Criador, saiba como aumentar a taxa de prenhez das vacas de primeira cria

Por ser a categoria que carrega a melhor genética de todo o plantel, primíparas devem contar com a atenção do pecuarista para facilitar a reconcepção

Ela carrega consigo a melhor genética de todo o seu rebanho, mas ainda sofre para poder multiplicá-la. É o caso das primíparas, vacas que são frutos da genética de “última geração” da sua fazenda, mas que passam por dificuldades para obter bons índices de prenhez no Brasil. Em entrevista ao Giro do Boi desta quinta, 10, o mestre em ciência animal e doutor em zootecnia João Benatti, gerente de produtos para ruminantes da Trouw Nutrition, explicou como o criador pode aumentar a taxa de reconcepção desta categoria.

Qual é a melhor genética do seu rebanho? A primípara! É o último touro que você colocou sobre as vacas que você já vem melhorando. A gente não pode penalizar ela com uma taxa de prenhez muito baixa. Eu preciso fazer este meu melhor lote geneticamente produzir a maior parte dos bezerros, os melhores da minha fazenda. Eu não posso deixar uma primípara me dar 30, 40, 50% de taxa de prenhez. Com uma técnica muito simples de suplementação, que hoje em dia é muito barato quando você faz para o lote correto, você consegue aumentar a taxa de prenhez em 20 a 30%. Não tem por que a gente ficar penalizando a primípara mais”, advertiu Benatti.

O especialista explicou que, descartando problemas de ordem sanitária, que podem ser resolvidos protegendo as fêmeas com vacinas e bons protocolos, o produtor volta sua atenção para a nutrição. Dentro deste tema, a primíparas têm níveis especiais de necessidades nutricionais na comparação com as multíparas.

REPRODUÇÃO É O “LUXO ENERGÉTICO”

“Primeiro, ela vai gastar para estar viva. É aquela base do triângulo (veja no gráfico acima). Depois ela vai gastar para lactação. Depois ela vai gastar para crescimento e você vai ver que a pontinha da pirâmide lá vai ser reprodução. Então a gente fala que a reprodução é luxo energético do animal. O animal só vai reproduzir se ele tiver energia para que ele passe estes outros passos. No caso de uma primípara, ela ainda gasta energia com o crescimento. Então o crescimento é um dreno energético para ele. Quando ela chega na pontinha (da pirâmide), falta energia. Se você pega uma vaca que não é primípara, é uma multípara, ela não precisa desta energia para crescimento, desta forma a taxa de prenhez é maior”, explicou Benatti.

É por isso que, conforme salientou o especialista, vacas secas, que não estão nem lactando e nem crescendo costumam ter boas taxas de concepção na fazenda, uma vez que não têm outras necessidades mais urgentes para drenar sua energia.

Na sequência, o profissional explicou quais as metas que o criador deve fixar para poder ter segurança no desafio destas novilhas, depois das primíparas na estação de monta seguinte.

“Para a gente emprenhar uma novilha, ela precisa atingir pelo menos 65% do seu peso ao adulto, independentemente se vai ser aos 14 meses, 24 meses ou 36 meses que ainda é a média brasileira. Então é importante a gente respeitar estes números que estão aí (veja no gráfico abaixo). O que a gente vê muito hoje é a produção da novilha precoce, então eu faço uma boa recria nela, eu pego a cabeceira das novilhas desmamando com seus 180, 200, 210, 220 quilos, eu faço um crescimento nela para ela atingir 65% do peso ao adulto. Aqui é importante – o que é o peso ao adulto? Você tem que ter um peso referência das suas vacas, da sua genética da fazenda, então o peso ao adulto é o peso de uma vaca com cinco pontos no escore corporal, e aí a minha meta é colocar 65% do peso dela (nas novilhas)”, indicou.

Neste momento, quando consegue emprenhar estas novilhas que chegaram aos 65% do peso ao adulto, o criador normalmente comete um equívoco. “Quando acontece o erro? Quando o pecuarista dá condições para a novilha atingir esse peso, emprenha a novilha e esquece da novilha. Ela precisa continuar crescendo! Ela tem que parir com 85% do peso ao adulto. Se não acontece isso, a hora que ela pare, ela virou a primípara e aqui que é o problema dela – esse crescimento e essa lactação. Se eu não respeitei e ela não parir com 85% (do peso ao adulto), aí aquela primípara que historicamente emprenhava 50% passa a emprenhar 30%”, advertiu.

Segundo Benatti, o produtor deve dar condições para a primípara se recuperar mais rapidamente do seu período de BEN – o balanço energético negativo.

“O balanço energético negativo é muito falado em gado de leite, mas pouco falando em gado de corte. É aquele período que a vaca pariu, começou a produzir leite e, nesse momento, a evolução de consumo é mais devagar e a vaca vai ter o seu pico de produção de leite e o consumo está abaixo. Você tem um período de perda de peso. Neste período de perda de peso, enquanto o animal está perdendo peso, ela não emprenha. Se você considerar que uma primípara está gastando mais energia que uma vaca, o período de balanço energético negativo é maior porque ela está gastando energia para crescer e aí esse período de balanço energético negativo pode ser tão grande que acaba a estação de monta e você não deu conta de emprenhar ela porque ela não está pronta para emprenhar. Então é bem importante isso também. A atenção para o balanço energético negativo. O animal pariu, ela precisa parir com escore adequado”, apontou.

Mas qual o segredo para driblar este longo período de balanço energético negativo? Para o profissional, o criador deve estar sempre olhando as suas fêmeas para que ela passe por determinados pontos da sua vida produtiva entre a concepção e o primeiro parto com escores que são predeterminados.

“Olha só que legal. O escore corporal ideal de uma vaca na estação de monta é 5 a 6 (na escala que vai até nove, que é diferente da escala de gado de leite, que vai até 5). Se a vaca parir com escore 5, a gente considera que ela vai perder um ou dois pontos de escore corpora – sendo que cada ponto representa mais ou menos uma arroba – e ela vai entrar em estação de monta com escore 4, que já é um escore limitante, não é um bom escore. Então a gente precisa fazer esse animal parir com escore 6, então é sempre importante a gente estar olhando para vaca. Eu preciso fazer agora ela estar com escore 6 porque ela vai parir, vai chegar na estação de monta com escore 5, eu vou emprenhá-la com escore 5 e aí a gente continua. Por isso a gente nunca pode esquecer da vaca na seca”, sustentou.

Para o bom manejo nutricional da categoria, Benatti recomendou que o pecuarista não misture lotes de primíparas com multíparas. Conforme ilustrou como exemplo, enquanto as multíparas, em pastagem de média qualidade, precisa de cerca de 9 gramas de fósforo ao dia, as primíparas, ainda em crescimento, precisam de 11 gramas. Portanto, a suplementação é diferente e não serve para as duas categorias. “Então precisamos apartar”, frisou.

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De acordo com o resumo feito por Benatti, então, o criador deve criar condições para as novilhas chegarem aos 65% do peso ao adulto para emprenhar, estar com 85% do peso ao adulto no momento do parto e, para encurtar o período de balanço energético negativo, o criador por fornecer, conforme a qualidade do pasto, suplementação proteica ou proteica energética do dia do parto até 60 dias pós-parto para ganhar alguns dias de estação de monta, que podem ser o suficiente, para a reconcepção. “Você fornecer um proteinado ou um proteico energético do dia do parto a 60 dias pós-parto, a sua taxa de prenhez nessas primíparas vai ser expressivamente maior”, confirmou.

Por conta desse período de balanço energético negativo maior, o profissional não recomendou a antecipação da estação de monta para as primíparas, conforme perguntou um dos telespectadores.

Benatti comentou também uma nova tecnologia que pode aumentar a taxa de prenhez da categoria, que é o uso da suplementação com ômega 6, uma gordura insaturada que desencadeia uma reação hormonal que aumenta o nível circulante de progesterona no organismo das fêmeas e, desta forma, promove o crescimento embrionário, reduz o índice de mortalidade do embrião e pode aumentar em até 10% a taxa de sucesso de cada IATF.

Por fim, o especialista ainda indicou quais devem ser os passos dos criadores que vão dar início à estação de monta em breve.

“Vamos dividir entre monta natural e inseminação artificial. Para quem vai fazer inseminação artificial, tem que ter já o contato do seu veterinário, que vai trazer para você as tecnologias, a compra dos protocolos, começar a preparar as vacas para a gente fazer a sincronização, ir atrás do sêmen, começar a armazenar porque depois que o negócio começar, depois que a estação começar, é arregaçar as mangas. Do ponto de vista sanitário, é atentar para vacinação para algumas doenças, como a leptospirose, então sempre estar buscando estas informações, trocando ideia com o seu veterinário. Com relação a monta natural, que é bem importante, é saber como está o escore do seu touro, daqui uns dias ele entra na estação, como está o andrológico, já fez o andrológico desse touro? E um outro ponto que a gente precisa ter, e é um primeiro ponto quando a gente começa a falar de tecnologias de fazendas. Como está o escore da sua vacada? Quais são os lotes de primíparas que você tem? Das suas vacas, quais são os lotes que pariram no início, no meio ou vão parir no final da estação de parição? São pontos importantes”, resumiu.

“Você tem os pontos operacionais do ponto de vista de compra de insumos e existe o ponto de vista de organização da propriedade. Eu sei que a vaca que vai parir em outubro, novembro, dezembro, ainda, até janeiro tem propriedades, essa vaca vai emprenhar muito pouco, então preciso saber qual é esse lote”, acrecentou.

Então é hora de organizar. Planilhas, compra de insumos, quem são seus fornecedores, que vai te fornecer a nutrição. É o check list”, concluiu.

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Confira a entrevista completa com João Benatti: