Qual o ponto de corte do Capiaçu e do Napier para fazer silagem?

Especialista Wagner Pires participou de sessão com quase 20 perguntas e respostas sobre manejo e pasto e falou ainda sobre a chegada do capim Camello

Em entrevista ao Giro do Boi nesta quinta, dia 16, o engenheiro agrônomo Wagner Pires participou de mais uma sessão de perguntas e respostas sobre manejo de pasto. Em síntese, foram 19 dúvidas que o especialista em pastagens esclareceu. Dentre elas, umas sobre o ponto de corte do Capiaçu e do Napier para silagem.

Antes de mais nada, porém, o consultor do Circuito da Pecuária falou sobre a situação do capim Camello, respondendo questionamentos de vários telespectadores. Conforme anunciou Pires, a cultivar já ganhou registro e está à venda pelo site Tropical Seeds (Papalotla Brasil).

De acordo com o agrônomo, o material cumpre as expectativas. “Esse material é muito bom porque o grande gargalo da pecuária é o período de seca. E ele tem uma qualidade muito melhor para isso. Basta o pecuarista entrar em contato pelo site e ele vai adquirir, vai ser entregue direto para ele. E tem uma surpresa: as primeiras pessoas que comprarem vão ganhar um livro meu junto”, anunciou.

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Em seguida, Pires respondeu à série de perguntas sobre manejo de pasto, incluindo ponto de corte ideal do Capiaçu e Napier para silagem.

– Um pasto inteiro ou dividido em três piquetes dá diferença na lotação? Aumentaria minha lotação em quantos por cento? (João Benetti, de Piraju-SP)

Pires: “Tranquilamente você pode pôr de 50% a até 70% a mais. Você vai até dobrar, porque o seu capim vai ter um descanso. E automaticamente isso vai reverter em produção de massa. Dê mais ou menos dez dias (de descanso). Então o ideal não seriam três, mas quatro piquetes. Coloque a aguada e está beleza!”

– Posso tratar garrotes de até 14 meses com capim Mombaça cortado e colocar em cocho? E ofereço cru ou faço silagem? (Dilson Marques, de Paraibano-MA)

Pires: “Você pode fazer isso, mas fique de olho no custo. Porque é preferível, às vezes, você fazer o corte em etapas, fazer uma silagem dele e ir ofertando a silagem do que todo dia fazer corte e dar no cocho. Mas você pode fazer. Só fique de olho no custo. […] É um pouquinho melhor (o capim fresco). Sempre que você comer algo natural, é melhor do que o conservado. Mas hoje as tecnologias que nós temos de silagem e os inoculantes, a gente tem material praticamente tão bom quanto o natural. […] Ainda mais para a fazenda dele, no Maranhão, que está vizinho ali do Piauí, e ele passa por um período de seca drástico”.

– Tenho um rolo faca e gostaria de usar na pastagem. Ele é recomendável para baixar a altura do capim Mombaça, Zuri e Braquiarão? Se sim, qual a época que posso entrar com o rolo faca nas pastagens? (Joaquim, de Pedra Preta-MT)

Pires: “Você pode usar, mas eu não recomendo porque você vai danificar muito o seu pasto. O rolo faca não é um material para a gente usar em pasto estabelecido. E em área muito degradada, a grande preocupação da gente é destruir planta daninha e permitir uma recuperação. E pelo que eu estou entendendo, em sua área, para rebaixar pasto, não é o ideal”.

– Tenho uma fazenda em Ipiaú/BA (região do cacau), porém ela tem muito morro. Tenho plantado Brachiaria decumbens, Brizantha e Xaraés. Quero adubar, mas tenho receio que, devido à inclinação dos morros, a chuva leve todo o calcário, gesso e adubo embora. Como devo proceder? ( nderson Câmara Almeida, de Ipiaú-BA)

Pires: “Curva de nível seria uma alternativa. Outra coisa seria você fazer uma subsolagem, uma descompactação de seu solo, permitir uma melhor infiltração da água. Outra coisa, produção de palhada sobre o solo é uma barreira para ter erosão. Agora você falou de Decumbens, Brizantha e o Xaraés, tomara que seja cada uma no seu pasto, nada misturado. Mas não perca a oportunidade, não! Faça adubação. E outra coisa, você pode fazer no final do período das águas que a chuva já está suave e não vai estragar tanto”.

– Gostaria de saber se com Capiaçu é possível criar vacas parideiras com capim picado todos os dias no cocho. E na seca, dá para fazer cortes de quanto em quanto tempo? (Neilson Américo Vieira, de Bambuí-MG)

Pires: “Pode ser feito. Eu não sou muito a favor do corte diário porque você sacrifica muito a capineira. Normalmente a gente faz o corte do Capiaçu em torno de 60 dias. Isso depende muito, também, do nível de fertilidade do solo, porque o Capiaçu responde tremendamente à adubação. Pode fazer”.

– Gostaria de ter uma informação quanto a silagem de Capiaçu e Napier. Qual o tempo e tamanho ideal para a produção da silagem? (Rilsoney Matos, de Ilhéus-BA)

Pires: “Depende. Como você vai medir isso? Quando você começar a ter folha morta embaixo. Porque para nascer uma folha nova, morre uma folha velha. Quando entrou nesse ponto, você está trocando dez por meia dúzia, então não vale a pena. Então é importante você monitorar porque quanto mais fertilidade tiver no seu solo, quanto mais você oferecer nutrientes, mais rapidamente a planta cresce”.

– Cortei o Capiaçu após as chuvas e vou triturar. Como devo proceder para ensacar a silagem? (Maurício Ramos, do Assentamento Teijin, em Nova Andradina-MS)

Pires: “Como se você fosse fazer uma silagem. Procure compactar bem. É importante que você tenha picado ele em tamanho pequeno. Agora procure compactar direitinho, fechando bem o saco e você vai ter uma silagem de boa qualidade”.

– Seria melhor eu fazer capineira de cana ou Capiaçu? (Luiz Henrique Caetano, de Garça-SP)

Pires: “Eu, como especialista de pasto, vou te recomendar o Capiaçu. Apesar de que eu gosto muito da cana. Você tem que avaliar o custo que você vai ter de formação da sua área. Todos os dois são muito bons, lembrando que o Capiaçu tem mais proteína do que a cana”.

– Semente da Grama Azul é uma espécie plantada no sudoeste da Bahia. A forma de plantar é através de mudas e somente em dias chuvosos. Gostaria de saber se não existe uma semente. (Renê Silva, de Jacaraci-BA)

Pires: “Eu conhecia, mas não com esse nome. Eu fui procurar. Ela é até bonita, ornamental, mas para pasto, esqueça ela. Tem coisa melhor. Tem Coast Cross, tem Tifton, tem o Estrela, tem coisas muito boas. Reserve a Grama Azul para o jardim de sua esposa”.

– Gostaria de obter informações a respeito do combate à cigarrinha no Capiaçu. (Lucas Amazonas Rabello de Oliveira, do Rio de Janeiro-RJ)

Pires: “É preciso ficar de olho. Começou a chuva, como começou agora, inicie o controle. Não bobeie, não deixe ela tomar conta. Tem tanto produto hoje para a gente passar. Eu estou usando muitos produtos sistêmicos agora no início da chuva. Porque antes que a planta paralise a sua circulação da seiva, você aplica um produto sistêmico, ele entra do sistema da planta, ele tem uma durabilidade de 40 a até 60 dias e vai limpando a área gradativamente”.

– Como posso baratear os custos com reforma de pastagens, baratear herbicidas em prol do aumento de produção da nossa pecuária? Claro que depois vem o correto manejo, mas falo de baratear custos para reforma. (Thiago Nunes, de Aracaju-SE)

Pires: “Não errando. Faça certo. Pode fazer menos coisas, mas faça certo. Não adianta você começar a adubar se você não calcariar. Não adianta você querer adubar se você não dividir pasto e não controlar plantas daninhas. Você tem que seguir a sequência. Primeiro, controle de plantas daninhas. Depois divisão de pastagem. Depois vem a adubação. E a adubação é progressiva. Se você fizer isso, com um bom manejo, você vai ter pastagem por muito tempo e com um custo baixo”.

– Seria possível eu plantar milho em um pasto de Braquiária já formado? Esse pasto está bem formado, porém queria adubá-lo. E para essa ocasião, pensei em plantar o milho nesse pasto com a forrageira já instituída. Seria possível? (Gabriel Burachi Peruchi, de São José dos Quatro Marcos-MT)

Pires: “Possível, é. Mas eu não recomendo, não. Você está com um pasto formado, um pasto bom. Para quê enfiar milho agora? Aproveite a adubação com o próprio capim. Então você colocar milho, travar o crescimento do capim que está bom, você está fazendo a integração lavoura-pecuária inversa. Então eu focaria naquele pasto que está degradado, aí você planta o milho, planta o capim junto e depois fica o capim”.

– Tenho duas dúvidas: a primeira é que tenho três hectares irrigados plantados com milho para silagem, então gostaria de saber qual a dimensão da trincheira para armazenar essa silagem. A segunda é que pretendo plantar o milho nessa área sempre que acabar a silagem, então gostaria de saber qual o melhor capim para eu plantar junto com o milho e se não atrapalha após a nova plantação do milho. (Clemilson Ribeiro, de Minas Gerais)

Pires: “Eu não faria silo de trincheira. Faça o silo de superfície. É muito mais fácil, você pode fazer, não tem preocupação de escavar. O custo é mais baixo. Que capim plantar? Vá preferencialmente escolher os mais produtivos e os mais palatáveis. Muita integração hoje é feita hoje com Panicum, um Mombaça, Paredão ou Zuri. Como também com as próprias braquiárias, como, inclusive, a Ruziziensis, que é muito palatável”.

– Eu gostaria de saber qual o tipo de pastagem para gado leiteiro que eu posso semear junto com o milho ou sorgo de silagem? (Joel Beckers, de Dourados-MS)

Pires: “Procure a pastagem mais gostosa e mais produtiva. O Camello, o Cayman são materiais que estão entrando agora de altíssima produtividade. Então pode plantar que eu garanto que o seu gado vai gostar”.

– Que opções de capim eu tenho para plantar junto com o milho e ensilar? Dá certo fazer no nordeste na Bahia pelo sistema de gotejamento? (Pedro Luiz, do oeste baiano)

Pires: “Opa, se dá! Pode fazer, sim. Dá muito certo Você pode plantar todas elas, os panicuns, como também as braquiárias, como também fazer uma área do próprio Capiaçu. Você vai ter um excelente resultado com irrigação”.

– Tenho uma área de 10 hectares que estou preparando para o plantio de braquiária. Fiz gradeação e estou distribuindo o calcário, tudo direitinho. E tenho uma dúvida sobre a conveniência de plantar algo consorciado: milho, sogro, árvore, etc. (Fausto Pereira, da região do Cerrado em Buritizeiro-MG)

Pires: “Árvore é maravilhoso. A gente viu no começo do programa uma propriedade toda arborizada e isso dá um bem-estar tremendo para o gado e um excelente resultado. Milho você pode plantar, desde que você queira melhorar a fertilidade daquela área. Mas aí você acaba com aquele pasto e planta na integração. Então entre na árvore que você vai gostar”.

– Eu consigo manter 20 cabeças de vacas com bezerros ao pé em dois hectares tratando somente com BRS Capiaçu duas vezes ao dia e sal mineral? E para tratar essas 40 cabeças, um hectare da conta o ano todo, já que de três em três meses eu faço um corte? (Ailton Donizete Gomes, de Ibitinga-SP, a capital nacional do bordado)

Pires: “Depende muito do nível de adubação. 20 vacas com 20 bezerros ao pé, você está esticando a corda ao máximo. Então talvez com três hectares você fique um pouco mais folgado”.

– Estamos pensando em plantar Braquiária. Qual seria mais recomendada? O clima é frio no inverno e quente no verão, também bastante seco, com exceção dos últimos dois anos que tem sido chuvoso. (Victor Ferreira, filho de produtor na região de fronteira no sul do Rio Grande do Sul)

Pires: “Hoje uma das braquiárias que mais toleram geadas e tempo frio que você tem aí é a Cayman. Você pode plantá-la e ela tem uma capacidade de rebrota muito rápida. Enquanto a outra está perdida, toda queimada, ela já está saindo”.

– Gostaria de saber qual capim posso plantar em terra arenosa. Não vou adubar. (Carlos Cesar de Almeida, de São Francisco-MG)

Pires: “Não fala isso, não, não judie! Se a sua terra for boa, e aí você tem que fazer uma análise de solo para verificar, tudo bem! Pode plantar todo capim que gosta de terra arenosa. Mas vamos adubar, bicho!”

Por fim, assista a entrevista completa com o agrônomo e a sessão de perguntas e respostas:

Foto: Francisco Ledo / Reprodução Embrapa