Qual a melhor cruza com Nelore para desmamar bezerro pesado no Triângulo Mineiro?

Especialista em cruzamento industrial para gado de corte, zootecnista Alexandre Zadra participou de sessão de perguntas e respostas e tirou dúvidas de 16 telespectadores

Em mais uma sessão de perguntas e respostas sobre cruzamento industrial, foram 16 dúvidas de telespectadores do Giro do Boi atendidas pelo especialista no assunto, Alexandre Zadra, zootecnista, autor do blog Crossbreeding e supervisor regional comercial da Genex para os estados do Acre, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia.

O produtor atendeu, por exemplo, um criador que quer aumentar o peso da desmama da bezerrada que ele comercializa no Triângulo Mineiro usando cruzamento industrial com sua base de fêmeas Nelore.

Zadra também tirou a angústia de um produtor que tem uma base de fêmeas F1 Senepol e, ao cruzá-las novamente com Nelore, elas produziram bezerros muito grandes e tiveram muito trabalho no parto, a chamada distocia.

Confira na lista a seguir as respostas às 16 perguntas de telespectadores sobre cruzamento para gado de corte.

– Tenho fêmeas de várias raças: Charolês, Limousin, Hereford e Brahman. Gostaria de saber que touro posso cruzar com elas? Tem uma raça que seja melhor? (José Wilmar, de Fraiburgo-SC)

Zadra: Primeiro a gente precisa saber do mercado – se ele vai vender bezerro, se ele vai aproveitar fêmea, se ele vai vender boi, se ele engorda… Mas, de um modo geral, a gente precisa procurar sempre duas coisas: heterose, ou choque de sangue, e padronização. No caso dele, se ele jogar, por exemplo, um Brangus, vai muito bem. Se ele quiser fazer um cruzamento com um africano, um Bonsmara, vai muito bem porque ele pode usar em todo o gado dele e vai ter heterose de 100%. Por exemplo, um Canchim também vai bem, um Braford vai bem. […] É importante ele saber que o metabolismo ideal é esse metabolismo de ⅝, que cria um pelinho no inverno e perde pelo no verão. Portanto, esses touros bimestiços, ou o Bonsmara, vão muito bem no gado dele.

– Minha fazenda fica no Vale de Jequitinhonha, no município da cidade de Rio do Prado-MG. Atualmente crio Nelore – engordo o bezerro até mais ou menos 14 arrobas e vendo. A região é muito quente e com pouca chuva. Gostaria de saber se caso eu cruze touro Senepol com minhas vacas Nelore essa produção teria boa saída. Este gado se adapta bem a esta região? Eu venderia a produção mais rápido, porque ela ganha peso melhor que o Nelore? (Mônica Lacerda Grandini, de Rio do Prado-MG)

Zadra: Vai muito bem, sim, esse cruzamento, Senepol com Zebu, com Nelore, no seu caso. Você estará gerando heterose com pelo zero, fazendo um animal 100% tropical. Você vai manter um animal sendo 100% do calor, porque o Senepol é do calor, e você ainda está gerando heterose, choque de sangue. É muito interessante esse cruzamento, então vá firme que você vai vendê-los com mais precocidade, mais novos, porque quando você cruza com animal taurino, você tem um ganho de peso diário maior.

O que o criador pode esperar do cruzamento do Senepol com Nelore?

– Qual seria o cruzamento melhor a fazer em suas vacas Tabapuã, de muito baixo aproveitamento de carcaça e de difícil comercialização? (Isidro de Oliveira, de Pirenópolis-GO, enviando a pergunta de seu primo Eufrásio Camargo)

Zadra: Como touro, a gente recomenda os adaptados, os bimestiços. Quando eu digo adaptados, eu me refiro a Senepol, Bonsmara ou Caracu, ou os bimestiços – como touro. Agora se ele for inseminar, se ele tiver algum técnico que insemine para ele, a gente recomenda que seja usado um europeu, sejam os continentais, como Simental ou Charolês para um cruzamento terminal ou, se ele quiser aproveitar as fêmeas, pode usar os britânicos, como Angus ou Hereford na Zebu.

