O que define quem vai ganhar dinheiro com pecuária em 2020?

Presidente da Assocon e da comissão de pecuária da Faeg, Maurício Velloso lista três pilares que devem orientar o pecuarista para que ele aproveite as oportunidades do mercado

O que será decisivo para ganhar dinheiro com pecuária de corte no ano de 2020? Esta foi uma das perguntas feitas ao pecuarista, engenheiro agrônomo, presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Faeg (Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás) e presidente da Assocon (Associação Nacional de Pecuária Intensiva) Maurício Velloso, durante entrevista concedida por ele ao Giro do Boi desta segunda, 25.

Velloso respondeu à questão citando como referência o ilustre engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso, formado pela Esalq/USP em 1936 e que no último mês de setembro de 2019 completou seus 105 anos. “Ele mandou duas mensagens para o pecuarista atual, eu achei interessantíssimo. Ele disse o seguinte: primeiro, o pecuarista não pode deixar faltar comida e água de qualidade nos 365 dias do ano. A segunda mensagem: não temos mais a prerrogativa de utilizar áreas novas, recém-desmatadas. Isso não existe mais no Brasil. Então, pecuarista, disse ele, você precisa aprender a adubar pastagem. As duas coisas. Aí eu acrescento a este ‘arroz com feijão’ fundamental: o pecuarista precisa usar toda a caixa de ferramentas que existe disponível para que ele possa se cercar de todos os cuidados antes da porteira e depois da porteira. Depois da porteira eu estou me referindo a trabalhar as ferramentas de mercado futuro, de compra de insumos e de venda dos seus animais, seja gordo seja magro. Se ele não passar a utilizar todo dia os mecanismos de comercialização futura, compra de insumos e venda de animais, ele está perdido”, resumiu o presidente de Assocon.

E de acordo com Maurício, o momento é propício, pois o produtor está de fato percebendo que precisa se reinventar para seguir na atividade. Entre os conceitos que estão em mudança está justamente a definição da própria bovinocultura de corte. “Você sabe que está acabando a pecuária? Eu vou contar para você. É verdade. Está acabando a pecuária e eu vou explicar para você por quê. Na verdade, a pecuária não existe, a pecuária é uma modalidade da agricultura cuja colhedora tem focinho, rabo, rumina e muge. Entendeu? Gado é a nossa colhedora”, comparou o agrônomo.

Maurício explicou que mudar a mentalidade para ser eficiente na colheita de pastagem faz parte do entendimento de que aquilo que era pecuária intensiva está ganhando novos significados. “Vamos mudar a forma de entender o que é confinamento? Confinamento é intensificação, não significa fechar, pôr em um lugar limitado. Aqui no Brasil a gente tem uma condição excepcional de conseguir fazer o confinamento a pasto, e aí você pode chamar de semiconfinamento, pode dar o nome que quiser, mas não há necessidade de cercear o espaço do animal para que você possa obter excelentes resultados de acabamento de carcaça, de intensificação da criação, da recria e da engorda. Isso faz da nossa pecuária imbatível em termos de custo de produção”, analisou Velloso.

Faz parte desta intensificação o cuidado para que o gado não retroceda em termos de ganho de peso ou não esteja nas melhores condições para o seu propósito ao longo de todo o ano. “Em todas as fases da vida o gado tem que estar gordo. A novilha gorda emprenha cedo, você vai ganhar dinheiro. É uma resposta linear, a novilha gorda emprenha cedo. A novilha gorda tem valor de arroba igual ao boi ou superior. A vaca gorda cria um bezerro dentro da barriga extremamente bem desenvolvido, serão os bezerros e bezerras que vão virar as fêmeas mais precoces, mais férteis, e os bois que irão se desenvolver melhor em menos tempo. Ou seja, essa vaca também está te dando uma cria que você vai ganhar dinheiro. […] Vão ser os animais, as fêmeas e os machos, que vão lhe dar o maior retorno e o que é o melhor, dão melhor retorno para o pecuarista, melhor retorno para a indústria e dão melhor retorno para quem paga a conta de todos nós, que é o consumidor”, comentou.

Maurício ponderou que cuidar de todas estas etapas não significa, entretanto, buscar apenas números expressivos. “A gente tem que cuidar da eficiência dos nossos custos. Não é menor custo, é o melhor custo, e nem é a maior produtividade, é a melhor produtividade. A gente precisa ter estas contas controladas porque 2020 deverá ter excepcionais oportunidades com desafios proporcionais”, alertou.

“Se você tiver mercadoria pronta todo dia, você vai poder atender quando lhe baterem na porta. Se você não tiver, você vai perder oportunidade”, advertiu o especialista. Por isso, Maurício recomendou foco em estratégias nutricionais que permitam manter a produtividade da fazenda ao longo do ano, como sequestro de animais para recuperar as pastagens e evitar a sua degradação e suplementação alimentar para não atrasar manejos essenciais como a IATF, o que poderia prejudicar a qualidade dos bezerros desmamados.

Veja a entrevista completa pelo vídeo abaixo: