Quando começar a vermifugação de bezerros? Veja dicas para fazer o calendário anual

Pecuarista pode aproveitar passagem do gado pelo curral para vacina contra aftosa e aplicar protocolos de prevenção contra verminoses e clostridioses

Em entrevista ao Giro do Boi nesta terça-feira, dia 11, o médico veterinário Daniel Rodrigues, gerente técnico de ruminantes da MSD Saúde Animal, falou sobre a hora certa de começar a vermifugação dos bezerros e como elaborar o calendário de combate aos parasitos internos dos bovinos.

O assunto se torna especialmente importante na entrada da entressafra porque os bovinos serão duplamente desafiados – o desafio sanitário natural pelos vermes e o desafio nutricional, pela piora da condição das pastagens, o que pode enfraquecer os animais.

“O que vai acontecer agora no nosso país tropical em grande parte das áreas de pastagens da pecuária de corte? Vai ocorrer uma mudança das pastagens também. Nossas pastagens são tropicais, então no período do inverno essas pastagens começam a perder um pouco da qualidade. E se não fizer o tratamento adequado para tirar os ‘competidores’ que estão dentro dos animais, que são, no caso, vermes e parasitas, essa diminuição da qualidade de pastagens mais a presença da verminose vai resultar em menor desempenho dos animais. Então é muito importante nesse momento os dois pontos. O primeiro é tirar a verminose e corrigir essa qualidade da pastagem através da suplementação, que hoje são tecnologias muito importantes para que a gente possa melhorar o desempenho dos animais. Então você trata os animais, trazendo a eles mais saúde, e faz a complementação nutricional. Aí você vai ter a possibilidade de grandes ganhos através desses processos tecnológicos que a pecuária tem adotado”, indicou.

Na sequência, Rodrigues indicou quando o criador deve começar o tratamento de sua bezerrada – a partir dos dois meses de vida – e justificou. “Quando nós imaginamos uma pecuária de corte, a partir de 60 a 90 dias de vida deve-se iniciar esse processo de vermifugação. Isso porque os nossos animais nascem no período das águas, então eles têm o desafio maior quando eles estão começando a pastejar, em torno de 30 dias, de já estar ingerindo essa maior quantidade de larvas na pastagem e eles começam a se contaminar. Então eu trato o bezerro em torno de 60 a 90 dias. Posteriormente, eu vou replicar o tratamento quando ele estiver na fase de desmama e, depois, eu vou monitorando a cada 90 dias, dependendo da escolha do produto que eu tenha utilizado na minha propriedade” revelou.

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Rodrigues destacou que a prevenção com o uso de endectocidas é uma das principais formas de controle dos parasitos internos porque muitas vezes a infecção é subclínica, ou seja, sem sintomas vistos a olho nu. Nesses casos, o prejuízo é mais perigoso porque a perda de desempenho do animal não é monitorada.

“Esse é um grande desafio que nós temos no controle desses parasitas internos porque quando eu olho os animais no lote, muitas vezes aquele animal está aparentemente normal, só que ele está deixando de ganhar peso porque ele está com uma carga de verminose mais alta. E hoje, com a tecnologia da nutrição, muitas vezes a gente fica com os problemas ‘mascarados’. O animal está sendo suplementado um pouco a mais. Então qual o prejuízo que o pecuarista tem? Ele investiu num gado de qualidade genética elevada, ele está investindo em nutrição e a verminose está roubando dele esse potencial que o animal poderia expressar. Por isso é importante o controle parasitário. Você costuma observar que dentro de um lote, às vezes, você tem três ou quatro animais em um lote de 100 animais que não se desenvolvem e são animais contemporâneos, animais da mesma era, do mesmo touro de origem da IATF, e eles vão ficando para trás. São aqueles animais que normalmente estão com a carga parasitária maior”, indicou.

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O veterinário ponderou que são raros os casos em que a verminose apresenta sintomas clínicos, que podem ser observados ao olhar para o bovino. “Às vezes, em alguns casos muito graves, de uma verminose que a gente chama de hemoncose, eu posso ter os animais dando edema de barbela. Mas são situações mais graves, em que a intensidade da verminose está bem elevada dentro daquele lote de animais. Isso não é tão comum hoje de a gente observar. Mas pode acontecer de o pecuarista chegar e ver um ou outro animal com edema de barbela dentro de um lote de animais”, informou.

