O que é necessário para montar um semiconfinamento em minha fazenda?

Veterinário lista tudo o que o pecuarista precisa saber sobre maquinário utilizado, montagem de galpões, divisões de piquetes e fatores limitantes para a produtividade do sistema

Embora a estação seca esteja terminando para o ‘Brasil pecuário’, os produtores seguem buscando alternativas para complementar o alimento que vem das pastagens e, desta forma, acelerar o desfrute das fazendas. O semiconfinamento é uma destas alternativas e que vem ganhando adeptos pelo país. Nesta quinta, dia 07, o assunto foi destaque do Giro do Boi, em entrevista com o médico veterinário, consultor e professor de produção animal da Unifacs, de Salvador-BA, Guilherme Vieira.

Vieira afirmou que é importante que fique claro para o produtor que semiconfinamento é diferente de confinamento, suplementação a pasto, dieta de alto grão ou alto consumo. Segundo o consultor, semiconfinamento é o nome que se dá ao sistema que se baseia em alimentação e engorda a pasto com alimentação em cocho, entre 1% a 1,5% do peso vivo do animal, com mais 1% vindo da forrageira.

O veterinário alertou, inclusive, que a qualidade das pastagens é o principal fator limitante para o sucesso do sistema de semiconfinamento, portanto o produtor deve estar preparado para utilizar ferramentas como fertilizantes, vedação ou diferimento do pasto para que os piquetes sirvam a este propósito. Com a saída do lote do piquete, é desejável que o produtor também esteja atento para a recuperação desta área até que ela suporte novamente mais um período de engorda. Deste modo, é viável terminar até três lotes por ano com ganho médio diário de até 1,2 kg, conforme já observado por Vieira em algumas de suas experiências em fazendas parceiras.

Outro fator limitante para o sucesso do semiconfinamento, acrescentou o veterinário, é a qualidade dos animais inseridos no sistema. O professor ressaltou que os critérios de escolha da reposição devem ser tão rigorosos quanto os aplicados em animais terminados em confinamento, ou seja, precisam tem o mesmo potencial genético para responder à engorda intensiva.

Entretanto, o semiconfinamento tem outras finalidades que não somente a terminação, servindo também para a recria intensiva de bezerros, acelerando seu ciclo até a fase de engorda, ou mesmo para a preparação das novilhas para a cria. Vieira citou que já acompanhou exemplos práticas de fêmeas Nelore cujo ciclo foi antecipado por meio do sistema, viabilizando prenhezes aos 14 meses.

E de que o pecuarista precisa para montar um semiconfinamento em sua fazenda? Embora os requisitos mínimos sejam mais simples do que o confinamento em si, ainda há exigências específicas. “O semiconfinamento a pasto é mais vantajoso em relação ao confinamento no sentido de que não precisa ter um investimento tão alto em currais e piquetes. […] São instalações extremamente simples. O que tem que ter é um mínimo de estrutura para fazer uma boa ração, uma boa mistura. Uma fabriqueta de ração, ter também um vagão misturador. […] Às vezes com um bom vagão misturador você nem precisa de uma fábrica de ração para fazer uma boa homogeneização da ração, uma boa mistura, uma boa formulação. Mas o mais importante do semiconfinamento são as pastagens e seus tratos culturais. Os investimentos são bem menores […] do que o confinamento”, explicou.

O veterinário apresentou uma espécie de layout sugerido para o pecuarista instalar o semiconfinamento em sua fazenda, dividindo os piquetes sempre próximos a um reservatório para que não falta água de qualidade para os animais, e reforçou que é importante que fique próximo também à área de apoio com o galpão das máquinas, o galpão para armazenamento da ração e o galpão da fábrica de ração, além do curral de manejo. “O semiconfinamento deve ser próximo às áreas de manejo”, recomendou.

Vieira comentou quais características do sistema podem torná-lo mais ou menos útil para a fazenda que está decidindo pela sua adoção. “A alta dependência do sistema de qualidade do capim. Se você não tiver um bom capim, você não vai fazer um bom semiconfinamento. […] Uma coisa que nós devemos mudar é a mentalidade. Ano passado os dados da Associação Brasileira de Produtores de Adubo disse que 2% apenas de todo o adubo produzido no Brasil vai para pastagem. O pessoal não está fazenda a adubação correta, o trato cultural para as pastagens. Outra desvantagem, vamos dizer assim, é que tem que ter um maquinário mínimo para o semiconfinamento. Qual é este maquinário mínimo? Anote aí: precisa ter um trator, lógico, precisa ter um local para armazenar ração e tem que ter um equipamento para misturar a ração. […] Em relação também ao confinamento, você tem um menor número de animais. […] Para você ter um semiconfinamento com um grande número de animais você tem que dispor de uma grande área de pastagem também”, listou.

“Um recado que eu gostaria de dar para os nossos amigos pecuaristas é não acreditar muito nos cantos dos cisnes. Dizer que vai aumentar produtividade, isso e aquilo. Tem que trabalhar mesmo e nós temos que fazer pecuária de ciclo curto”, concluiu.

Para os produtores interessantes, Guilherme reforçou ainda convite para um curso sobre semiconfinamento que ele vai ministrar a partir de 26 de novembro. Veja a agenda completa pelo site: semiconfinamento.com.br.

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A entrevista na íntegra com Guilherme Vieira pode ser vista no player abaixo: