Ele começou do zero na pecuária e hoje compartilha segredos para o sucesso

"Eu só conhecia o que era um boi porque ele andava sem roupa", brincou Artur Toledo em entrevista, lembrando da falta de intimidade inicial com a pecuária

É possível que uma pessoa criada em cidade praiana que nunca teve relação com o campo além de visitar parentes e passar férias se tornar um pecuarista de sucesso? Em entrevista ao Giro do Boi desta segunda, dia 02, o produtor rural, empresário, mentor e coach de agronegócio Artur Toledo mostrou que sim. Em sua participação no programa, o produtor lembrou de suas origens e o caminho trilhado para que se tornasse, além de pecuarista, uma referência para quem busca inspiração.

“Eu nasci em Maceió, Alagoas. Eu sou um cara da cidade, da praia, e nunca imaginei que eu ia estar fazendo o que eu faço. Se alguém falasse para mim há dez anos que eu ia estar fazendo o que eu faço, eu ia dar risada porque realmente não era algo que eu pensava”, confessou. “Mas eu tinha ligação com o agronegócio por família. O meu avô tinha fazenda, mexia com gado, plantava cana, eu tenho tios que são agrônomos, tenho uma história de pessoas do agro, mas eu era um cara da cidade. Eu sou biomédico de formação, trabalhei em laboratório e eu nunca imaginei (estar aqui hoje). […] Eu sou a prova de que depois de é possível ter sucesso começando depois de mais de 26 anos, 27 anos de vida, que foi quando eu entrei no agronegócio, fui entender o que era agronegócio. Eu como um cara da cidade que, como a maioria, não fazia nem ideia do que é o tamanho, a magnitude do agronegócio, principalmente no Brasil, que tem o maior potencial”, contou Artur, hoje com 32 anos.

Não era o passado, com o histórico de produtor rural de seu avô, que ligava Artur à pecuária, mas sim o futuro. “Eu vim para São Paulo por motivo de saúde da minha mãe, ela veio fazer um tratamento em São Paulo, eu estava no fim da faculdade e eu vim para cá ajudar. Eu acabei transferindo faculdade para cá, terminei o meu curso aqui, arrumei um bom emprego, tinha uma carreira até promissora dentro do setor (biomedicina) e com 21 anos já tinha cargo de liderança no setor, em um grande laboratório aqui de São Paulo. E quando eu terminei a faculdade, que eu me casei, eu comecei a andar junto com a família da minha esposa. O meu sogro tinha propriedade e eu comecei a andar com ele no interior”, disse.

E foi assim, mesmo sem a necessidade urgente de se reinventar por uma dificuldade financeira ou de mudar bruscamente sua carreira, que Artur descobriu sua vocação.

“Quando eu acompanhei o meu sogro pela primeira vez, despretensiosamente, […] eu não entendia o que era o negócio. Para mim, fazenda era um lugar que eu ia no fim de semana, eu gostava de andar a cavalo, fazer um churrasco, tomar banho de piscina e era só isso. Então eu não fazia ideia do que era o negócio. Então a primeira vez que eu fui com ele, fui para fazer companhia, para dirigir para ele apenas. E ele foi comprar um gado e eu fui junto e eu vi aquilo ali acontecendo e ele começou a me explicar. […] ‘Eu vou levar e vou vender por tanto’. E eu pensei: ‘nossa, é assim que funciona?’ Porque eu não fazia a menor ideia. Como a maioria das pessoas, eu achava que você comprava uma vaca e um touro e um dia vai ter um bezerro, mas tem toda uma cadeia produtiva dentro da pecuária, tem mil possibilidades”, descobriu.

‘SÓ CONHECIA BOI PORQUE ELE ANDAVA SEM ROUPA”

Além da própria vocação, naquele momento Artur começa a descobrir o potencial de sua própria pátria. “Eu pensei ‘cara, esse é o poder que a gente tem no Brasil, essa é a vocação que a gente tem, a gente tem uma vocação climática de produção que, com o tamanho do Brasil, é inigualável. A gente está ali realmente puxando o setor mesmo, com força!’ E aí eu pensei que era isso que eu ia fazer. Então eu mudei completamente tudo que eu ia fazer até aqui, parei, então eu comecei de novo do zero uma nova atividade, um negócio que eu não sabia de nada. Eu só conhecia o que era um boi porque ele andava sem roupa. Se andasse de roupa, talvez eu não soubesse!’, brincou.

No lombo do cavalo, Artur já não é o aprendiz de boiadeiro que não diferenciava boi de vaca.

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PRIMEIROS PASSOS

“Então meu sogro um dia falou ‘você tem um dinheiro guardado. […] Você não quer começar a comprar boi, colocar na fazenda e a gente vai mexendo?’ Claro, deu medo na hora porque quando você está com dinheiro na conta e você vai tirar o dinheiro e vai comprar um monte de animal, soltar lá no pasto e ‘seja o que Deus quiser’, deu até um frio na espinha. Eu pensei que não ia dar certo, eu não sabia. Mas ele disse que eu podia ficar tranquilo, que ele ia me ajudar, que a gente ia fazer junto”, recordou Toledo.

A IMPORTÂNCIA DA CAPACITAÇÃO

Logo o produtor sentiu necessidade de aprender mais do que aquele conhecimento prático, que havia servido de pontapé inicial no setor. “ Então eu comecei junto com ele e dali a pouco eu pensei que tinha que estudar. eu aprendi com ele uma coisa muito importante, que era a parte de comercialização dos animais, que como ele eu conheço poucos que fazem. Eu realmente que aprendi com o melhor cara que eu conheço fazendo isso, que é ele. Ele é um professor que me ensinou tudo isso. E a gente viu que tinha muito caminho para melhorar a questão produtiva, que era preciso aprender. Tudo o que eu faço, que eu me proponho a fazer, eu quero entender. Então eu fui estudar, fazer curso, todos os cursos disponíveis no Brasil de bovinocultura de corte, gestão de propriedade, formulação de ração, nutrição animal, formação de pastagem, isso tudo eu fui fazer. E aí eu fui enxergar que tinha um outro universo ainda maior de tecnologia, de planejamento, de investimento, que é a mesma coisa que a gente tem nas empresas na cidade, que tem que haver no campo. E ainda tem […] muitas pessoas que ainda precisam aprender esse caminho, que precisam tratar a fazenda como uma empresa”, indicou o empreendedor.

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CAMINHANDO COM AS PRÓPRIAS PERNAS

“Então eu fui aprendendo até que chegou um momento que eu percebi que precisava eu mesmo fazer o meu negócio. Precisava eu comprar, eu vender, eu ter o lucro, eu tomar o prejuízo, que aí, se não fosse assim, eu não ia aprender. Então foi aí que eu arrendei um pedaço de terra para eu trabalhar e aí começou. Até ali estava bom demais para ser verdade porque tinha alguém fazendo para mim, mas quando eu comecei a fazer sozinho, aí eu vi que começou realmente, que não era tão fácil assim, não. Tem muito detalhe no negócio”, ponderou Artur.

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Mas apesar de tortuoso, o caminho trilhado pelo pecuarista serviu como boa preparação. “Hoje eu vivo só disso, eu não tenho outra atividade. Eu tenho outras atividades que não são só a produção agrícola, mas estão relacionadas à pecuária. Eu faço cursos, mentorias, coaching, mas é tudo relacionado à pecuária. E essa questão de ter sucesso é muito individual. Às vezes para mim o sucesso é uma coisa, para outra pessoa é outra. Mas houve o tempo no começo em que eu errei bastante, perdi dinheiro, fiz coisa errada e que tem algum tempo que mesmo com as coisas às vezes dando meio errado, você ainda consegue sair limpo do negócio, fazer um bom resultado”, admitiu.

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DE APRENDIZ A MESTRE

O pecuarista compartilhou suas principais dificuldades e respondeu em sua entrevista ainda se chegou a considerar a desistência. “Eu tomei um tombos de cabeça no chão. Cair do cavalo, literalmente. Ano passado mesmo eu tomei um forte. Mas esse não é o problema. O problema maior foi quando teve um momento que eu coloquei dinheiro no negócio e errei, e errei de novo. E eu pensei que era um cara que estudou, que podia fazer muito mais do que isso. Eu sentia que eu podia estar no lugar errado, que eu não pertencia. Só que foi até nessa época que eu pensei em buscar evolução, aprender um pouco mais sobre mim. E é aí que eu sinto algo que é vocação, propósito, missão de vida, aquela coisa que você olha e enche os olhos. Eu sou um cara que quando eu falo sobre isso, quando eu entro nesses assuntos, eu percebo e eu sei que é algo que me completa. Então eu não vou desistir disso aqui. Eu estou numa vida que muita gente olha para mim e fala que queria estar aqui, queria estar trabalhando onde eu trabalho. Eu não moro na fazenda, mas eu moro próximo à fazenda, eu estou todo dia na fazenda, eu lido com animais, eu estou na natureza, eu respiro ar puro, eu trabalho com algo que me dá prazer e que me dá uma rentabilidade, que me dá um meio de vida que é muito prazeroso, que tem suas dores de cabeça também, mas que funciona bem para mim”, aprovou.

Além de preparar sua carreira como pecuarista, as dificuldades impostas acabaram abrindo outra janela para o empreendedor. “Eu tive muita dificuldade em alguma época com as pessoas, de acertar o rumo do que eu estava fazendo. Estava até bem produtivamente, mas internamente eu estava tendo alguns problemas até pessoais mesmo. E aí eu fui fazer formação em coach, fui estudar ferramentas de gestão de pessoas. E aí eu aprendi muita coisa sobre mim que eu não sabia e eu entendi que a coisa mais poderosa que eu tenho é a minha comunicação. Eu sou um cara que gosto de falar, de contar o que eu estou fazendo. Quando eu chego no meio da turma, eu sou o contador de história. Eu sou o ‘Zé Palestrinha’”, admitiu o bem-humorado Artur.

“Então eu pensei que ia começar a mostrar o que eu faço. Eu comecei no Instagram e em redes sociai a mostrar o meu dia a dia. E teve muita coisa que eu comecei a explicar e eu vi que o pessoal começou a gostar. […] Mas eu não sou agrônomo, não sou veterinário nem zootecnista. Então eu pensava ‘mas quem sou eu para estar ensinando os outros a fazer uma coisa?’ […] E aí eu entendi que era essa questão, de ter uma comunicação […] de forma simples. As pessoas diziam que eu tinha um jeito de me comunicar que elas se identificavam, que gostavam de ver. E eu percebi muito isso. Então até hoje tem essa questão de que ‘eu não sou o maior, não sou o melhor’, mas eu estou aqui falando, fazendo o meu trabalho, conto o que estou fazendo, coisa que muita gente que é muito boa tecnicamente não tem ou não gosta de fazer muitas vezes, não é a vocação ser um comunicador, falar o que faz”, analisou. “Mas eu entendo que essa parte de transferência de conteúdo, da educação como ferramenta de transformação é algo que eu realmente acredito e eu gosto muito, algo que realmente me realiza é poder fazer o que eu faço e além disso ter o reconhecimento das pessoas”, completou.

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“Tem uns três anos que eu comecei a fazer isso. Muitas coisas aconteceram ao mesmo tempo quando eu decidi que eu ia fazer esse trabalho de comunicação, que eu ia fazer palestra. Eu já tinha feito palestra na área da saúde, mas quando eu decidi que ia voltar a fazer palestra no agro, tem aquele síndrome de impostor. ‘Eu não sou ninguém. Tem tanta gente renomada. Então quem sou eu na fila do pão para fazer isso?’ Na semana seguinte, 15 dias depois, surgiu um convite de um grande evento em Alagoas para eu fazer uma palestra, falar sobre a minha história, sobre a sucessão familiar, já que eu trabalhava com meu sogro, tinha histórico da família e tal. Então eu fui fazer palestra, o pessoal gostou e eu percebi que eu tinha uma ponta de um assunto que me diferenciava, que eu falava muito e ainda falo sobre essa questão da sucessão familiar. Quando isso aconteceu, começou a ter mais consequências, eu comecei a trabalhar mais a rede social e começou a aparecer cada vez mais convites. Essa época de pandemia atrapalhou muito esses eventos, mas sempre tem uma live com alguém importante que eu jamais imaginei que fosse me convidar. Por exemplo, o convite de estar aqui hoje é algo que há cinco anos, quando eu entrei no setor, eu podia me perguntar ‘por que vão me chamar com tanto cara bom por aí?’”, assumiu.

Perseverança de Artur transformou um aprendiz de boiadeiro em mentor do agronegócio

DICAS

Mas os passos firmes na pecuária de corte deram segurança para que Artur conciliasse a gestão da pecuária e da carreira como comunicador no agro. Antes de encerrar sua participação, o produtor deu as dicas para quem deseja seguir caminho similar ao seu, sobretudo ingressando no setor em um momento tão peculiar.

“Uma coisa muito importante desse momento bom é que a pessoa acaba até se iludindo e entra no setor porque agora está bom. Mas em tudo aquilo que você faz porque agora está bom, você está atrasado. Então está bom para quem já estava na atividade, para quem já estava preparado, para quem estava com as coisas bem feitas. O cara que está entrando agora tem que tomar muito cuidado para não meter o pé pela mão. […] Muitas vezes o investidor quer fazer bem feito, coloca dinheiro em algo que não dá retorno, pelo menos não agora, e está sempre pensando no curto prazo. O cara que entra agora, entra no curto prazo. E ele coloca dinheiro em coisas que vão dar retorno a longo prazo. E a pecuária tem que ser pensada a longo prazo. Ela tem altos e baixos. Você está no topo e o negócio está muito bom agora, […] mas que ao longo do tempo vai cair, subir, cair e subir. E o importante é a média. […] Então o produtor entra no negócio, compra e em trinta dias vê o dinheiro dele desvalorizar e se desespera. Nesse desespero, ele vende barato para se desfazer porque ele acha que vai cair mais, mas daqui para o fim do ano volta de novo. Mas tudo isso quem tem um planejamento sabe, quem se preparou, quem fez o seu silo, quem comprou o seu proteinado antes do tempo, deixou estocado, essa pessoa tem uma condição tranquila e vai ficar até o fim do ano. E quem entrou no desespero porque o negócio está bom, compra, compra e compra e vê o insumo subir, o preço do milho, do arame, de tudo, ele quer sair antes que piore. Aí ele realiza o prejuízo e vende tudo, perde dinheiro e diz ‘esse negócio de boi é conversa, não dá dinheiro, não, bem que meu avô falava que esse negócio de boi é perda de tempo’”, ilustrou.

Antes de intensificar a produção, intensifique a gestão

CURSO

O pecuarista, mentor e coaching do agro anunciou ainda a reabertura das inscrições para o seu curso “Começando na pecuária: do zero ao lucro” para atender os telespectadores do Giro do Boi que se identificaram com sua história e desejam trilhar caminho similar. Pelo link abaixo é possível acessar a página exclusiva:

+ Inscrições no curso “Começando na pecuária: do zero ao lucro”

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A entrevista completa com Artur Toledo está disponível no player a seguir: