Plataforma online mostra quais os solos brasileiros mais vulneráveis à erosão

Mapas disponíveis para consulta apontam sensibilidade à erosão dos solos de todo o território nacional a partir de três variáveis, além de trazer outros serviços exclusivos

No final de 2020, a entrega de uma plataforma virtual, aberta para consulta pela internet, marcou o início do funcionamento do Sistema Nacional de Informação de Solos. A estrutura, vinculada ao Programa Nacional de Levantamento e Interpretação de Solos no Brasil (PronaSolos), coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), se baseia em dados produzidos ao longo dos últimos 60 anos e também em estudos inéditos, como o que identificou e mapeou as áreas mais suscetíveis e que estão vulneráveis à erosão dentro do território nacional, entre outros serviços exclusivos. Os números utilizados foram apurados por fontes diversas, como pesquisadores da própria Embrapa, do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), IBGE, entre outras entidades estaduais, regionais e universidades.

Nesta quarta, dia 06, o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Solos Silvio Barge Bhering, mestre em engenharia na área de concentração de geoprocessamento e doutor em geografia na área de planejamento e gestão ambiental, falou ao Giro do Boi a respeito da novidade.

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“Para nós foi um prazer enorme! Nós fomos pegos de surpresa no início do ano (de 2020). Quando nós conversamos, ninguém podia imaginar que nós íamos enfrentar tudo o que nós enfrentamos, tivemos uma série de dificuldades de adaptação e a gente teve que consolidar esse trabalho praticamente no segundo semestre. Foi um trabalho bastante intenso de uma equipe bastante ampla, mas a grande vantagem disso é que esse é um trabalho que já vinha de uma concepção que foi construída ao longo dos últimos anos entre a Embrapa e seus parceiros na questão de organização, de agregação, integração de informações de recursos naturais para planejamento de uso e conservação sustentável dos solos brasileiros”, reconheceu.

O pesquisador destacou quais são os elementos mais expressivos da plataforma. “Como produtos inéditos, nós colocamos a disponibilidade água nos solos do Brasil, que vai ser integrada com o zoneamento de risco climático, que é uma grande política pública de governo. Nós fizemos o mapa de erodibilidade dos solos do Brasil também”, sintetizou. “Nós colocamos disponíveis três produtos bastante significativos”, continuou Silvio.

Veja na lista abaixo conforme consta no artigo oficial de lançamento da plataforma:

1 – Mapa da suscetibilidade dos solos à erosão hídrica do Brasil: expressa a sensibilidade dos solos à erosão provocada pela água em sua ambiência, ou seja, considerando a situação topográfica, ou relevo da paisagem, e as condições climáticas às quais estão submetidos. Os níveis de suscetibilidade são representados em cinco classes nominais de intensidade: muito baixa; baixa; média; alta e muito alta;

2 – Mapa da vulnerabilidade dos solos à erosão hídrica do Brasil: mostra o grau de vulnerabilidade dos solos aos processos erosivos considerando o nível de exposição em função da cobertura vegetal natural ou do uso agropecuário. Os níveis de vulnerabilidade são representados pelas mesmas cinco classes de intensidade;

3 – Mapa de erodibilidade dos solos do Brasil: expressa a capacidade do solo de resistir à erosão provocada pela água a partir de características intrínsecas, como a composição granulométrica, estrutura, conteúdo de carbono orgânico na camada superficial, permeabilidade, profundidade efetiva do solo e a presença ou ausência de camada compactada e pedregosidade.

Leia aqui na íntegra a matéria “Pesquisadores geram mapas de suscetibilidade e vulnerabilidade dos solos brasileiros à erosão hídrica”.

O agrônomo reforçou a relevância do problema da erosão em âmbito nacional. “É o principal problema que a gente pode ver como um geral, que perpassa a agricultura brasileira ou o ambiente rural brasileiro com todas as suas etapas, de Norte a Sul do País, e cada local com a sua característica específica”, salientou.

Segundo o pesquisador, a situação pode ser combatida por meio da informação. “Hoje num mundo tão competitivo e tão ágil, a informação organizada e o acesso à informação para tomada de decisões cada vez é mais importante. Não só em nível de governo, no apoio à formalização e execução de políticas públicas, como aos técnicos e aos próprios agricultores. Um grande desafio que a gente está colocando nessa plataforma é aproveitar a oportunidade e ver se a gente consegue efetivamente criar a inexistente política de geoinformação do Brasil, e não só isso, como também consolidar a implantação do Sistema Nacional de Informação de Solos a partir da incorporação de todas as informações, sejam elas pontuais, sejam elas cartográficas de estudos de solos no Brasil”, projetou.

A plataforma, com todas as informações reunidas e disponíveis para consulta, tem potencial para elevar a competitividade do agro nacional, conforme valorizou Bhering. “Para que o nosso país passe a ter informações de solos num nível de detalhes como os principais players na agricultura mundial e nossos competidores”, acrescentou.

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Embora já esteja disponível para consulta, a plataforma será constantemente atualizada com novos dados. Conforme adiantou o pesquisador da Embrapa Solos, uma das próximas atualizações previstas é um estudo de aptidão agrícola para todo o Brasil, nos mesmos moldes do já incorporado estudo de aptidão específico para o Matopiba.

“É um estudo que não foi feito para a plataforma, mas ele foi colocado de forma inédita na plataforma no sentido de integrar com outros componentes ambientais, com outras unidades de planejamento, como as bacias hidrográficas. E é um trabalho desenvolvido pela Embrapa Solos por uma equipe bastante importante, que rodou toda a região do Matopiba e fez todo esse estudo de aptidão e potencial climático de desenvolvimento agrícola e expansão da agricultura na região do Matopiba. É um belíssimo trabalho! E essa mesma equipe, no desenvolvimento e continuidade do trabalho, junto com os nossos colegas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, desenvolveu a aptidão agrícola, numa primeira versão ainda, numa primeira aproximação, da aptidão agrícola para o Brasil inteiro. Esse, sim, é um estudo inédito que será colocado num primeiro momento na plataforma, mas que ainda vai ter um lançamento especial assim que ele estiver um pouco mais amadurecido, mais validado”, confirmou.

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Assista no vídeo a seguir a participação completa de Silvio Barge Bhering no Giro do Boi desta quarta, 06.