"Pecuarista tem que virar agricultor de comida de boi", afirma professor da USP

José Bento Ferraz alertou também para uma confusão comum entre conceitos do manejo nutricional: gado alimentado não está, necessariamente, bem nutrido

O Brasil aumentou recentemente sua média de bezerros desmamados por vacas expostas à reprodução, mas o índice ainda é muito baixo para manter uma fazenda lucrativa. Foi o que afirmou ao Giro do Boi desta quarta, 27, o médico veterinário, doutor em genética e professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP de Pirassununga-SP, José Bento Sterman Ferraz.

“A nossa situação é um pouquinho menos pior. De cada dez vacas que emprenharam, 6,5 desmamam. Em vez de 6, foi para 6,5. Isso é muito ruim. Qualquer empresário da pecuária que tenha 100 vacas e consegue desmamar só 65 bezerros está absoluta e totalmente quebrado. Não consegue manter a sua fazenda, nem fazer a manutenção correta da sua fazenda. Na hora que precisar reformar cerca não vai ter dinheiro, nem na hora de reformar pastagem”, disparou o professor.

Para mudar a realidade, José Bento recomendou um conjunto de ações a serem adotadas para que o pecuarista se mantenha competitivo dentro de sua atividade. “Eu mexo com genética. Mas quanto mais eu mexo com genética, mais eu acredito em nutrição. Estou parafraseando um amigo meu e ele diz que quanto mais mexe com nutrição, mais acredita em genética. Na realidade, as coisas andam em conjunto. A gente deve investir na solução dos problemas comuns do ambiente para poder usar melhor a genética que tem dentro da fazenda. E não adianta mexer nas condições do ambiente sem ter genética boa para aproveitar”, explicou.

Uma das formas de melhorar a nutrição do rebanho é fazer as reformas de pastagens sempre que houver necessidade. “Se o sujeito trabalhar direito, ele ganha uma fazenda em cima da pastagem sem investir em (comprar mais) terra. É isso que nós temos que ter. O pecuarista tem que virar agricultor de comida de boi. Sem acontecer isso, nós vamos continuar nessa linha de sessenta e poucos porcento de bezerros desmamados”, avisou.

O professor advertiu ainda para os produtores não confundirem alimentação com nutrição. Um rebanho alimentado em pastagem de baixa qualidade, por exemplo, não é, necessariamente, um rebanho bem nutrido, que terá todas as suas necessidades supridas.

Veja a entrevista completa no vídeo abaixo: