Intensificação do uso de tecnologias digitais compensa impactos da Covid-19 no Agro

Setor conseguiu "mexer na turbina com o avião em pleno voo", comparou o pesquisador Gilberto Menezes, do programa Geneplus-Embrapa

Foi necessário “mexer na turbina com o avião em pleno voo”, conforme comparou o zootecnista, mestre e doutor em genética e melhoramento pela UFV, Gilberto Menezes, pesquisador da Embrapa Gado de Corte. Uma tarefa complexa que um setor exemplar para mundo inteiro, como é agro brasileiro, deu conta. Em entrevista ao Giro do Boi desta quinta, 06, Menezes falou da reinvenção da equipe do programa de melhoramento Geneplus-Embrapa em meio à pandemia de Covid-19.

O pesquisador ponderou que a coleta de dados em si para o programa sofreu poucos impactos por conta de as atividades serem realizadas no campo, sem necessidade aglomeração e ao ar livre, mas que outras reuniões técnicas, de capacitação ou de comercialização, tiveram seus calendários alterados. Entretanto, a intensificação do uso de tecnologias digitais atenuou os efeitos da pandemia.

“Nós tivemos que usar a criatividade. Não teve jeito. Partimos para o uso intensivo destas tecnologias digitais que, felizmente, hoje nós temos à nossa disposição. Em termos, por exemplo, de capacitações, a gente vez fazendo webinários, lives, que nós temos temos feito também bastante para tentar compensar este momento tão difícil. Agora algumas situações não foram possíveis de reverter, como, por exemplo, um evento importante que nós temos dentro do programa Embrapa-Geneplus, que é o Circuito Geneplus”, lamentou.

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Dentro da avaliação de reprodutores, as provas das raças Brangus e Santa Gertrudis, por exemplo, tiveram que ser adiadas para 2021, ao passo que a do Nelore, cujo calendário já estava mais avançado, pôde ser concluída.

O evento tradicional realizado ao final das provas de avaliação, caso da Semana Técnica do Geneplus-Embrapa, sofreu adaptações e teve contribuição importante na atualização técnica dos parceiros do programa de melhoramento, conforme frisou o zootecnista.

“Quando surgiu a questão da pandemia, obviamente já tivemos que pensar em cancelar e aí surgiu a ideia de fazer a Semana Técnica virtual. Nós seguimos uma semana inteira, de segunda a sexta, e aí não dá para você concentrar várias palestras num dia, então a gente fez uma live por dia focando em temas que consideramos relevantes, que eram importantes de a gente discutir. Sempre reunindo alguém da nossa equipe técnica e um criador, um parceiro nosso do Geneplus. Então ao longo desta semana a gente discutiu a parte de preparo de touros para comercialização, uma parte muito importante, […] este assunto muitas vezes é negligenciado, muitas vezes a gente de produção do touro e da venda, mas o preparo destes animais é muito importante”, exemplificou o pesquisador. Entre outros temas tratados nesta semana intensa de capacitação estiveram ainda influência da genética na produção da carne de qualidade, seleção para produzir qualidade de carne, tecnologias para chegar a este objetivo, como ultrassonografia, e uso da genômica na prática, sempre casada com a realidade das fazendas.

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Além da Semana Técnica, o próprio pesquisador, em participação na Semana Intergado Efficiency, fez apresentação sobre as novidades em eficiência alimentar e hídrica aos pecuaristas. O assunto está em evidência porque a tecnologia que possibilita a mensuração destas características está cada vez mais presente não só nas estruturas dos programas de seleção e melhoramento, como nas fazendas de gado de corte por todo o Brasil.

“(Eficiência alimentar) Tem uma relação muito grande com o custo de produção e com a lucratividade da atividade. A alimentação tem um peso importante, em monogástricos, aves e suínos, isso é mais impactante, mas em ruminantes, como os bovinos, isto também acontece. A gente tem visto, ao longo dos últimos anos, uma evolução da nossa pecuária, uma tendência de intensificação, avanços em termos de manejo de pastagens, adubação de pastagens, suplementação, aumento do uso de confinamento e semiconfinamento. Então quando a gente tende a ter um pasto ou mesmo um suplemento e uma dieta de mais alto custo, a eficiência alimentar tende a aumentar mais ainda sua importância porque o custo da alimentação faz diferença. Então não é só no confinado, está na pecuária a pasto também”, comentou.

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O pesquisador confirmou que há variabilidade genética e ferramentas disponíveis para buscar estas características nos animais, incluindo a eficiência hídrica, uma preocupação mais recente da pecuária que deverá ganhar relevância na seleção de bovinos.

“Talvez as pessoas perguntem: ‘será que eles estão falando de avaliar qual animal consegue ganhar mais peso com menos água?’ É isso mesmo, gente. É esta a ideia. E talvez agora possa até parecer estranho no Brasil. ‘Poxa, mas a água? A água não tem custo!’. Acreditem, tem custo e a tendência é que isto vá aumentar. Esta conta vai chegar para nós”, salientou.

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Gilberto comentou ainda em sua entrevista o lançamento do segundo sumário genômico do Senepol, que acrescenta estas avaliações genéticas às DEPs dos reprodutores da raça. “Melhores informações para tomadas de decisão. O sumário genômico, com mais características, vem melhorar a acurácia. É isso que ele traz. E algo importante: é um benefício para o selecionador que está fazendo o processo de melhoria da genética Senepol na sua fazenda, mas também muito importante para o usuário da genética Senepol, o produtor de boi, porque ele tem, então, informações para fazer o melhores negócios e comprar aqueles animais, adquirir material genético daqueles que realmente vão fazer melhor, mais diferença no seu negócio”, apontou.

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O próximo desafio de uso de tecnologias digitais para o Geneplus-Embrapa será a participação na Expogenética 360º, que será realizada pela ACBZ entre 15 e 23/08 e de modo 100% virtual. Na ocasião, o programa lançará, por meio do convênio com a ACBZ, o do Sumário de Touros PMGZ/Geneplus, agregando mais informações a um banco de dados que já reúne quase 100 mil animais genotipados.

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Confira no vídeo a seguir a entrevista completa com Gilberto Menezes:

Foto ilustrativa: Reprodução / Embrapa