Pecuária leiteira 4.0: colar de comportamento emite alertas ao produtor via app

Recebendo alertas pelo celular, pecuarista antecipa intervenções de manejo, sanitárias ou reprodutivas e tem mais tempo para se dedicar à gestão da fazenda

É como se a tecnologia virasse uma enfermeira dentro da porteira. Em reportagem da série especial Embrapa em Ação exibida no Giro do Boi desta quinta-feira, dia 17, a médica veterinária e doutora em zootecnia Isabel Ferreira, pesquisadora da Embrapa Cerrados, apresentou o sistema de produção de leite a pasto conduzido pela instituição e analisado pelo CTZL, o Centro de Tecnologia de Raças Zebuínas Leiteiras. Além de toda a atenção dos pesquisadores para ajustes que possam elevar a sustentabilidade e produtividade, o sistema conta com colares de comportamento que enviam alertas de sanidade, reprodução e manejo via aplicativo direto para o celular do produtor.

“Na produção de leite a pasto no período chuvoso a gente trabalha no manejo rotacionado. Nós estamos em uma área de oito hectares, dividimos em 12 piquetes de 0,67 hectare cada com 22 vacas. Dependendo da condição de clima, de chuva, da adubação de reposição, a gente deixa dois dias de ocupação, para a vaca pastejar aqui por dois dias. Esse lote está entrando hoje e amanhã até o final da tarde ele ainda fica aqui, mas depois de amanhã já sai para o piquete ao lado e vai fazendo esse rodízio nos 12 piquetes. Depois de 24 dias, o lote já estará voltando aqui”, explicou.

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A pesquisadora destacou a importância da rotação para o sucesso da produção de leite a pasto. “Esse tempo de descanso da forragem é muito importante para que o capim se recupere. E o princípio básico do pastejo rotacionado é que a vaca colha a folha, só folha de alta qualidade, a ponta do capim, e que não tenha desperdício, que ela não pisoteie, que o capim não passe da altura ideal de pastejo, que a vaca consiga consumir a maior quantidade e a melhor qualidade no tempo de pastejo dela”, justificou.

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A produtividade do pasto é saudável não só para os animais, como também para o bolso do produtor, conforme constatou a veterinária. “A parte do consumo do volumoso diminui muito o custo de produção porque o produtor pode diminuir o uso de concentrado e usá-lo racionalmente. Nas nossas condições, as vacas têm uma produção de leite individual de 16 ou 17 quilos por dia e consumindo concentrado na proporção de três litros de leite para cada quilo de concentrado. Então é o uso racional que a gente consegue atender e economizar do ponto de vista da alimentação”, informou.

A doutora em zootecnia destacou também o papel que a seleção genética dos animais no sucesso da produção de leite a pasto. “O outro ponto importante da sustentabilidade é o uso do grupo genético, da raça, que vaca eu vou colocar nesse sistema a pasto. A opção pelos cruzamentos tende a ser mais interessante porque a gente tem vacas cruzadas de Zebu com taurinas, seja Holandês, seja Jersey. E esse Zebu pode ser Gir, pode ser Sindi ou Guzerá. Nesses cruzamentos, a gente vai ter um produto, uma vaca de porte médio que consegue se locomover, andar pelo corredor, tem bons cascos, é rústica, que suporta o calor tropical e é resistente a carrapatos, bernes, resistente a ectoparasitas de forma geral e que tenha saúde. Como ela é de porte médio, ela não precisa comer demais, não é tão exigente nutricionalmente falando. Então esse é um animal médio e eficiente porque quando a gente vê a produtividade em quilo de leite por hectare, que é um parâmetro interessante que o produtor tem que medir, e nas nossas condições aqui, que é um sistema médio de produção a pasto, a gente está em torno de nove mil quilos de leite por hectare ao ano. É um sistema interessante que traz sustentabilidade para o produtor”, avaliou a pesquisadora.

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TECNOLOGIA COMO ALIADA

Ajustando a estrutura e o manejo de pasto e ainda a escolha da genética, então o produtor pode lançar mão de tecnologias que facilitem a gestão de seu sistema produtivo. “A tecnologia auxilia. Quanto mais o produtor puder lançar mão dessas ferramentas, mais conforto e mais tempo vai sobrar para o seu lazer, como a gente diz. Você põe a máquina para trabalhar para você e fica de longe observando”, ilustrou Isabel.

E uma das novidades que estão sendo validadas nos campos experimentais do CTZL é o colar de comportamento. “A gente usa aqui um colar de monitoramento animal, que monitora atividade do animal, a ruminação com o objetivo de ver se está tudo certo. Ele dá alertas e apita quando o animal tem algum problema de saúde, se o animal parou de ruminar. Então ele indica e dá para identificar previamente problemas como mastite, se o animal parou de se alimentar e o mais importante: os alertas de cio, principalmente para vacas que dão cios noturnos. Com esses alertas de cio, o produtor pode economizar, por exemplo, no uso de protocolos hormonais para fazer a inseminação artificial em tempo fixo. É uma forma de economizar também com a mão de obra para observação do cio, que às vezes fica até tarde. Então o colar ajuda muito e indica o horário da inseminação dos animais, uma vez outro ponto de grande relevância financeira é que a vaca dê um bezerro por ano, um parto por ano. Isso é muito importante. Com essa vaca de porte médio com uma produção de 16 a 17 kg de leite por dia, a gente consegue um bezerro por ano monitorando de perto tudo isso e observando esse cio para a gente não perder os cios”, detalhou a veterinária.

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Observando ainda se o animal está ruminando da maneira esperada, o produtor pode ficar tranquilo que ela terá condição corporal para emprenhar no próximo período reprodutivo, por exemplo. “E com essa forragem a gente também consegue manter o escore corporal, pois as vacas não podem emagrecer muito logo após o parto. Elas emagrece, porque tem o balanço energético negativo, as vacas sentem muito depois do parto, mas a gente não pode deixá-las muito magras porque elas não conseguem dar cio depois . Então trabalhando dessa forma a gente consegue manter o escore e ter a vaca produzindo um bezerro por ano, que é um outro fator financeiro muito importante”, lembrou Ferreira.

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A pesquisadora mostrou em seu celular durante a entrevista alguns dos alertas que recebia em tempo real. “Tem alertas de nutrição. O lote 2, que tem 19 animais, reduziu em 3,48% a ruminação. Isso indica o que? Que o piquete está no segundo dia de pastejo e já diminuiu a ruminação do lote. Temos que trocar o piquete e passar para o próximo. Tem um alerta de enfermaria. Para a vaca Gaivota, do lote 2, foi emitido um alerta de observação porque tem algum problema de saúde. A minha estagiária já viu o alerta e já avisou: a vaca está claudicando, ela está mancando. Tem também alertas de reprodução: embora não tenhamos tido nenhum alerta nas últimas 24 horas, tem aqui, por exemplo, um lembrete que a vaca Branquinha, nº 502, deve ser inseminada de 14h até as 18h no dia 22”, demonstrou a especialista.

Alertas da enfermaria na palma da mão: mais tranquilidade para o produtor de leite.

“A tecnologia traz mais conforto ao produtor e ele pode investir seu tempo com outras atividades, seja na gestão da fazenda ou mesmo de lazer e bem-estar do produtor e das vacas também”, comentou Isabel.

 

Pelo vídeo a seguir é possível assistir a reportagem completa da série especial Embrapa em Ação:

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