Como funciona o processo de clonagem em bovinos?

Pesquisador da Embrapa explicou como funciona a técnica da clonagem de bovinos e como as pesquisas podem popularizar seu uso para mais pecuaristas

Um episódio da série especial Embrapa em Ação contou alguns detalhes do processo de clonagem em bovinos, como o que é necessário e até quanto tempo após um animal falecer um clone pode ser feito.

Antes de mais nada, o pesquisador da Embrapa Cerrados Carlos Martins explicou que o processo é uma transferência nuclear. “É uma ferramenta de reprodução assistida que se usa principalmente na pecuária para multiplicar animais de alto valor genético e/ou alto valor financeiro que já receberam prêmios e merecem estar no rebanho”, disse em suma.

Além disso, a técnica pode ser usada para multiplicar animais de conservação, como espécies silvestres, e criar animais transgênicos, chamados de biofábricas, que produzem proteínas de interesse humano no leite através da clonagem, por exemplo.

Conforme detalhou Martins, médico veterinário, mestre em reprodução animal e doutor em ciências biológicas, o processo é complexo e ainda não é uma tecnologia completa.

PASSO A PASSO

“Em primeiro lugar, deve-se identificar o animal superior, coletar o material (seja da pele, do tecido adiposo ou outras áreas que tenham células. Depois disso, extrair célula desse animal, fazer um banco de células e congelar para que a gente aplique nesse procedimento […], que nós chamamos de transferência de núcleos”, disse o pesquisador.

Em seguida, o veterinário apontou que tem uma primeira etapa em que se retira o núcleo de um ovóstulo. “O ovócito, ou óvulo, pode ser de qualquer animal. A gente só vai usar o citoplasma no chamado processo de enucleação. Depois disso, nós fazemos o processo de reconstrução. Aí sim com o material genético do indivíduo a ser clonado”, detalhou.

“Então a reconstrução nada mais é do que colocar essas células cultivadas da vaca ou do touro de excelência dentro desse óvulo que já não tem mais material genético”, disse em suma.

Na sequência, continuou o pesquisador, há outros procedimentos para incorporação definitiva do material genético através de eletrofusão, ou pequenos choques, e ativação química desse ovócito. “Depois ele vai para um procedimento como é o normal de fecundação in vitro, dentro das estufas de gás carbônico. E lá o embrião se desenvolve até se transformar num embrião transferível para vacas receptoras de embriões. Aí o processo é normal até o nascimento do animal”, concluiu.

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A CLONAGEM DE BOVINOS PODE SER FEITA EM ATÉ QUANTO TEMPO?

Enquanto isso, a médica veterinária Jéssica Maresch, que concluiu tese de mestrado pela Universidade de Brasília, respondeu uma dúvida dentro do processo de clonagem de bovinos. Até quanto tempo após o animal morrer é possível coletar material genético para a clonagem?

Em suma, veterinária explicou o passo a passo de sua tese. “Nós coletamos a orelha de vários animais no momento do abate e preservamos essas orelhas durante 30 dias dentro de uma geladeira, que é o eletrodoméstico que as pessoas têm em casa e têm na fazenda. Porque também a gente tem um país com proporções continentais, então muitas vezes o animal falece, vem a óbito numa fazenda que está muito longe do laboratório. Então o nosso objetivo foi também simular um transporte desse material da fazenda até o laboratório. E nós conseguimos! Depois de até 30 dias do óbito foi possível recuperar o material desses animais. As células que nós cultivamos foram da pele e a gente viu que até um mês depois que o animal morreu, mantendo essa orelha a 5º C, é possível recuperar material”, elucidou.

APLICAÇÃO PRÁTICA

Em conclusão, a veterinária exemplificou algumas das aplicações práticas da técnica de clonagem de bovinos. Foi o exemplo do resgate de uma linhagem Sindi desenvolvida pela Embrapa que estava se perdendo no tempo. A coleta do material foi feita pela Embrapa de Pernambuco e, ao todo, o material genético de 19 animais foi coletado. “Foi uma forma de preservar essa linhagem excelente de animais que foi produzida pela Embrapa e estava se perdendo. A gente conseguiu recuperar. São animais que ainda estão vivos, mas são muito velhos, estão idosos, então a gente conseguiu esse material que está guardado em nossos botijões para futuro uso justamente na clonagem”, ressaltou.

MAIS PESQUISAS

Por último, Carlos Martins disse que a técnica deve continuar a ser tema de pesquisas para que se torne cada vez mais acessível ao produtor, uma vez que há demanda. “O mercado está pedindo, mas não é uma ferramenta barata, ou um procedimento de reprodução barato ainda. Porque ela não é tão eficiente como uma inseminação artificial, como a fecundação in vitro. É por isso que a gente estuda o processo no laboratório. Então essa ideia de melhoria, da eficiência, vai se transmitir lá no campo, o que vai diminuir o valor da tecnologia”, ponderou.

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Por fim, assista a reportagem completa sobre clonagem de bovinos pelo vídeo abaixo