O que está acontecendo e para onde vão os preços de soja e milho? Vale a pena investir?

Especialista reuniu projeções de mercado para os grãos e fez alerta para produtores que querem surfar na onda da valorização recente

Em entrevista ao Giro do Boi nesta terça-feira, dia 22, o engenheiro agrônomo Marcelo Magurno, diretor de negócios da FMC no Brasil, explicou o que está ocorrendo com o cenário dos grãos no Brasil e no mundo, que levaram à recente valorização de soja e milho, principalmente. O especialista compartilhou algumas das informações que indicam as perspectivas para o comportamento do mercado daqui para a frente e ainda fez ponderações para os produtores que pensam em se aventurar para aproveitar este momento de valorização.

Leia a seguir os principais tópicos da entrevista:

CENÁRIO ATUAL

“O que está acontecendo é que tem um nível de estoque que sempre atua de forma a balancear o mercado. Ao longo dos últimos anos esse estoque vem se reduzindo por várias razões e chegou em um momento em que também teve aumento de consumo, ou seja, aumento de consumo de proteína, seja vegetal ou animal. Então o mercado está muito aquecido. O Brasil, como grande exportador e também fornecedor de alimentos para o mundo todo, exportou de uma maneira nunca antes vista […] nos últimos 18 meses e por mais que o país cresça em produção, por mais que o produtor consiga investir, trazer mais tecnologia e com isso produzir mais, a demanda nesses últimos tempos foi maior do que a capacidade de produção. Isso faz com que os estoques mundiais sejam reduzidos e você tem uma precificação, tanto no mercado internacional quanto no mercado interno, que acompanha esse fluxo de demanda. Então é esperado que nos próximos anos, com uma acomodação entre oferta e demanda, esses preços possam também se acomodar, e não ficar flutuando. Agora o ponto que vale muito – e eu não tenho essa bola de cristal – é saber aonde ele vai se acomodar”.

O especialista analisou o que levou a esse aumento inesperado de demanda. “O que nós estamos vendo é uma injeção de capital de liquidez no mundo todo dada essa situação de pandemia, que fez com que o consumo aumentasse muito rapidamente. O consumo aumentou mais rápido do que a capacidade de você produzir. E nós podemos observar isso não só nas commodities agrícolas, mas em geral. Hoje nós temos falta de muita coisa, de tudo. Ontem eu vi a notícia que algumas montadoras aqui no Brasil vão parar a produção por falta de componente e não por falta de demanda. Então isso é reflexo dessa injeção de liquidez feita mundo afora por todos os governos, o que fez com que o consumo aumentasse. Agora o patamar de preço, bom, esse não sabemos, vamos ver isso um pouco mais adiante”, constatou.

ONDE OS PREÇOS VÃO PARAR?

“Eu vou dizer como uma pessoa que está vendo e vivendo nesse mercado. Nós estamos vendo o milho em Chicago, por exemplo, disponível agora para julho e ontem fechou a US$ 6,79 ou US$ 6,80 o bushel. Para o 2022, ele já arrefeceu um pouco para pouco além dos US$ 5. Ainda segue alto. O tradicional, o que era usual antes da pandemia, era ver o milho a US$ 3,50, US$ 3,40 e até US$ 2 o bushel. […] O que nós vamos ver, na minha opinião, ainda é um milho bastante aquecido durante todo o ano porque nós não temos produção de milho de primeira safra aqui no Brasil. Nas áreas de primeira safra, cada vez mais se perde a referência porque nós aumentamos muito o milho de segunda safra, aquele milho de inverno. E esse, sim, tem uma previsão de aumento de mais de um milhão e pouco de hectares para a próxima safra”.

SAFRAS E PROJEÇÕES

“Nós atingimos uma produção de soja muito intensa, muito boa, o que fez com que nós tivéssemos recorde de produção. Nós tivemos todos os estados do Brasil produzindo na média acima de 50 sacas por hectare. Tem estado que colheu até 60 sacos de média por hectare, isso fruto de um investimento feito nas últimas décadas pelo produtor brasileiro que vem realmente mostrando uma alta competitividade, uma capacidade de produzir incrível. Por outro lado, a partir do final de março, nós vimos que a chuva cessou, nós tivemos um corte das chuvas e isso afetou muito a produção do milho safrinha. Agora nós tivemos recorde de área plantada, tivemos mais de 14 milhões de hectares de milho de segunda safra plantado e isso fez com que essa seca realmente afetasse a capacidade produtiva do milho”, comentou.

“Especificamente para o milho eram esperados, entre milho de primeira safra e milho de segunda safra, 118 milhões de toneladas, segundo a Agroconsult, e nós estamos trabalhando agora com número de mais ou menos 90 milhões de toneladas. Isso realmente faz com que outra vez o preço escalasse. Você não tem capacidade de atender a demanda e o preço escapa. E talvez a gente vá ver agora a chegada de milho importado. Vamos importar milho para poder tentar segurar e balancear um pouco esse nível de demanda”, observou.

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IMPORTAÇÃO DE MILHO VAI SUPRIR A DEMANDA?

“Nós vamos ver uma chegada de milho importado para tentar equilibrar um pouco essa demanda, para a produção de proteína animal em geral, frango, suínos, confinamento de gado, enfim. e os Estados Unidos têm uma vocação muito grande para milho, eles realmente conseguem produzir altas quantidade por hectare. Eles têm lá um estoque regulador melhor e podem atender um pouco essa demanda. Vais ser suficiente? Bom, eu creio que ainda não. A demanda realmente está aquecida e nós vamos ter que nos encaixar de alguma forma, substituir milho por farelo de soja onde é possível e tentar atuar dessa forma até que a gente regule novamente o mercado”.

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VALE A PENA INVESTIR EM GRÃOS AGORA?

A valorização dos grãos e a demanda puxada atraem investidores e especuladores, mas Marguno aconselhou moderação – menos pela projeção de preços e mais pelo cenário ainda incerto na cadeia de suprimentos.

“A produção de carne ou a produção agrícola, hoje, se você for se aventurar e entrar porque o preço está bom, eu sugiro repensar, tanto produção de milho quanto produção de soja. […] Nós estamos passando também na indústria como um todo por um problema de suprimentos do qual você não se resolve rapidamente”, justificou.

O agrônomo detalhou quais os principais desafios para novos investidores do setor. “Nós estamos enfrentando um aumento considerável de custo de frete. O custo de frete subiu três vezes e meia. Em relação custo de container, nós pagávamos, por exemplo, US$ 6,5 mil a US$ 7 mil a viagem China-Brasil e hoje nós estamos pagando US$ 12 mil, US$ 13 mil, chega a até US$ 18 mil e ainda não tem contêineres. Você não tem disponibilidade de container. O frete aéreo, que você usava às vezes para trazer um produto, um ativo que era possível trazer de avião para atender uma demanda mais rápida, nós pagávamos US$ 7 ou US$ 8 e agora nós estamos falando de US$ 18 a US$ 22 o quilo. Então essa demanda aquecida e algumas rupturas na cadeia de suprimentos fizeram com que os custos escalassem a patamares que nós só vimos […] em situações de 1975, olhando na cadeia global de suprimentos”, apontou.

“DA MÃO PARA A BOCA”

Os obstáculos nas cadeias suprimentos deve se somar à seca severa prevista para esta entressafra de 2021, apertando a janela de plantio e dificultando ainda mais a logística. “Então se você for se aventurar hoje e pensar que tem uma área de pasto e vai plantar milho ou soja, primeiro olhe se você consegue os insumos suficientes para a produção. Depois analise o custo. E, na produção de carne, ou seja, no confinamento, a mesma coisa, a mesma situação. Você que não está nesse negócio e que não tem cálculo de custo, se você não consegue precificar bem o seu custo e depois entender qual é o teu ganho, eu sugiro que repense um pouco. Não é o momento agora de fazer aquilo que a gente não está habituado porque realmente nós estamos bem apertados de suprimentos. O produto está chegando em cima da hora e essa seca que vem, essa possibilidade de seca ao longo dos próximos meses, pode fazer com que o plantio seja condensado, ou seja, tem uma janela de plantio de soja e de milho muito apertada e vai ter uma demanda muito rápida por tudo. Então nós na cadeia aqui, as empresas que fornecem fertilizantes, sementes, insumos para a produção de cultivos, nós todos estamos trabalhando o que nós chamamos ‘da mão para a boca’, para o nosso amigo produtor entender. Então hoje se você for comprar fertilizantes, tem que entender se vai ter quantidade, se você tem semente disponível e se tem insumo para proteção de cultivo também disponível. Se aventurar agora pode ser um caminho mais ardido para os agricultores”, opinou.

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TOMADA DE DECISÃO

O diretor de negócios da FMC no Brasil lembrou que a companhia pode ajudar os produtores neste momento a escolher o melhor caminho dentro de sua atividade. “Hoje nós temos especialistas em produção que podem auxiliar, entender o momento e levar dessa forma a melhor decisão ao nosso amigo produtor. Então sugiro que cada um busque entender. Às vezes a gente não pode ficar parado, mas tem que buscar o melhor entendimento possível para a melhor decisão. Então o que nós recomendamos é que busque isso para tomar a melhor decisão”, indicou. “Eu desejo uma boa safra a todos! Nós vamos ter demanda aquecida, então preparem-se para produzir, produzir bem! É um orgulho para nós fazermos parte do agro brasileiro, essa potência, um setor altamente competitivo, que muito nos alegra e nos orgulha”, celebrou Magurno.

A entrevista completa com o engenheiro agrônomo e diretor de negócios da FMC no Brasil Marcelo Magurno pode ser vista no player abaixo: