto safra e safrinha, de cerca de 19 milhões de hectare, são ainda 38 milhões de hectares de área de soja e na parte de pastagem nós temos os números são um pouco contraditórios, mas vamos ficar com cerca de 160 milhões de hectares. Nós podemos dobrar a nossa produção sem desmatar um metro quadrado, só intensificando a nossa produção nessas áreas. Quem tem essas condições no mundo? Somos nós!”, exaltou Vilela.

Na supracitada reportagem da Embrapa, o médico veterinário e consultor de agronegócios William Marchió destacou outro benefício ainda do sistema boi safrinha, que é a redução do custo de produção da arroba para o pecuarista. “O fato de haver uma gramínea no sistema diminui a ocorrência de pragas e doenças e aumenta o teor de matéria orgânica do solo. A fertilidade do solo fica bem conduzida e quem se dispõe a ter gado produz uma arroba muito barata (por R$ 120 a R$ 140, contra R$ 200 na pastagem convencional)”, ressaltou Marchió em depoimento à Embrapa.

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Em algumas das propriedades, a prática tem tido impactos positivos também na reprodução, antecipando o período de desafio das matrizes para fazer a chamada estação de monta invertida. Nesta opção, o criador começa o período reprodutivo da fazenda em maio, auge da produção de forragem no sistema Boi Safrinha, quando as matrizes acabam não perdendo peso e, portanto, aumentam as chances de uma prenhez positiva. Na outra ponta, por conta de nascerem no começo da estação seca do ano seguinte, os bezerros têm menor taxa de mortalidade.

PRODUÇÃO DE SILAGEM

Ainda durante a entrevista com Lourival Vilela, o Giro do Boi exibiu vídeo gravado pelo pesquisador da Embrapa Cerrados Luiz Adriano Maia Cordeiro, agrônomo, mestre em produção vegetal e doutor em manejo de solos em que ele mostra o momento da colheita do milho para silagem em área consorciada com capim.

“Aqui nós temos um exemplo do uso do milho para produção de silagem na integração lavoura-pecuária voltado especificamente para pecuaristas, em que produtor que faz o cultivo da silagem todo ano em uma área exclusiva da propriedade, que faça esse cultivo de forma rotacionada na fazenda e, dessa forma, a cultura agrícola vai ajudar a amortizar os custos de recuperação ou renovação das pastagens. Desta forma, o produtor não deixa de produzir a sua silagem, que será importante para época seca, e ao mesmo tempo terá sempre pastos novos na propriedade. Isso porque para fazer o cultivo do milho, se faz necessária a calagem, eventualmente a gessagem, a adubação da cultura. E esses insumos serão reaproveitados pela pastagem subsequente quase que a custo zero porque foram pagos pela cultura agrícola e incorporados os custos de produção da cultura agrícola. Nesse caso específico, nós temos o cultivo do milho consorciado com o Panicum maximum cv. BRS Tamani, que é uma cultivar de Panicum de baixo porte e de alto desempenho. Observa-se que o desenvolvimento do milho e da forrageira aconteceu de forma simultânea e sem prejuízo nenhum para o desempenho e a produtividade do milho. Após 30 a 40 dias da colheita da silagem, esta área estará pronta para pastejo em condições de alta capacidade de suporte com uma lotação muito maior e uma produtividade carne e de leite muito superior às pastagens já em algum estágio de degradação”, destacou Cordeiro.

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Confira pelo vídeo a seguir a entrevista completa com Lourival Vilela e ainda o vídeo enviado pelo pesquisador Luiz Cordeiro.

Foto: Reprodução / Embrapa