Vai valer a pena confinar boi em 2020? Veja análise completa do cenário

Rogério Coan abriu as contas do cenário para o confinamento negócio e estratégico em nove estados para indicar o que vai fazer diferença no lucro do pecuarista

O resultado do trabalho consultivo para confinamento e produção intensiva a pasto realizado pela Coan Consultoria em nove estados foi detalhado no programa Giro do Boi desta segunda, 18. Em entrevista, o CEO da empresa, o zootecnista Rogério Coan, tratou da viabilidade econômica desta modalidade de engorda para 2020 a partir de situações de clientes em SP, MG, MS, MT, PA, TO, RO, PR e GO. De acordo com o consultor, são contas particulares e específicas, mas que servem de referência para os demais produtores.

As contas são referentes tanto ao confinamento negócio quanto para o estratégico. O consultor explicou do que se trata cada uma. “No confinamento negócio você acaba comprando o boi magro, compra os insumos e você operacionaliza o confinamento. Já o confinamento estratégico é importante dizer que esse pecuarista tem o confinamento como uma estratégia de ajuste da taxa de lotação e, logicamente, também uma estratégia de aproveitar as nuances do mercado, já realizar a reposição de categorias mais leves e confinar com foco em terminação daquelas categorias que foram recriadas e que agora já estão em uma fase de 12 a 14 arrobas, dependendo do sistema de produção”, apontou.

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Para o confinamento negócio, Coan ponderou que o cenário segue incerto por conta da pandemia de coronavírus, quando ainda não é possível estimar os impactos na renda do consumidor, exportação e valor da reposição. Para quem pretende realizar esta modalidade, Coan fez algumas recomendações quanto à compra da reposição, sobretudo para aqueles que fizeram a compra muito valorizada.

“Por mais que seja eficiente, o sistema é realmente muito difícil para viabilizar a recria desse animal e, consequentemente, carregar até a terminação no cocho com viabilidade econômica. A recomendação que a gente pondera para os nossos clientes pecuaristas é ter muita cautela. O mercado está muito volátil e esta volatilidade traz, na verdade, uma incerteza do que vai acontecer e como vai acontecer. Mas uma coisa é certa, um dos detalhes muito importantes na operação pecuária, seja de recria e engorda ou de confinamento, é a reposição. Lembrando que a reposição, principalmente do boi magro quando a gente pensa no confinamento, representa entre 65% a 71% do custo de produção. Não podemos errar”, destacou Coan.

O consultor tratou ainda do cenário para a aquisição dos insumo, o segundo item na lista de maiores custos do confinamento. “Depois vem insumos, que perfazem por volta de 20% a até 25% (dos custos). Então são dois itens que o pecuarista tem que ter uma habilidade comercial muito grande porque é o que faz a diferença juntamente com a boa negociação na venda”, acrescentou.

Na aquisição dos insumos, Rogério disse que é importante partir do princípio de que o milho deve ter o preço reduzido conforme a chegada da safrinha, que aumenta a disponibilidade do grão que é o principal ingrediente energético das dietas de cocho. “A recomendação que a gente faz para os nossos clientes é que ele vá fazendo compras parceladas de acordo com a demanda, de forma a fazer preço médio. Porque se o preço tende mesmo a diminuir a cotação a partir de julho, o pecuarista tem opção de comprar mais barato para frente. A recomendação não é fazer grandes estoques no presente momento”, indicou.

Para fazer valer todo o potencial do protocolo nutricional para o gado confinado, Rogério falou da importância de dividir a dieta em três fases: adaptação, crescimento e terminação. Na primeira, que pode ser disponibilizada por até 14 dias, o objetivo é preparar o rúmen do animal para a dieta mais intensiva, fornecendo uma dieta mais proteica. No crescimento, a dieta soma mais energia e proteína e, na terminação, foca na energia para o acabamento de gordura.

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Para fechar as contas, Coan alertou ainda para a falta do cálculo de custos operacionais. “Muito pecuarista ainda não calcula o custo operacional”, advertiu, o que pode fazer diferença no resultado final da operação.

De acordo com Coan, o cenário de custos para o confinamento se mostra, a princípio, mais viável para Mato Grosso e Minas Gerais, devido principalmente à maior disponibilidade de grãos, e mais desafiador para o Pará e Rondônia, com menos quantidade de grãos para a dieta em cocho e também mais dificuldades de logística.

O especialista tratou ainda da alternativa do uso do boitel para os pecuaristas que não têm estrutura própria. “Os boiteis, de maneira geral, têm uma visão muito empresarial, então eles têm um planejamento de compra de insumos, eles têm a previsão e a provisão. Eles fazem um planejamento muito bem feito, em consequência disso eles se tornam uma excelente alternativa para o pecuarista que, às vezes, não têm um confinamento bem estruturado. Ele pode, logicamente, encaminhar, esses animais para um boitel não só no seu estado, mas também, vamos dizer, ‘pular o córrego’, e trazer animais de Goiás para São Paulo, de Mato Grosso do Sul para São Paulo, de Minas Gerais e assim por diante. Nós temos operações em todo o Brasil muito interessantes e algumas com custo da arroba produzida ou com a diária alimentar e operacional a preços muito competitivos”, explicou.

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O zootecnista concluiu resumindo ao produtor quais são os itens mais impactantes que carregam o lucro do confinamento, aproveitando uma fórmula demonstrada pelo seu colega Antonio Chaker, do Intttegra.

“O que realmente é impactante no lucro da operação do confinamento? Nós temos a receita, logicamente a receita é de fundamental importância, e ela está diretamente relacionada com o peso desse boi gordo e fundamentada na remuneração da arroba. O pecuarista tem que negociar muito bem com o frigorífico a remuneração da arroba porque é da receita que nós vamos debitar os demais componentes de custo. Não podemos esquecer do boi magro. Para quem faz a operação negócio, é importante realmente comprar a preço competitivo para o pecuarista que usa o confinamento estratégico. Ele tem que fazer uma recria muito eficiente e, acima de tudo, ter comprado esse bezerro também a preço competitivo para ele viabilizar a entrada desse boi magro no confinamento de uma forma de custo mais barato. Depois vem a alimentação e o custo operacional, lembrando que alimentação representa por volta de 20% a 25% do custo e o pecuarista tem o compromisso de se provisionar quanto a produção dos alimentos volumosos, comprar os insumos no momento certo na safra porque é assim que ele vai conseguir obter uma diária alimentar mais barata”, revelou.

Coan recomendou ainda que o pecuarista execute sempre a fórmula PDCA (da tradução livre do inglês, Planejar – Executar – Verificar – Agir) para que se certifique de que tudo ocorra sem imprevistos.

A palestra intitulada “Análise de viabilidade econômica – primeiro ciclo de confinamento 2020” fez parte da programação do primeiro Webinar Giro do Boi – Confinamento Brasileiro e pode ser baixada em PDF na página abaixo, que conta também com a transmissão na íntegra de sua apresentação e explicações:

+ Acesse aqui o Webinar Giro do Boi – Confinamento Brasileiro

Veja abaixo a entrevista completa com Rogério Coan que foi ao ar nesta segunda, 18:

 

Foto: Juliano Ribeiro / Secom-TO