No Norte do País, fazenda usa castração ao nascimento e ganha bônus de R$ 11 por arroba

“Pecuarista que castra ao nascimento tem que fornecer comida, é só isso”, indicou o consultor do Programa Touro Zero; Veja os detalhes do sistema de produção

O rebanho bovino de Rondônia, o sexto maior do Brasil, está ganhando cada vez mais protagonismo no país. Além deste volume e da expressiva produção de carne bovina, nesta quarta, 29, o estado esteve na pauta do Giro do Boi por conta de um manejo inovador: o Programa Touro Zero. Quem explicou a iniciativa foi o médico veterinário e assessor de diversas fazendas rondonienses, Ademir Ribeiro.

O sistema de produção, que está sendo usado pela Fazenda Evelyn, localizada no distrito de Triunfo, município de Candeias do Jamari-RO, consiste na castração ao nascimento de machos cruzados, o que facilita a engorda e valoriza o produto final. O veterinário explicou que decidiu trabalhar com animais meio-sangue Angus por conta do ganho de peso maior dos animais e potencial de receita com programas de carne de qualidade.

“Com esta raça eu ia conseguir ter um poder maior de barganha, ou seja, eu ia começar a sair da commodity, eu ia conseguir uma melhor receita externa. E o que aconteceu? Fizemos uma junção. Peguei a genética, a sanidade, o manejo e nutrição, […] o clima e coloquei o sexto ponto, a estratégia comercial”, revelou Ribeiro, referindo-se a reforçar os abates destes animais na entressafra rondoniense, entre setembro e dezembro.

“Então o que eu precisava? Colocar nesta janela a maior quantidade de animais abatidos neste período. Inseminamos a vacada em setembro, outubro, novembro e dezembro com nascimentos entre junho, julho, agosto e setembro. Desmama de uma única vez ao final de abril, já sai do creep feeding direto para o confinamento ou para o piquetão, que é o confinamento a pasto. Com isso, eu consigo entregar estes animais a partir de setembro na casa de 13 para 16 meses na janela da entressafra”, detalhou o veterinário.

A castração dos animais é feita com canivete logo ao nascimento, aproveitando os serviços obrigatórios de cura do umbigo e o picote na orelha para identificação do mês. O consultor afirmou que, nesta fase, não há problemas maiores no manejo, como hemorragias, sendo que o ferimento cicatriza em média no terceiro dia com aplicação de medicamento para reforçar combate aos parasitas.

Ribeiro assegurou também que o desenvolvimento dos animais não é comprometido pela castração precoce. “Não existe perda. É algo interessante. A conversa de que o bezerro atrofia e que desenvolve, não é verdade. Acontece que o hormônio testosterona não vai agir até a puberdade no desenvolvimento destes bezerros. […] Então se você prestar bem atenção, e o amigo que faz cruzamento industrial hoje no Brasil e em Rondônia, se olhar a fisiologia, a natureza nos ensinando, quando vai desmamar um macho desse inteiro, a fêmea pesa o mesmo peso dele, prova que não é a testosterona que desenvolve até a puberdade. Após a puberdade, sim, a testosterona desempenha esse papel”, explicou.

O ponto essencial para o sucesso do sistema de engorda do Programa Touro Zero, de acordo com o assessor, é a nutrição. “O pecuarista que castra, qualquer raça, ao nascimento tem que fornecer comida, é só isso. Ele vai desmamar o animal pensando em abater ele até os 20 meses, dente de leite”, ponderou.

Durante sua participação no programa desta quarta, Ademir especificou o manejo da nutrição destes animais (veja os detalhes da ‘dieta total’, sem volumoso, do Programa Touro Zero, que viabiliza ganho de 1,5 kg por dia na engorda, pelo vídeo abaixo). Os machos castrados são abatidos dentro de um programa de remuneração por carne premium, o Protocolo 1953, da Friboi.

“O pecuarista precisa ter esse benefício fora da porteira. Nós estamos engordando animais de qualidade, genética, sanidade, manejo, nutrição, entendendo o clima, com abates o ano inteiro. Não tem erro buscar um animal jovem, de 14 para 15 meses com 17 arrobas na balança da fazenda. Ele vai chegar no frigorífico com um rendimento de 56% a 58%. E além disso, pegando o preço do boi mais o (bônus pelo protocolo) Sinal Verde, mais 1953, você chega em um benefício que o amigo pecuarista vai gostar”, aprovou o médico veterinário, que declarou que os animais recebem bônus de até R$ 11/@ de acordo com sua conformação de carcaça.

“Eu deixo a mensagem para o amigo pecuarista sair das commodities, precisa investir em tecnologia dentro da fazenda. E para quem for investir em tecnologia dentro da fazenda, é interessante procurar quem faz. Não converse com quem não faz porque você não vai ter informação correta”, concluiu.

Veja a entrevista completa com Ademir Ribeiro no vídeo abaixo, com detalhes de todo o sistema produtivo do Programa Touro Zero. Dúvidas sobre a implantação do projeto podem ser enviadas para o e-mail [email protected].

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