Que quantidade de ração devo fornecer para o gado semiconfinado?

Confira dicas de zootecnista sobre formulação de dieta, variação de teor proteico e frequência de fornecimento

Em entrevista recente ao Giro do Boi, o zootecnista formado na Universidade Federal de Viçosa, mestre, doutor e pós-doutor pela Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, Pedro Veiga, gerente global de tecnologia da Nutron, marca de nutrição animal da Cargill, detalhou como pode ser feito o manejo nutricional do gado semiconfinado.

Pedro disse que o semiconfinamento é mais viável à partir do momento que o pecuarista tem um bom manejo de pastagem. “Como qualquer manejo nutricional, a gente precisa fazer conta. Precisamos colocar na ponta do lápis custos e receitas, mas no cenário atual o semiconfinamento se torna extremamente interessante especialmente para o pecuarista que cuida bem do seu pasto. Porque à medida que eu tenho um pasto com melhor qualidade e em oferta, eu preciso desembolsar menos em suplemento, em concentrado”, argumentou.

“O semiconfinamento nada mais é que a terminação dos animais em sistema a pasto. […] Então o semiconfinamento tradicional que a gente fala é aquele sistema em que os animais a pasto recebem uma quantidade de concentrado equivalente a aproximadamente 1% do peso vivo. Vamos lá: um boi de 400 kg vai estar comendo 4 kg de concentrado por dia”, explicou.

“O milho a gente tem visto preço alto, embora nos últimos dias ele esteja baixando (referência ao final de abril, quando concedeu a entrevista), mas ainda está um preço alto. Então a gente tem que aproveitar ao máximo o pasto, isso nos traz uma redução de custo. Então o semiconfinamento, quando bem executado, nos permite isto, ou seja, explorar o pasto na terminação do boi, porém obtendo um boi pesado, bem acabado, jovem, que é o boi que as indústrias frigoríficas hoje mais têm valorizado”, completou.

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Veiga disse que os custos da nutrição ficam ainda menores caso o pecuarista tenha condição de bater a própria dieta, mas isto pode variar conforme o volume de animais que se quer semiconfinar. “Quem tem condição de comprar os diferentes insumos e ingredientes e fazer a comida na própria fazenda, o custo é mais baixo. Sempre que possível, esta é a alternativa. Geralmente o pecuarista vai comprar os insumos, vai fazer a dieta na fazenda, misturar na fazenda e fica mais barato. Agora se ele tiver um volume pequeno, que não justifique investir em uma fábrica de ração, aí ele pode comprar uma ração pronta”, justificou.

Veiga detalhou ainda a formulação da dieta. “Basicamente a gente usa ingredientes proteicos, energéticos e núcleo mineral com vitaminas e minerais aditivos. A preocupação principal que a gente deve ter é o teor de proteína desta ração. Por exemplo, para terminar na seca, a gente não pode abrir mão de uma ração com menos de 18% de proteína. Trabalhos feitos aqui no Brasil têm mostrado que a gente otimiza o ganho de peso com 18% de proteína na ração para o semiconfinamento tradicional na seca. Nas águas, evidentemente, a gente pode abaixar isto porque a proteína do capim está um pouco mais alta. Mas é sempre importante, interessante, se o pecuarista tiver condição, ou o nutricionista que atende este pecuarista, coletar uma amostra de pasto, mandar para o laboratório para ter uma análise mais precisa”, recomendou.

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Veiga listou alguns insumos e coprodutos que podem ajudar o pecuarista na formulação da dieta e reduzir seus custos. “Eu posso usar milho, sorgo, torta de algodão, DDG, casca de soja, farelo de soja. Não existe nenhuma restrição quanto a ingredientes. O importante é o correto balanceamento para permitir que o boi desempenhe ao máximo a pasto. Este passo é extremamente importante para qualquer sistema de terminação, seja ele o confinamento tradicional ou o semiconfinamento – o levantamento dos insumos disponíveis na região e o preço são importantes para ajudar a definir quais são interessantes a gente colocar na dieta e quais não são. Isso é muito regional, tem região que tem muita disponibilidade de subprodutos, como a torta de algodão de algodão, por exemplo, o próprio caroço, outras regiões o DDG, o WDG. Outras regiões vão ter mais milho e sorgo, então é buscar quais insumos, qual o preço deles para a gente poder formular melhor a dieta para o semiconfinamento”, comentou.

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“Em relação a usar silagem, o semiconfinamento, na essência do termo, ele é para terminação dos animais a pasto, ou seja, a gente assume que o animal teria disponibilidade de pasto. Caso a disponibilidade de pasto seja muito baixa, a gente não consiga atender as exigências que o animal precisa através do pasto mais concentrado, aí eu preciso entrar com um volumoso para suplementar, aí eu posso entrar com a silagem”, informou.

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Veiga ainda fez indicações quanto à frequência do fornecimento de ração. “A gente precisa fornecer diariamente. Existem tecnologias que estão surgindo, inclusive nós da Cargill estamos testando, em que a gente poderia fornecer a ração três vezes por semana, por exemplo, e o animal autorregular o seu consumo. Mas são tecnologias ainda para o futuro, talvez para o ano que vem”, projetou.

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Outras dúvidas sobre o tema podem ser endereçadas ao especialista para o e-mail [email protected].

Veja a entrevista completa de Pedro Veiga no vídeo a seguir:

Foto: Reprodução / Embrapa