Como distribuir as variedades e aproveitar o melhor de cada capim na fazenda?

Pesquisador da Embrapa deu dicas sobre como usar o todo o potencial oferecido por Panicuns e Braquiárias e recomendou “uso estratégico do Andropogon” no Cerrado

Qual o capim mais adequado para a fase de engorda ou de cria? Que forrageira serve para usar em regiões que sofrem com a seca mais severa ou com encharcamento temporário do solo? Nesta sexta, dia 28, durante reportagem da série especial Embrapa em Ação gravada na unidade Cerrados, o pesquisador Gustavo Braga, zootecnista e doutor em ciência animal e pastagens, listou alguns dos direcionamentos importantes para o pecuarista escolher as variedades de capins e distribuir seu uso de acordo com os objetivos e potenciais de cada uma.

O pesquisador ponderou que embora o aumento do leque de opções de forrageiras seja benéfico para o produtor, a complexidade da atividade cresce proporcionalmente. “Eu acho que desde os últimos cinco anos a gente vive um novo momento em termos de disponibilidade de novas cultivares de forrageiras tropicais. É claro que isso, de imediato, a gente vê como um benefício para a pecuária nacional como um todo. É isso que a Embrapa procura por meio de seus programas de melhoramento, aumentar a diversidade de forrageiras e oferecer diferentes características para o pecuarista. Mas esse aumento no número de cultivares é óbvio que também traz uma dificuldade adicional para o pecuarista, que é justamente na hora de escolher esses materiais”, analisou.

MELHORES CAPINS PARA ENGORDA

“O sujeito que está fazendo a terminação está querendo intensificar a velocidade de engorda desses animais numa alta taxa de lotação, girar rápido e fazer a pecuária de ciclo mais curto para rentabilizar em cima disso. […] É mais fácil ele chegar nesse resultado se ele utilizar plantas forrageiras mais produtivas, como no caso dos Panicuns, dentre os quais eu posso citar como exemplos as cultivares Mombaça e Tanzânia, mais antigas, mas a gente tem cultivares mais novas, mais modernas, que são o Zuri, Quênia e Tamani. O diferencial do Tamani é que ela é uma planta de porte mais baixo e de manejo mais fácil. E a gente sabe da dificuldade de manejar Panicum, porque é uma planta mais exigente em fertilidade do solo. A gente sempre recomenda fazer subdivisão de piquetes e manejar esse gado em lotação rotacionada, porque ajuda no manejo da planta. Então, ao utilizar o Panicum, você tem essas exigências adicionais no manejo da planta, mas se você seguir toda a recomendação, ele vai te dar uma produção mais alta e isso vai te favorecer no aumento da engorda desses animais”.

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RECRIA

“Para A recria você pode utilizar um espectro maior de plantas forrageiras, então você pode incluir as braquiárias, que também são responsivas à adubação, que também são bastante produtivas, mas não necessariamente precisam de uma velocidade muito acentuada de crescimento dos animais. Claro, seria ideal você encurtar o período de recria e, para isso, você pode também intensificar esse momento utilizando forrageiras mais produtivas, como o Panicum”.

CRIA

“E para a cria, por conta da natureza da atividade, que você vai precisar de um alimento no pasto para a manutenção da vacada e você pode abrir ainda mais o leque de plantas forrageiras, utilizar plantas menos exigentes, que não vão produzir tanta forragem como para um sistema de ciclo completo ou para o sistema que foca exclusivamente em cria ou recria. Para esses sistemas de cria, em que você tem que alimentar a vacada, braquiária menos exigentes, como a Paiaguás, como a própria Marandu, ou plantas mais antigas, como a própria Decumbens, servem bem a esse propósito. E também o Andropogon”.

USO ESTRATÉGICO DO ANDROPOGON

De acordo com o pesquisador, apesar de ser menos cultivado na comparação com variedades do gênero Brachiaria ou Panicum, o Andropogon tem um papel importante a desempenhar na pecuária desenvolvida no Cerrado. É um planta que não é a mais cultivada atualmente, se a gente comparar com Brachiaria e Panicum, por exemplo, mas ela tem um papel fundamental em áreas de Cerrado porque é uma planta que vai ter uma tolerância bastante acentuada ao período da seca, e a gente sabe que tem regiões de Cerrado com seca forte e prolongada, quando muita planta morre e você tem que reformar o pasto. E o Andropogon tem essa capacidade de enfrentar o período da seca sem morrer. Não que o sujeito vá ter que plantar Andropogon na fazenda inteira, a gente faz uma recomendação de fazer o uso estratégico do Andropogon e cobrir 30%, 40% da propriedade dele com essa planta, com Andropogon. O inconveniente é a dificuldade de manejo, pois ela é uma planta de porte mais alto e que se o manejo não for muito bem feito, ela envareta, cresce haste e aí dificulta o consumo dos animais Então é uma planta difícil de lidar, mas que tem esse benefício da questão da seca”, comentou.

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“E uma outra vantagem do Andropogon: no período de transição das águas para o período da seca, que é um momento de déficit de forragem muito grave na propriedade, em que os pastos de Brachiaria e de Panicum ainda não começaram a rebrotar, o Andropogon é o primeiro que começa a rebrotar na fazenda. Ele tem essa capacidade, com menos água ele começa a rebrotar. Então é uma planta importante pra você incluir no rol de forrageiras da sua propriedade, para compor toda a forragem que vai alimentar o rebanho”, frisou.

ÁREAS ALAGÁVEIS

“A planta que é adaptada para essas condições, áreas de alagamento – não é alagamento permanente, mas temporário – é a Brachiaria humidicola, que é uma espécie de braquiária bastante rústica, pouco exigente em fertilidade do solo que vai bem para essas situações, Embora seja uma planta que tem um desenvolvimento mais lento no plantio. Ela é de baixa produtividade e não tem uma qualidade muito boa em termos de valor nutritivo, então o pecuarista tem um certo receio, justamente porque ela não vai resultar num desempenho satisfatório dos animais. Mas ela cumpre bem esse papel porque ela tem essa tolerância ao encharcamento”.

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DISTRIBUIÇÃO DE VARIEDADES NA FAZENDA

“Esse mais ou menos é um cenário que a gente costuma recomendar para compor as forrageiras da propriedade: Uma área menor com Panicum, porque é uma planta bastante produtiva, cujo uso vai ser bastante concentrado no período das águas. Um pasto de Brachiaria, que vai ter que ter porque é uma planta versátil, bastante importante em qualquer sistema de produção, que inclusive você pode estender o uso dela para o período da seca. E o pasto de Andropogon, rústico, resistente a cigarrinha, bruto, que tem todas as qualidades mencionadas, e você pode inclusive colocar ele na área de pior fertilidade da sua fazenda”, concluiu Gustavo Vargas.

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Clicando no play a seguir é possível assistir na íntegra a reportagem da série Embrapa em Ação:

Foto: Rodrigo Carvalho Alva / Reprodução Embrapa