Para um controle adequado das verminoses, Rodrigues sugeriu que o pecuarista separe estratégias diferentes conforme a categoria de cada animal. “O importante é separar por categorias dentro da propriedade. Se eu tenho uma fazenda de ciclo completo, e eu tenho a fase de bezerros até 60 a 90 dias, eu faço a primeira dose do vermífugo. Depois eu vou fazer uma segunda aplicação no processo de desmama, que vai estar entrando nesta fase agora do período de inverno – grande parte da desmama no Brasil é na transição outono-inverno, no máximo no finalzinho do inverno que eu tenho a desmama. Depois eu faço no período das águas, que é a primavera-verão, e eu faço uma outra aplicação neles. Aí eles vão mudar de categoria e, no próximo ano, eu vou seguir com pelo menos três aplicações. Aí o que é interessante? Final das águas, no meio da seca, e início das águas daquele ano até o animal ficar próximo do período de abate”, resumiu.

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Rodrigues disse que o uso do calendário como estratégia de controle de verminoses ganha relevância dentro de uma pecuária cujo ciclo é cada vez mais curto. “Hoje nós estamos cada vez mais com o ciclo mais curto, então possivelmente esse animal, no primeiro ano, toma vermífugo aos três meses, depois na desmama e quando ele está chegando aos 12 meses de idade, ele toma a terceira dose no primeiro ano. No segundo ano ele vai tomar o vermífugo no período mais ou menos de maio, depois ele toma no meio do ano, no período seco, e depois ele vai tomar novamente em novembro e aí eu já vou preparar ele para os destinos – ou vai para o confinamento no terceiro ano de idade ou vai terminar a pasto”, detalhou.

PROTOCOLOS

“É importante levar em consideração hoje, principalmente, que a MSD trabalha muito o conceito do Programa Endo e Ecto. Esse programa visa posicionar os nossos endectocidas dentro daquela categoria animal, muito mais pela idade do animal. Então qual é o critério de escolha do endectocida? É a idade do animal. Por exemplo, o animal mais jovem, de 60 a 90 dias, nós temos duas opções. Ou a gente trabalha uma doramectina, um Exceller, ou a gente trabalha o vermífugo oral, que é o Panacur, que é um fembendazol. Já o animal de desmama, que precisa de um intervalo entre aplicações mais longas, aí nós vamos usar um produto de longa ação, e nós temos trabalhado o Solution (associação entre Ivermectina + Abamectina) porque nessa fase a gente se preocupa muito com os desafios dos vermes resistentes. Posteriormente, quando esse animal já está na fase mais adulta, nós vamos trabalhar com a ivermectina de longa ação. Aí a gente trabalha com Ranger LA 3,5%. Quando esse animal já está numa fase próxima ao abate, que eu só quero fazer um tratamento anti-helmíntico e preparar ele para o abate, às vezes faltando 60, 90 dias para o abate, aí nós temos trabalhado muito com o conceito do Exceller, que é uma doramectina a 1%. Então o que eu deixo de lição? É muito importante a elaboração de um calendário sanitário para a fazenda levando em consideração qual o perfil do meu gado que eu estou trabalhando”, aconselhou.

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Rodrigues reforçou o cuidado com a aplicação de endectocidas nos animais no período pré-abate para evitar a presença de resíduos na carne. Para isso existem produtos específicos que podem garantir a sanidade dos animais ao passo que, por sua curta ação, seja seguro do ponto de vista do consumo de sua carne.

“Nós temos dois anti-helmínticos muito importantes para atender esse momento da pecuária, de animais próximos ao abate. Nós temos o Exceller, que é um endectocida que tem 28 dias de carência, então ele é um endectocida de ação mais curta, e também temos um outro produto, um anti-helmíntico oral, que é o Panacur, que tem cinco dias de carência. Eles são bem seguros para atender justamente essa fase final da preparação do animal sem trazer para a sociedade o risco do resíduo”, destacou.

Rodrigues também recomendou que o produtor aproveite o manejo da vacina contra aftosa, em que parte dos pecuaristas deve obrigatoriamente levar os animais para o curral para a imunização do rebanho, para aplicar outros medicamentos, como os próprios vermífugos e as vacinas contra clostridioses.

“O momento é adequado para que a gente possa aproveitar tanto o controle da febre aftosa através da vacinação, tão importante, com todos esses cuidados. É o momento de a gente aplicar um endectocida, porque nós estamos saindo do período das águas e agora nós vamos entrar num período com mais ausência, diminuição de chuvas em grande parte do Brasil em que nós temos pecuária de corte. Então é importante esses animais estarem vermifugados. E não podemos esquecer também desse momento e aproveitar para fazer as vacinas do controle da clostridiose, que é uma importante doença que traz muito desafio à nossa pecuária. A Embrapa preconiza que em torno de três a quatro aplicações no animal nesse manejo não traz nenhum malefício para ele. Então nós temos que aproveitar para fazer a vacina contra aftosa, contra clostridioses e também a utilização do vermífugo nesse momento”, sustentou.

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O veterinário reforçou, entretanto, que para que todos os produtos de sanidade tenham efeito nos animais, o manejo deve ser tranquilo para que o gado seja bem imunizado. “Eu gostaria de lembrar e pedir para que esse manejo sempre obedeça as regras de bem-estar animal, desde a busca do animal do pasto até o seu trabalho dentro do curral”, ressaltou.

