Preocupado com doença respiratória? Boi também passa por período crítico no inverno

Época da seca traz desafios de sanidade para os bovinos por conta de poeira, inversão térmica e aglomeração em confinamento; veja como amenizar problemas

“Algumas doenças são parecidas com aquele cano que está dentro da parede e ele por acaso furou. Você não sabe que ele está furado, você só vai descobrir quando começar aparecer o bolor ou começar a cair o reboco da parede. Quando isso acontece é quando algo já está muito grande, está muito adiantado. A doença respiratória é uma das doenças que isto pode acontecer: quando nós vamos descobrir algo, já está muito avançado”, comparou o médico veterinário, mestre em reprodução animal e doutor em duas universidades norte americanas, Henderson Ayres, gerente de produtos de ruminantes da MSD Saúde Animal, em entrevista Giro do Boi nesta quarta, dia 20.

Ayers explicou porque o inverno é o período crítico para a ocorrência de doenças respiratórias em bovinos. “Nós vamos ter alguns fatores associados. Um deles é que a umidade diminui, então a gente fica com o ar mais seco. Outro ponto, que é mais importante até do que o frio em si, é o que a gente chama de inversão térmica. Tem uma temperatura durante o dia e cai muito durante a noite. […] Isso é algo que desafia muito o bovino. Além disso, como está seco, a gente tem grande quantidade de poeira. Essa poeira adentra o sistema respiratório e também vai trazer alguns problemas. Um outro ponto que nós temos que lembrar, e hoje está sendo muito discutido […] é a parte de aglomeração. Nós estamos intensificando cada vez mais a nossa criação e no confinamento a gente tem muitos animais fechados dentro do lote, então o contágio e a transmissão das doenças acontecem muito mais fácil. […] São fatores, todos associados, que ajudam dentro do sistema para a disseminação da pneumonia”, listou o veterinário.

O especialista lembrou que o problema pode se agravar pela dificuldade de diagnóstico. “Nós estamos falando de bovino. O bovino, na natureza, é uma presa, e uma presa em geral não mostra os sinais de que ela pode estar doente”, ressaltou.

Boi estressado esconde doença e dificulta diagnóstico

Por isso muito se perde com esta demora em identificar as doenças. Além da mortalidade, a perda de desempenho do animal vira um problema para o pecuarista. “O ganho diário de peso desse animal é prejudicado, o ganho de carcaça, a eficiência biológica, a quantidade de quilos de matéria seca, o quanto de alimento ele come para produzir isto, transformar isso em arroba, é diminuído. Então o animal tem que comer muito mais para produzir a mesma arroba e isso é um prejuízo muito grande. Quem tem confinamento sabe que o maior gasto é alimentação. […] Além de nós estarmos produzindo uma carne de qualidade inferior. Então a gente tem uma sequência de fatores que faz com que a perda econômica se mantenha em diversos elos da cadeia e isso não é bom pra ninguém”, alertou.

Ayres apresentou um estudo feito em parceria entre a MSD Saúde Animal e a Foco Consultoria que avaliou cerca de 280 mil animais confinados com uma taxa de mortalidade de 0,31%, sendo que quase 60% destas mortes foram causados por doenças. Dos casos diagnosticados, em 46% das vezes a pneumonia era a causadoras das mortes, contra 15% da segunda principal causa, distúrbios metabólicos. Além disso, de todas as vezes que animais no confinamento precisaram de medicação, 62% dos casos eram produtos para tratar pneumonia, contra 13% do segundo colocado, relacionados com rejeito de cocho (veja todas as tabelas na apresentação em PDF abaixo).

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“Um animal doente vai desenvolver menos, vai trazer um custo de mão de obra maior, uso de medicamentos. Tudo isto também vai trazer um prejuízo dentro do confinamento”, lembrou Ayres.

O veterinário, por fim, apresentou duas soluções que, combinadas, atenuam o prejuízo do pecuarista com as doenças respiratórias na seca. “A gente consegue fazer duas técnicas muito bacanas. Número um é classificar o tipo de animal que está chegando no confinamento. Você consegue elencar alguns critérios, como tempo de viagem, raça, escore e condição, época do ano, e você cruza essas informações e vai ter animais classificados com baixo, médio e alto risco. Os animais de alto risco você pode usar uma tecnologia chamada metafilaxia, […] você separa o grupo e faz um tratamento preventivo. Com o animal de baixo risco, você não vai fazer isso”, indicou.

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“Outro ponto é usando o (programa) Criando Conexões. Você pode fazer com que o animal conheça melhor o seu ambiente, conheça as pessoas que vão manejar. Com isso […] o boi vai estar mais confortável de poder apresentar pra você os sintomas. […] O bovino, com o homem que ele tem confiança, ele apresenta melhor os sinais”, completou. Lembre pelo link abaixo quais são as técnicas de aclimatação do boi ao novo ambiente do confinamentou:

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“A gente consegue ter tanto ferramentas pensando em prevenção em longo prazo usando parte de medicamento e associando com o Criando Conexões para aumentar o bem-estar animal dentro do confinamento”, concluiu.

Veja a entrevista completa com Henderson Ayres ao Giro do Boi desta quarta, 20: