Produtor chegou ao AC em pau de arara, virou “rei da integração” e formou 6 filhos na faculdade

Reportagem especial mostrou que entre os frutos que João “Paraná” colheu em sua terra em Senador Guiomard estava também o sustento da família e a formação dos filhos

Um novo episódio da série Embrapa em Ação, que foi ao ar no Giro do Boi desta quinta, dia 28, contou história de superação de João Evangelista Ferreira, o seo João “Paraná”, que saiu do estado na Região Sul dentro de um pau de arara e sete dias depois chegou ao Acre, em 1979. Já na Região Norte, seo João colheu frutos que foram além daqueles crescidos diretamente na terra, mas que sempre vieram dela, seja pela fertilidade, seja pelo sustento proporcionado pelas colheitas.

HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO

Primeiramente, seo João começou a trabalhar com os 37 hectares de um lote que recebeu do Incra, uma área que se tornou a Fazenda São João, em Senador Guiomard-AC. “Eu morei 60 dias em um pé de pau jogado com uma lona dentro da mata. Eu tinha dois filhos, um deles com seis meses de idade, o outro com pouco mais de dois anos. Joguei a lona e fiquei até fazer a primeira roçadinha”, recordou.

Logo depois que o solo ficou para o cultivo, João “Paraná” se juntou a uma associação e com o caminhão puxava a feira para vender na cidade. “A gente era sem dinheiro, não era fácil, não. Era muito difícil. Enquanto você ia no caminhão de feira, o pessoal falava ‘olha o besta trabalhando’”, contou sorridente.

“Mas hoje a gente está vendo que foi o contrário. A família, graças a Deus é toda unida. Todo fim de semana estão todos aqui em casa e, graças a Deus, estão formados. Eu sempre falo para muita gente: um agricultor que nunca tinha dinheiro, porque eu nunca tive salário, só agora, que eu aposentei com um salário mínimo… Mas nem eu, nem a mulher tínhamos salário, e trabalhar e formar seis filhos na universidade, não é fácil”, orgulhou-se.

O objetivo foi alcançado e a história de superação se confirmou justamente porque seo João foi capaz de extrair o máximo de seu pedaço de terra. “Na verdade, eu tenho o gado, tenho um pouco de seringueira e tenho café. E já tive várias outras coisas. Já plantei guaraná, pimenta de cheiro. […] Tinha que plantar aquilo que estava no auge, que estava saindo, que estava fazendo dinheiro. Então toda vida foi assim”, justificou.

PARCERIA

Atualmente, João “Paraná” também se tornou um exímio lavoureiro, cultivando soja e milho em integração com o capim. E a transformação da pequena propriedade em Senador Guiomard e um polo de produtividade veio com uma ajuda de peso.

“A gente já acompanha o seo João aqui como parceiro da Embrapa há mais de dez anos e ele tem evoluído bastante. Foi uma evolução positiva nos trabalhos com integração lavoura-pecuária. Essa área aqui, por exemplo, tem uma previsão de colheita do milho de segunda safra de cinco toneladas por hectare, que é uma produção interessante para essa época na região. E daqui uns 30 dias, no máximo, o pasto já vai estar pronto para o uso”, apontou o mestre em agronomia e doutor em engenharia florestal Tadario de Oliveira, pesquisador da Embrapa Acre.

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Enquanto se destacada pela produtividade com diversificação, João “Paraná” também se tornou referência para produtores da região. “Aqui na propriedade do seo João, a fazenda é utilizada como objeto de dias de campo, de cursos para treinar extensionistas, técnicos, profissionais autônomos e outros produtores. E toda essa gama que o seo João tem aqui de integração lavoura-pecuária, envolvendo soja, envolvendo milho de segunda safra consorciado com braquiárias, envolvendo a questão do boi safrinha, seringueira, café, o sistema de cria… É muito interessante de a gente divulgar e mostrar para os produtores que existem outras alternativas, especialmente na pequena e média propriedade”, confirmou Tadario.

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SUSTENTABILIDADE

Bem como o bolso de João “Paraná” agradece todo o desfrute da Fazenda São João, o meio ambiente também se beneficia do sistema.

“Na área de seringueira existe um ganho que a gente não mensura em termos monetários, mas é a questão da recomposição das áreas de reserva florestal. A seringueira, além do rendimento econômico, é averbada como área de reserva. O próprio consórcio que ele fez há 27 anos de castanheira com cafezal, com cupuaçu, hoje a gente tem uma área praticamente reflorestada, coberta de castanheiras. Então é uma propriedade pequena, mas é uma propriedade especial, onde você tem diversidade de usos do ponto de vista técnico, de alto padrão, e do ponto de vista ambiental, atende todos os aspectos da legislação e gerando receita positiva”, complementou o pesquisador da Embrapa.

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Por fim, foi a vez de seo João “Paraná” reconhecer a importância da parceria com a Embrapa. “É uma parceria muito grande, de muitos tempos, e tem ajudado muito. […] No caso do gado, quando você planta (integração), melhora a qualidade do pasto, a lotação. É um bocado de coisa que a gente vai fazendo e vai dando certo. Sem essa parceria, a gente não consegue porque é muito difícil”, concluiu o produtor.

Pelo vídeo a seguir é possível acompanhar a história de superação e assistir a reportagem completa da série Embrapa em Ação:

Foto: Marcos Vicentti / Reprodução Agência Acre