Com pastejo rotatínuo, fazenda de cria em MT saltou de 1 para 3,7 UA/ha

Propriedade reservou piquete para o pastejo rotatinuo e aumentou lotação de 40 para 140 vacas com cria em área de 37 hectares; entenda o conceito e as vantagens da técnica

Nesta quinta, 27, o engenheiro agrônomo Edicarlos Damacena de Souza, professor da Universidade Federal de Rondonópolis-MT, falou ao Giro do Boi o que é e como implementar o pastejo rotatinuo.

Conforme lembrou o agrônomo, o conceito derivou da tese defendida pelo professor Paulo Carvalho, da USP. Em suma, a técnica visa entender primeiramente os hábitos dos bovinos para então ajustar o pasto para uma ótima taxa de ingestão da forrageira.

PASTEJO ROTATINUO: CONCEITO

Em seguida, Souza detalhou o que é pastejo rotatinuo. “É uma forma de entender manejo de pasto que não se baseia no pasto. Ele se baseia no comportamento de ingestão dos animais”, disse.

De acordo com Edicarlos, os experimentos começaram a ser feitos no Rio Grande do Sul com forrageiras subtropicais de de clima temperado. Contudo, os testes avançaram também para variedades de uso mais frequente no Brasil. Como, por exemplo, Piatã, Marandu, Piatã, Paiaguás e Ruziziensis entre as braquiárias e Mombaça, Zuri e Tamani entre os panicuns. Além disso, espécies como milheto e sorgo também participarem dos testes do pastejo rotatinuo.

Logo depois, os estudos migraram para Mato Grosso, na Fazenda São Gabriel, em Pedra Preta. Em uma certa área, a propriedade criava 40 vacas com cria em um piquete de 37 hectares, ou seja, uma lotação de 1,08 UA/ha. “Então nós começamos a conversar com o pecuarista, mostrando que era possível intensificar mais essas áreas. Nós coletamos solo, fizemos uma boa amostragem, deixamos o solo no padrão ideal para receber a cultivar ali que nós usamos (Piatã)”, lembrou Souza.

Assim, a área passou por divisão em dois piquetes (20 e 17 hectares, respectivamente). “Colocamos o bebedouro e o sal no meio e começamos com 90 vacas. Ele começou a manejar, observou que estava sobrando pasto, elevou para 120 até chegar a 140 vacas”, destacou o professor. Logo, a lotação saltou para 3,78 UA/ha.

VANTAGENS

Segundo Edicarlos, o pecuarista se adaptou rapidamente ao ritmo do pastejo rotatinuo. Isso porque como leva em consideração o comportamento natural do gado, os próprios animais facilitam o deslocamento entre os piquetes. “Atualmente ele conseguiu elevar a taxa de lotação a patamares bem superiores ao que ele tinha na fazenda e à média do estado”, enalteceu.

Acima de tudo, o pastejo rotatinuo viabiliza o aumento do desfrute. Ainda assim, existem benefícios paralelos. Nesse sentido, como o produtor reuniu vacas com cria de outros piquetes para lotar na área do experimento, outros pastos começaram a folgar. Isso facilita, por exemplo, a reserva de pasto para a estação seca.

Além disso, Edicarlos observou que o consumo de sal mineral e de outros suplementos foi menor no pastejo rotatinuo. “O gerente da pecuária observou uma redução no consumo de suplemento. Nem só de sal, mas de suplemento proteico energético. Isso acontece porque o animal começa a comer um alimento de qualidade superior. […] Então, se o animal está comendo ponta de folha, ele está ingerindo a quantidade de nutrientes que ele precisa”, disse em resumo. Em outras palavras, como o pasto vem de um solo bem corrigido, ele supre melhor as exigência das vacas com cria.

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VERSATILIDADE

Posteriomente o professor lembrou ainda que a técnica do pastejo rotatinuo pode abrigar qualquer categoria animal. Dessa forma, Edicarlos salientou que a quantidade de nutrientes que o gado ingere é superior ao sistema tradicional. “A cada bocado que o animal dá no pastejo rotatínuo, no Marandu, por exemplo, ele capta 1 grama de matéria seca. Num rotacionado clássico, ele capta 0,672 grama”, acrescentou.

Como resultado, o animal consome, então, 30% a menos nutrientes no sistema tradicional. “Nós estamos falando de um animal que dá de 20 a 30 mil bocados por dia. Isso começa a fazer a diferença entre o pastejo rotatinuo e os sistemas clássicos”, analisou.

CONTATO

Em conclusão, o agrônomo disponibilizou os contatos da Aliança SIPA, da qual faz parte, para os produtores que têm interesse em testar o pastoreio rotatinuo. Acesse aqui o portal da Aliança SIPA ou então o perfil do Instagram.

Por fim, assista a entrevista completa de Edicarlos Damacena de Souza:

Foto: Francine Damian / Reprodução Facebook