Como induzir o cio das éguas com luz artificial e produzir o “potro do cedo”?

Assim como o bezerro, potro que nasce no cedo é mais valorizado, sobretudo no mercado das competições esportivas equestres, revelou veterinário

Quando os dias começam a ficar mais longos, indicando que o ambiente está mais propício para alimentar o filhote, as éguas começa a ciclar e entrar em período fértil. Entender essa dinâmica e até certo ponto manipular as condições é essencial para o criador produzir o “potro do cedo”, que tal qual o bezerro do cedo, é mais valorizado pelo mercado.

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Este foi o tema central de mais um conteúdo da nova série especial do Giro do Boi dedicada ao manejo da tropa da fazenda. Quem explicou o assunto foi o médico veterinário consultor em equinos Mário Duarte.

“Nós precisamos entender da fisiologia das éguas para a gente alterar um pouquinho o ambiente delas e fazer com que elas deem cio o mais cedo possível dentro da temporada de monta. Isso deve ocorrer para que os nossos potrinhos também nasçam o mais cedo possível dentro dessa estação de monta e aí eles possam ser mais competitivos depois, quando eles forem para a prática do esporte. E esses animais normalmente costumam ser mais valorizados quando são comercializados em leilão”, destacou.

Duarte explicou a dinâmica da relação entre luminosidade e o período fértil das éguas. “A natureza conferiu essa característica para ela sempre parir no verão, quando há mais disponibilidade de alimento. Nessa época, nós temos calor, luz, chuvas, então nós temos pastagens. Existe um mecanismo intrínseco da água que faz com que ela apenas dê cio durante primavera e verão, e aí nós temos recursos para fazer com que ela cicle, com que ela dê cio o mais cedo possível dentro da temporada”, revelou.

A indução, segundo o especialista, é feita por meio de luz artificial. “A maneira que a gente faz isso é aumentando o ‘comprimento do dia’. Quer dizer, oferecendo luz para o animal num período acima de 14 ou 15 horas, sendo o ideal 16 horas. Mesmo que o dia escureça, nós oferecemos ainda mais algumas horas de luz e isso é o suficiente para estimular a parte reprodutiva da égua. Em média leva 56 dias para uma égua sair de uma fase de anestro e passar para uma fase ciclante”, estimou.

Portanto, para fazer com que a égua entre em estro no período desejável, a luz artificial deve começar a ser introduzida no manejo cerca de dois meses antes. “Se são 56 dias, a gente arredonda para dois meses. Dois meses antes de começar a temporada, eu ponho as éguas na luz, em 56 dias elas vão estar ciclando. Quer dizer, se eu comecei dois meses antes da temporada, quando eu começar a temporada eu tenho todas as minhas éguas ciclantes, eu já posso cobri-las e aí eu vou ter os meus potrinhos todos nascendo cedo dentro da temporada de monta”, esclareceu.

Os potros nascidos no cedo ganham competitividade nas provas, uma vez que estão mais desenvolvidos que seus concorrentes da mesma idade que porventura tenham nascido mais tarde.

Duarte explanou como o fornecimento de luz artificial para éguas é feito na prática. “O ideal é que a égua vá para uma cocheira 4×4 com uma lâmpada de 100 watts daquelas incandescentes, antigas, ou então uma lâmpada moderna de led, mas com luminosidade equivalente. E ela deve ficar no máximo a 1,5 metro dos olhos da égua e para a gente ter certeza que ela está recebendo esta luz”, orientou.

Para se certificar de que a técnica surta efeito, Duarte ensinou um macete. “Nós precisamos levar um jornal para dentro da baia e temos que ser capazes de ler esse jornal em qualquer canto. Nós temos que ter luz suficiente para fazer essa leitura. Esse é o macete!”, contou.

“Outra opção (de uso de luz artificial) é em comedouros. Quando as éguas estão habituadas a comer em comedouro, nós colocamos ali um volumoso que ela leva tempo para comer. Por exemplo, um feno. Em cima ela vai ter lâmpadas que fornecem luz suficiente para dar esta luminosidade que nós precisamos e elas vão ficar ali mais ou menos das 5h30 da tarde antes de escurecer até 10h da noite. É o suficiente”, acrescentou.

“Outra opção ainda é fazer o que nós chamamos de paddock, que é colocar esses animais em um piquete pequeno com refletores instalados e que forneça essa mesma quantidade de luz, com esse macete de a gente ler um jornal em qualquer canto”, concluiu.

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Assista a entrevista sobre a dica de reprodução de equinos com Mário Duarte no player abaixo:

Foto: Reprodução / ABQM