O especialista revelou que, nos bovinos, os parasitos não estão só nos intestinos. “Eu brinco que o bovino é um zoológico. Ele tem verme em várias partes do corpo. Nós podemos ter vermes no pâncreas, no fígado, no intestino delgado, no intestino grosso, no estômago, na musculatura, que é um verme famoso, o da cisticercose, que causa muito impacto, e temos os vermes pulmonares, que nos bovinos eles têm um nome muito engraçado, que é o Dictyocaulus viviparus. Ele causa muito impacto na produção pecuária, é um verme de difícil diagnóstico porque o sintoma geralmente é uma pneumonia, então a gente fica muito na dúvida se foi um vírus, bactéria ou o próprio verme causando esse problema”, alertou. “O seu controle é feito através da utilização dos vermífugos, do endectocida, que vai auxiliar a tirar esse problema sério da pecuária”, tranquilizou.

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CONFINAMENTO

Com a terminação intensiva ganhando relevância no Brasil em volume, o criador deve estar mais atento ao protocolo de entrada na fase de engorda em cocho. “No Brasil, o grande desafio da questão do confinamento em relação às doenças que acometem os animais são as respiratórias. A síndrome respiratória bovina em confinamento é o que causa grande impacto. E ela pode estar relacionada a vírus, bactérias e o boi também pode vir lá do pasto já contaminado com a verminose. Então o que nós temos feito de sugestão para o nosso amigo confinador? Na entrada do confinamento, ele pode já realizar o tratamento também com endectocida para tirar os vermes intestinais, tirar os vermes de estômago e também o verme de pulmão para que esse animal entre (no período de confinamento) sem esse desafio. Caso ele venha a ter o problema sanitário lá dentro do confinamento, a gente já fez o diagnóstico terapêutico, já separando o tratamento do verme pulmonar. Aí ele ficaria só para cuidar dos problemas respiratórios provenientes ou de vírus ou bactérias. É muito importante esse primeiro cuidado”, reforçou.

ESTRATÉGIA CONTRA A RESISTÊNCIA

Rodrigues comentou que o produtor deve lançar mão de uma estratégia que englobe vários produtos para evitar a formação da resistência dos parasitos a determinados princípios ativos dos endectocidas. “Tem uma expressão no meio desse processo muito difícil que chama resistência parasitária. A resistência parasitária tem dificultado o controle (dos parasitos) através de apenas uma aplicação de um único produto. Qual a mensagem que nós deixamos hoje para o pecuarista? A MSD tem trabalhado muito com o conceito do Programa Endo e Ecto. Então nós temos que pensar em protocolos para cuidar da verminose e protocolos para cuidar dos problemas do carrapato, do berne, da mosca separados. Porque, às vezes, com aplicação de um único produto, eu não vou conseguir fechar esse tema totalmente – tirar os carrapatos e tirar a verminose, por exemplo. Porque hoje nós temos o desafio da resistência. […] E devemos elaborar programas mais voltados para o controle, por exemplo, do carrapato, que é um grande vilão que nós temos. Eu faço o controle por endectocida, ele vai auxiliar no controle e diminuição do carrapato. Aí diminuindo aquela população, eu entro com estratégia apenas para o carrapato. O endectocida vai auxiliar no controle do carrapato e vai ser muito mais efetivo no controle das verminoses”, exemplificou.

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Rodrigues enalteceu ainda mais uma vez a importância do bem-estar no trato com os animais para evitar que eles “escondam” os seus sintomas e adiem o início do tratamento de alguma doença que possa acometê-los.

“Se você tem uma relação de entendimento do comportamento dos animais e de um bom manejo, você consegue identificar os problemas cada vez mais cedo dentro do lote. Essa identificação permite tomada de decisões mais assertivas nas escolhas do medicamento, na diminuição da carga parasitária daquele lote e, desse modo, os animais vão apresentar uma melhor qualidade na saúde. O Programa Criando Conexões, que é o programa de bem-estar da MSD Saúde Animal, visa justamente isso, possibilitar uma relação de manejo mais saudável entre os animais e o ser humano e também permitir que essa relação de manejo gere confiança nos animais para que eles possam expressar cada vez mais cedo as suas enfermidades, os seus desafios. Porque o bovino é um animal predado na natureza, então ele tende a esconder também quando ele não está bem, porque ele nos vê como predador. Se ele tem uma relação de confiança com o ser humano, ele vai nos mostrar cada vez mais cedo quais são os seus desafios de saúde e isso permitirá que a gente faça intervenções nesses animais e traga eles à saúde”, concluiu.

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A entrevista completa com Daniel Rodrigues segue no vídeo a seguir: