Pesquisador diz qual é o pior bezerro de corte; saiba agora

Pesquisador Cláudio Magnabosco relembra momentos marcantes do melhoramento genético de bovinos no Brasil, chamando atenção para as características reprodutivas

Não existe gol feio. Feio é não fazer gol“. Quem se lembra desta célebre frase do exímio centroavante do Atlético-MG e Seleção Brasileira, Dadá Maravilha? Fazendo um paralelo com a pecuária, é possível parafrasear o atleta e afirmar que pior do que fazer um bezerro ruim é não fazer bezerro nenhum. Afinal, a taxa de desmama de gado de corte Brasil é um dos principais indicadores a serem melhorados no Brasil.

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Ruim é o bezerro que não nasceu, não é? Então a reprodução, os trabalhos mostram, que ela, às vezes, é de três a cinco vezes mais importante do que qualquer outra característica econômica. Você não tem o que melhorar se aquilo que você quer melhorar não nasceu. Então eu acho que a reprodução a gente tem que seguir diuturnamente trabalhando em cima, buscando maneiras mais acuradas de medi-la porque, com certeza, isto vai nos dar retorno e vai ajudar o produtor a ter mais lucro na sua atividade”, disse nesta terça, 07, ao Giro do Boi o pesquisador da Embrapa Cláudio Magnabosco, mestre, doutor e pós-doutor em genética e produção animal, que atua também como diretor de transferência de tecnologia da ANCP, a Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores.

O pesquisador lembrou de quando foi que os estudiosos do melhoramento animal começaram a perceber que importância da reprodução nas características econômicas mais importantes para uma fazenda de gado de corte. “A primeira grande tacada da ANCP foi o perímetro escrotal, começar a medir o testículo, e essa característica, após pesquisas, provou-se intimamente ligada à característica de precocidade sexual. Essa precocidade sexual nos levou ao parto precoce. E a vaca seguir parindo como um relógio ao longo dos anos nos levou a um estudo maior da capacidade de permanência no rebanho, que é a stayability. Isto aí é uma medida ligada diretamente ao lucro. Isto é uma medida de rentabilidade. O animal tem que parir cedo e seguir parindo. Por exemplo, hoje nós evoluímos, antes nós pensávamos em sete anos e três partos, mas hoje nós já falamos em sete anos e quatro partos. Então até os cinco anos, você ganha um bezerro na vida do animal. Esta conjugação entre parir cedo, desmamar pesado e seguir parindo, isto é a medida mais próxima que eu acredito que seja o indicador perfeito da lucratividade de uma fêmea, que se você pensar em taxa de lotação e unidade animal por hectare, nós estamos falando não em quilos de carne, mas em reais por hectare”, comparou Magnabosco.

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O especialista, que foi um dos fundadores da ANCP, relembrou os momentos marcantes da instituição que hoje é responsável por alguns dos principais programas de melhoramento animal do País, atuando em diversas raças. “Na década de 1980, um grupo de produtores, inicialmente formado pelo Zancaner, Milton Camargo, Cláudio Carvalho, o Raysildo e eu, percebeu a necessidade, na época, de fazer um trabalho de melhoramento diferente, delineado, fundamentado em pesquisas da Universidade de São Paulo e outras. E aí a gente teve esta ideia e esta congregação única de produtores, criadores e pesquisadores e gerou o programa de melhoramento genético da raça Nelore na USP, 1988. E depois evoluiu”, remontou.

1988, lógico, eu acho que foi o grande início. Depois, eu destacaria, a gente veio trabalhando com as avaliações de poucas fazendas, não chegavam a dois dígitos, eram oito ou sete, e assim foi durante quase uma década. Aí eu me lembro da primeira avaliação com modelo animal, o pessoal assustou, o modelo genético animal multicaracterísticas em 1994, 1995. Aí me lembro também eu fui para os EUA e quando eu voltei, a gente trouxe uma série de características, como stayability, características que não são contínuas, bem diferentes, que eram análises bem diferentes. Em 1996, óbvio, a criação da ANCP, aí transformação do PMGRN em Programa Nelore Brasil, da ACNP. Aí em 1998 esse lançamento destas DEPs reprodutivas. No início dos anos 2000 começamos a trabalhar com uma metodologia bem interessante com inferência bayesiana, que hoje é comum a gente trabalhar. Aí nós lançamos a precocidade sexual, já havia lançado, aí aprimoramos. Isso eu achei fantástico. Outro marco que eu considero, começamos a trabalhar no final dos anos 2000, 2008 ou 2009, a estudar a questão da incorporação da genotipagem nas avaliações. Depois, se não me engano em 2012 ou 2013, veio o lançamento inédito das DEPs genômicas, que hoje já estão mais populares e sendo incorporadas por outros programas de melhoramento. Posteriormente às DEPS genômicas, eu consideraria o índice bioeconômico, o MGTE, em 2014 ou 2015, se eu não me engano. Isso eu acho muito importante. Depois disso, as DEPs mais sofisticadas, complexas, como maciez de carne e eficiência alimentar, que ainda seguem em estudo e cada vez mais nós estamos coletando fenótipos para que nós possamos ter mais acurácia”, elaborou Cláudio Magnabosco em uma espécie de linha do tempo.

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“Uma características da ANCP que eu acho fantástica é como ela nasceu num grupo de pesquisa, numa academia, numa universidade renomada. No DNA de todos nós […] está a pesquisa e inovação. Eu acho que isto, esta facilidade, esta permeabilidade de você trazer os resultados de ponta da pesquisa e incorporá-los no seu dia a dia de uma maneira bem tranquila, natural, isto é uma das características que fazem parte da ANCP”, orgulhou-se.

O pesquisador falou sobre a evolução das DEPs genômicas e a importância para acelerar a tomada de decisões dos criadores, apontando mais cedo quais são os animais com verdadeiro potencial genético sem ter que esperar várias gerações de progênies para comprovar uma informação. Além disto, ressaltou os avanços das pesquisas sobre eficiência alimentar.

Alimentação é o que dói mais no bolso. Se você pensar que este estado de Goiás, por exemplo, que confina mais de dois milhões de cabeça, imagine se estes animais confinados consumissem em média 3% a menos do que consomem hoje. 5% a menos. Nós temos touros de um trabalho inicial pioneiro pelo Rancha da Matinha, parceira da ANCP, pelo seo Luciano Borges, […] uma pessoa que eu admiro demais e tenho profundo respeito por ele. Então pense que nós temos hoje não só na Matinha, mas já de diversos outros criatórios, touros que são 10% ou 12% mais eficientes, que consomem menos do que os seus contemporâneos, do que os mesmos animais da safra, e se você pensar em herdabilidade de 40%, 50%, imagine o confinamento com 1.000 animais consumindo 5% a menos. Faça a conta da diária do confinamento. […] É uma economia muito grande e isto é conseguido com o auxílio da genética. Então eu acho que é fundamental que nós trabalhemos cada vez mais a questão da eficiência alimentar, do consumo de matéria seca e, obviamente, sem perder de vista o uso da velocidade de ganho de peso, do acabamento, funcionalidade e etc.”, comentou.

Eu costumo dizer o seguinte: a gente quer que o animal tenha que parir cedo, desmamar pesado, crescer bastante, ter um bom acabamento e, só de quebra, comer pouco”. Parece muito, mas a observar qual era a produtividade média da pecuária brasileira há 30 anos e como é atualmente, o criador pode e deve criar grandes expectativas para o futuro da pecuária.

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Veja pelo link abaixo a entrevista completa com Cláudio Magnabosco.