No confinamento, o olho da câmera é o que vai engordar o boi

Empresa desenvolve leitor de escore de cocho digital, que por meio de imagens e software analisa quantidade dos tratos e sugere ajustes na dieta

Você, confinador, já se perguntou quantas oportunidades – e comida – pode estar desperdiçando pela subjetividade na leitura de cocho? Não que o erro esteja no profissional designado para a tarefa, mas a natureza do olho humano não consegue captar os valores com toda a precisão que a pecuária de corte competitiva exige atualmente.

Para ajudar o pecuarista nesta missão, a Prodap, empresa especializada em consultoria e soluções para nutrição da pecuária de corte, desenvolveu uma tecnologia que digitaliza e automatiza as leituras de cocho do confinamento por meio de imagens feitas por uma câmera e que são interpretadas por um programa de computador – um software, que por sua vez sugere ajustes na dieta.

Nesta quarta, dia 03, o zootecnista Rafael Mendes, gerente comercial nacional e líder regional de experiência do cliente na consultoria Prodap, falou sobre a inovação. Segundo o zootecnista, o funcionário responsável pela leitura não será substituído, mas vai ganhar um reforço para que sua função seja exercida com exatidão. Na prática, durante sua ronda, caberá ainda a ele olhas as fezes dos animais, interpretar os comportamentos, mas com uma câmera acoplada a uma moto, uma mochila ou um quadriciclo, por exemplo, ele vai capturando imagens que vão ajudar a dizer de forma automática quanto de comida sobrou, ou faltou. Esta interpretação será feita com ajuda de um algoritmo incorporado ao software Prodap Views, que apontará que determinada linha deve receber 300 quilos a mais, ou a menos, do trato.

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“O objetivo dele tirar a subjetividade com a qual o funcionário, o supervisor do confinamento, por exemplo, olha todo dia. Todo dia ele passa fazendo uma leitura de cocho para, a partir daquela leitura, corrigir a dieta daquele dia em questão. O que a gente quer com isso, com a imagem, é quantificar de forma exata o quanto está ocorrendo de sobra no confinamento naquele determinado trato, do trato do último dia para o trato daquele dia”, ilustrou Mendes.

“Com a imagem, o que a gente quer é trazer exatidão e padronização de todo mundo conseguir olhar o confinamento da mesma forma. As sobras serem quantificadas de uma mesma forma e a gente corrigir isso pouco a pouco. Isso vai gerar um maior desempenho produtivo do gado, maior GMD (ganho médio diário), maior GDC (ganho diário de carcaça). Essa é uma grande alavanca para o resultado do confinamento, vai aumentar o desempenho do confinamento”, confirmou.

“(Vai) diminuir os desperdícios, fazer com que a gente corrija da melhor forma o desperdício de comida entre um trato e outro e, por fim, trazer uma melhoria de qualidade de vida interessante para quem faz a leitura de cocho todo dia, que é um trabalho difícil. Tem que acordar por volta de 4h30, 5h da manhã, rodar todo o confinamento, muitas vezes à pé, olhando todas as linhas do cocho do confinamento e anotando aquilo em um papelzinho, depois ele volta para o escritório e corrige aquilo na mão. O que a gente quer com isso tudo é melhorar a vida desta pessoa e fazer com que o desempenho animal traga um maior resultado financeiro para a fazenda”, resumiu.

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O zootecnista fez as contas do retorno financeiro que a tecnologia pode trazer ao confinamento. Com uma diária média que custa R$ 8,20, diminuindo em 5% o erro de leitura que leva ao desperdício, o produtor deixa de perder R$ 0,41 ao dia, que ao longo de 90 dias da engorda em cocho se transformam em quase R$ 37,00. Em um confinamento para 10 mil cabeças, equivale a uma economia de R$ 370 mil.

Pulando para a conta do desempenho do animal que, por exemplo, precisa comer mais, Mendes exemplificou com um boi que aumenta em 5% seu GDC – ganho diário de carcaça. Com uma referência média de 1,18 kg ao dia, correspondente aos confinamentos atendidos pela Prodap, o boi passaria a ganhar 1,239 kg de GDC ao dia, 59 g a mais por dia durante 90 dias, ou 5,3 kg ao longo do período de cocho. Com a arroba valendo cerca de R$ 190, o produtor ganha R$ 33,63 a mais por cabeça, representando R$ 168 mil a mais num confinamento de 5 mil cabeças, por exemplo.

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Mendes ponderou, entretanto, que somente uma tecnologia na leitura de cocho não solucionará todos os problemas do confinamento se houver outros gargalos. “É claro que não é só a tecnologia em si, tem a dieta que foi projetada para esses animais, que tem que estar correta, o carregamento desta dieta tem que estar correto, a distribuição tem que estar correta, nos horários corretos, e acompanhar o consumo, as fezes, o escore do gado, água limpa – não vamos esquecer. Então são vários os fatores”, acrescentou.

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Antes de encerrar sua participação no programa, Mendes falou ainda sobre inauguração de uma fábrica de nutrição animal da Prodap em Barra do Garças (foto abaixo), que ocorreu em 28/05. “A gente só inaugurou esta fábrica nova, onde investimos R$ 13,5 milhões, num parque industrial de 18 mil m², porque acreditamos muito no agro. Somos uma empresa 100% brasileira e acreditamos muito nos pecuarista que tem neste país. Temos que fazer mudanças, o setor é muito importante para este país”, disse o gerente comercial nacional e líder regional de experiência do cliente na consultoria Prodap.

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Confira a entrevista completa no vídeo abaixo:

 

 

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