Como identificar e combater a mastite na minha fazenda?

Veterinária afirmou que saber a origem da infecção ajuda produtor a ajustar para o manejo adequado; prejuízo com a doença pode chegar a US$ 184 por vaca ao ano

Como saber se a sua vaca leiteira está com mastite, qual a fonte da infecção e como corrigir o problema? Estas perguntas fazem parte do dia a dia do produtor de leite, uma vez que esta contaminação e umas das principais responsáveis pela redução de produtividade nestas fazendas. O prejuízo, de acordo com um estudo de 2013 publicado por pesquisadores Departamento de Ciências de Laticínios da Universidade do Wisconsin-Madison, chega a até US$ 184,4 por vaca ao ano (veja tabela abaixo).

Nesta quinta, 26, a médica veterinária Vanessa Masson, gerente técnica da MSD Saúde Animal, trouxe em entrevista dicas de identificação e controle da mastite por meio de prevenção e também de tratamentos.

Masson alertou que, geralmente, a conta do prejuízo com a mastite geralmente não é feita pelo produtor, e é daí que derivam os problemas. Afinal, de acordo com a veterinária, o produtor não tem apenas problemas com o descarte do leite durante o período de uso de antibióticos, como também na redução de produtividade das fêmeas ao longo de toda a lactação e até pelo restante de sua vida.

Vanessa revelou que existem mais de 100 bactérias que podem causar a mastite. “A bactéria, se ela não for combatida, ou então até que ela consiga ser combatida pelo antibiótico, o sistema imune da vaca vai estar tentando acabar com aquilo. Então acaba com a bactéria, acaba também com a célula que produz leite e, durante aquela lactação, aquela célula que produz leite não volta mais a produzir. Este é o grande prejuízo que a mastite deixa, porque geralmente as vacas que têm mastite são vacas de alta produção, em início de lactação, ou seja, ela tem todo aquele restante da lactação para estar produzindo, para estar deixando ali a sua produtividade, com a sua genética e todo o manejo oferecido, mas ela deixa de produzir por realmente ter tido essa infecção”, afirmou.

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Uma vez que a vaca teve mastite em alguma de suas lactações, ela fica mais propensa a ter a doença novamente, ao passo que quanto mais a cura demora para ocorrer, menor a chance da vaca desempenhar tudo o que ela poderia, informou Vanessa.

Masson explicou que são dois os tipos de mastite, a ambiental, geralmente mais aguda, quando a vaca se infecta por um agente em seu ambiente e, para estes casos, a forma subclínica da doença não é comum; e a contagiosa, quando a transmissão da infecção ocorre de animal para animal, por exemplo, durante a ordenha. Neste segundo caso, é mais comum ocorrer a forma subclínica da doença, um perigo ao produtor que não enxerga a olho nu nenhum problema de saúde com as vacas.

Masson destacou que quando o produtor identifica um caso da mastite clínica em sua propriedade, é muito provável que há muito tempo ela já venha perdendo em desempenho – e dinheiro – com a mastite subclínica. E esta forma da infecção, segundo a veterinária, é ainda mais difícil de fazer o tratamento. Estima-se que para cada caso de mastite clínica em uma fazenda de leite, haja entre 20 e 40 casos de mastite subclínica.

Curiosamente, Vanessa sustentou que embora haja toda a possibilidade de tratar e recuperar vacas com a mastite, uma vez que a infecção é identificada o foco deve ser para os animais sadios. “O bom trabalho de qualidade do leite é focado no animal que está sadio, com medidas preventivas, tanto no ambiente onde elas ficam quanto nos procedimentos de ordenha, na rotina de ordenha, na forma como a gente vai lidar no dia a dia com estes animais. Tudo isso vai fazer uma grande diferença no final”, declarou.

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A prevenção da ocorrência varia entre casos e entre propriedades. Segundo a veterinária, é possível que haja casos em que a higiene e o conforto das vacas a pasto seja maior do que em sistema de free stall ou compost barn. Daí a importância de se analisar caso a caso. “O negócio é ver realmente se as vacas estão tendo boas condições e onde estão se deitando”, disse.

Outra parte importante da contenção da mastite é saber em que momento as vacas estão sendo acometidas pela infecção e correlacionar às causas. Por exemplo, se as fêmeas apresentam mastite logo no início da lactação, é provável que a mastite tenha origem no período seco, ou seja, com o piquete ou o local em que as vacas ficaram entre lactações. A veterinária ponderou que muitas vezes as vacas leiteiras são destinadas aos piores locais da fazenda neste período, além de receber menos atenção.

De outra forma, caso a mastite esteja se manifestando do meio para o final da lactação, pode ser um sinal de que a contaminação esteja ocorrendo na ordenha. Então a estratégia de contenção deve incluir, por exemplo, reforço da higiene nas rotinas de ordenha, com uso do pré-dipping e pós-dipping.

Outra parte importante do combate à mastite, segundo a gerente técnica da MSD Saúde Animal, é o produtor conversar com seu veterinário, seu consultor, para elaborar protocolos de tratamento. A busca pela identificação da mastite deve ser feita em todas as ordenhas com uso da caneca de fundo preto para observar a existência de infecção. Masson recomendou também que os medicamentos devem sempre estar à disposição na fazenda para que o tratamento seja feito o mais rápido possível.

Veja os detalhes da identificação, prevenção e combate à mastite na entrevista abaixo com Vanessa Masson:

 

Foto: Humberto Nicolini / Reprodução Embrapa