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– Tenho vacas Nelore e queria saber qual o melhor cruzamento para ter um bezerro pesado. E qual o cruzamento que eu iria utilizar nas filhas que irão nascer desse primeiro cruzamento? (Fernando Severino, de Campina Verde, no Triângulo Mineiro)

Zadra: Primeiro você tem que definir o seu objetivo. Se você vende bezerros, você precisa saber qual é a preferência do mercado local. Eu conheço bem o Triângulo Mineiro e a região tem uma preferência por bezerros brancos. […] Mas se você quiser gerar heterose, também existe um outro mercado já nos leilões de Frutal. Existem leilões bons para animais cruzados, então você pode usar uma raça que dê padronização na cor. Por exemplo, o Angus. Com Angus, os bezerros vão nascer 100% pretinhos e a desmama vai bem, é uma desmama pesada com mercado garantido.

– Com a utilização de um touro Senepol em uma vaca F1 Sindi x Nelore, nós teríamos um animal precoce com bom rendimento de carcaça? (Marcelo Medeiros de Oliveira, de Andrelândia-MG)

Zadra: Quando a gente pensa em heterose, em choque de sangue, a gente tem que usar raças diferentes. Em cima da sua Sindi x Nelore, você pensar no Senepol é uma ótima decisão porque ele é taurino e você está jogando sobre uma matriz 100% zebuína. Então você tem heterose com pelo zero, como eu sempre falo, e aí o resultado vem com facilidade, porque ele é rústico e ele tem heterose, choque de sangue. Pode ir firme que você vai ter um bom resultado e animais pesados.

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Na sequência, Zadra respondeu pergunta de um telespectador se perguntou se a cruza do Sindi com Nelore gera heterose.

Zadra: Vai, sim, porque o Sindi, em termos de genética, é a raça mais distante dos outros zebuínos indianos, […] ele é do Paquistão, então você tem certa heterose, mantendo 100% de tropicalização, pois são animais 100% tropicais. Agora você tem 100% de heterose? Sim, mas elas se complementam um pouco menos do que se você usar uma raça europeia, um bimestiço ou um africano, como, por exemplo, um Bonsmara, um Caracu ou Senepol. Aí você teria mais complementaridade, o acasalamento é mais bem feito. Mas o Sindi na Nelore vai muito bem.

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– Eu tenho F1 Senepol, cruzo as novilhas com Nelore e tive bezerros muito grandes, tive bastante trabalho. Por isso pergunto: qual é o cruzamento ideal para a F1 Senepol? (Sidnei Rodrigues, de Machadinho do Oeste-RO)

Zadra: Nós não recomendamos que se use Zebu numa fêmea que não tem cupim. Ninguém sabe o porquê, mas o Zebu, na barriga de uma feminha taurinizada, meio-sangue, fica dez dias a mais lá dentro, na barriga dela, e ela pare dez dias depois. Dez dias depois são oito a dez quilos a mais que o bezerro normalmente nasce. Aí a gente costuma ter problema de parto, ou distocia, quando nós temos esta condição: Zebu na barriga de uma F1 que não tem cupim. Portanto não use Zebu que não seja provado para parto fácil. Ou: use Zebu provado parto fácil se for para usar Zebu na F1, que vai dar um belo bezerro desmamado, ¾ Zebu, que é muito rústico e pesado […]. Ou ainda, na primeira cria, cruze com um bimestiço, com um Caracu, com o Senepol, um Bonsmara e aí na segunda cria, se você quiser usar Zebu, aí você usa da segunda cria para frente.

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– Sei que o Charolês é a raça com maior ganho de peso e gostaria de saber quais as raças que possuem ganho de peso similar. E na criação de uma raça sintética, é necessário usar uma raça europeia continental ou apenas Angus ou Red Poll com uma raça adaptada? (Jhuan Augusto Gonçalves da Paz, de São Félix do Coribe-BA)

Zadra: Outros continentais além do Charolês que ganha, muito peso são, por exemplo, o Simental, podemos usar até o Black Simental, […] Na questão de como formar um bimestiço, tanto faz ser continental como britânico, seja Angus, que você forma o Brangus, seja Hereford, que forma o Braford ⅝, com o Simental você forma o Simbrasil, ou Simbra. Então depende do seu objetivo. Se você já tem uma meio-sangue Angus ou Simental, aí você faz o rotacionado entre essas duas raças, entre Zebu e Simental, e você vai fazer o Simbrasil. Se você já tem a sua meio-sangue Angus, você faz um rotacionado entre Zebu e Angus e vai fazer o Brangus, perfeito! O que você tiver de base, continue com a mesma raça que você forma o seu bimestiço.

– Gostaria que o Sr. Alexandre Zadra nos respondesse sobre as características da raça Simbrasil, se esta raça vai bem aqui no Tocantins e se poderia ser uma opção de fazer animal F1 com Zebu ou fazer um tricross. (Alexandre Andrade de Souza, da Fazenda Canadá em Paraíso do Tocantins-TO)

Zadra: se você tiver a sua meio-sangue Angus, o Simbrasil vai muito bem. Mas, antes de tudo, sempre devemos deixar claro o seguinte: é lógico que no Tocantins é um pouquinho mais seco que a média do Brasil. Sendo seco, o animal ⅝ vai razoavelmente bem. Na época das águas, se tiver muito calor e umidade, esse bimestiço ⅝ de europeu precisa de um capricho, de um pasto caprichado com piquetes menores, que aí ele vai cobrir bem. Agora o ideal seria você usar esse Simbrasil em cima de uma meio-sangue. Se você não tem a vaca meio-sangue, na Nelore também vai muito bem, você vai fazer um 11/16 zebu, que é muito rústico e tem uma certa heterose. Esse animal Simbrasil na Zebu é muito bom, mas se tiver o Simbrasil na F1, melhor ainda.

– Estou experimentando o cruzamento através de IATF com Aberdeen Angus em vacas Nelore e Tabanel. As fêmeas F1 deste cruzamento deverão ser inseminadas em IATF com que raça: Nelore, Tabapuã ou o próprio Aberdeen? Considerando que não quero apurar a raça Aberdeen porque nosso perfil é Nelore. (Clayton Muniz, de Medeiros Neto-BA)

Zadra: O que você pode fazer? Sobre a f1 Angus e a Tabanel, faça o tricross, Utilize, por exemplo, mesmo o Caracu, Senepol, ou um bimestiço, vai muito bem, ou Bonsmara, que vai muito bem no seu gado. Você gera heterose com um pelo adequado para a região.

– Minha terra é muito quente. Eu tenho novilhas Caracu e quero saber se eu posso cruzar com touro Senepol ou Caracu, e qual a melhor opção dos dois. (Lucas dos Reis, de Barreiras-BA)

Zadra: Provavelmente quando ele fala novilha Caracu, é novilha meio-sangue Caracu x Zebu. […] Então o ideal é você jogar uma terceira raça. […] Quando você pensa em Senepol como touro, ele vai cobrir muito bem e vai ter um equilíbrio, porque ele é um biotipo britânico, e você estará jogando ele sobre um animal de biotipo continental, animal grande. Portanto, o acasalamento, ou casamento, é perfeito quando você usa um Senepol como touro. Lógico que, se fosse inseminar, o melhor seria um Angus. Mas se ele usa o Senepol sobre essa meio-sangue Caracu, ele vai fazer um animal equilibrado, com pelo zero e 100% tropical.

Vale a pena cruzar touro Caracu com vaca Nelore?

– Gostaria de saber se posso utilizar touros da raça Santa Gertrudis em minhas vacas Nelore e Tabapuã, em um rebanho criado a pasto. Ou você indicaria outra raça para o cruzamento? (Tânia Ribeiro, pecuarista de Palmeiras de Goiás, região central do estado)

Zadra: Vai firme! Se você tem o Santa Gertrudis perto de você ou mesmo o Canchim, ou alguma outra raça bimestiça, use! O Santa Gertrudis é o bimestiço mais antigo do mundo. Ele foi formado em 1920 e, em 1940, o livro se fechou no King Ranch, nos EUA. Então é um bimestiço muito consistente, tal qual o Canchim, por exemplo, e ele faz um meio-sangue Santa Gertrudis x Zebu praticamente todo brasino, araçá ou tigrado, como vocês queiram chamar. É muito pesado e rústico, adaptado e a desmama é super pesada. É um excelente cruzamento. Vá em frente!

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– Depois de mais de 40 anos na lida pantaneira, decidi sair de lá em 2019. Moro no RJ e aqui tenho uma propriedade em Teresópolis, onde faço cria de Nelore e cruzamento com Red e Aberdeen Angus. Gostaria de saber se existe algum programa de confinamento para cria, ou seja, confinar as vacas para que criem dentro do confinamento e depois seguir com o planejamento até conduzir a produção ao abate.

Zadra: Essa é uma prática comum entre aqueles que fazer o cruzamento terminal, em que eles pegam a vaca meio-sangue, fazem um tricross e, antes da desmama, com três meses, eles fecham a vaca com o bezerro. O bezerro come junto com a vaca e a vaca vai para o abate gorda e o bezerro continua depois num sistema nutricional com dieta de grão até o abate. No caso, eu tenho contato, se você quiser. Tem dois ou três programas que trabalham com nutrição de bezerros desde três a quatro meses no alto grão, inclusive, com menos trabalho, e depois a vaca vai embora. Os resultados são espetaculares, inclusive com grão inteiro. Tem programa em Mato Grosso do Sul, por exemplo, que o bezerro não precisa comer nada de verde, é só grão inteiro. A ração é pronta, então ele não precisa comer silagem. É muito interessante.

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– Gostaria de saber qual touro colocar em fêmeas Devon: Angus, Braford ou Hereford? (Sulivan de Oliveira Pereira, com propriedade próxima a Lages-SC)

Zadra: Lá em Lages a gente precisa ter animal mais europeuzado sobre essa meio-sangue britânica que você faz. Qualquer uma dessas três raças é muito boa, aí você pode fazer novamente um europeu em cima delas, fazendo um cruzamento terminal ou rotacional, tanto faz. Mas use duas vezes o europeu que a Coxilha Rica não é fácil, não! O animal precisa criar pelo.

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– Minha fazenda está no semiárido do estado de Pernambuco. O que você recomenda para cobrir fêmeas Guzolando para produção de bezerros de corte? (Gilberto Azevedo, de Bom Conselho-PE)

Zadra: Os próprios bimestiços e os adaptados vão muito bem. Lembre que a gente sempre recomenda que se use um taurino ou um bimestiço sobre a novilhinha que não tem cupim. No caso, o Guzolando é uma novilhinha taurinizada, então não jogue Zebu sobre ela! Jogue um adaptado, como Senepol, Bonsmara, Caracu ou os bimestiços, ok? Como touro, o Senepol, o Bonsmara e o Caracu trabalham muito bem aí porque aí é seco. Mesmo os bimestiços vão trabalhar bem porque é seco, então eles conseguem fazer a regulação térmica e ter conforto térmico. Então pode usar bem essas raças que você vai ter um resultado espetacular.

– Tenho uma área de 15 hectares mecanizada e com água em abundância. Estou querendo iniciar na atividade da pecuária com gado de corte e gostaria de uma informação a respeito de uma raça que seja resistente ao clima litorâneo, sendo que a predominância na região é o búfalo pela rusticidade. (Paulo Vinícius, de Antonina, região litorânea do Paraná)

Zadra: A questão é que precisa ter casco forte! Casco forte é casco escuro e o que eu recomendo, por exemplo, para o Pantanal ou regiões que são alagadas, que têm muita água e umidade, é que basicamente você use animais da região. Primeiro você vai comprar vacas na região, animais da região adaptados, com casco forte, porque quem sobreviveu aí tem casco forte. Depois você gera heterose com choque de sangue fazendo cruzamento com uma raça de casco preto também. O Angus, por exemplo. No Acre, o Angus x Zebu vai muito bem por quê? Vai melhor inclusive do que algumas raças zebuínas porque ele tem casco preto e as fêmeas não têm problema de amolecimento de casco. Esse é o problema sério de locais onde tem umidade.

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Confira a sessão completa com Alexandre Zadra no vídeo abaixo:

Foto ilustrativa: bezerros Brangus x vacas F1 e bezerros Angus x vacas Zebu / Reprodução Crossbreeding.com.br