Como saber se o meu pasto precisa de reforma ou só recuperação?

Professor da Esalq-USP deu dicas para o pecuarista perceber na prática, com a observação da capineira, quanto vai precisa investir na produção forrageira

O consultor, engenheiro agrônomo doutor em solo e nutrição de plantas Cláudio Haddad, professor da Esalq-USP, voltou ao Giro do Boi nesta segunda, dia 16, para ajudar o pecuarista com o planejamento nutricional de sua propriedade, incluindo a produção forrageira. Entre as dicas do especialista esteve a observação do pasto para saber se ainda vai dar para recuperar o pastou ou se o caso já é para reforma.

A escolha entre reformar ou recuperar é basicamente em função de como está o estande atual da pastagem. Quer dizer, quantas plantas remanescentes ainda existem na pastagem que permitem ou não prever se a recuperação vai ser possível ou se vai ser necessária uma reforma”, resumiu.

“Eu não gosto de dar números, tantas plantas por m², porque isso é relativo. Mas é questão de bom senso. Se você devolvesse a fertilidade do solo – que normalmente é o fator mais perdido numa degradação de pastagem – as plantas remanescentes são capazes de formar um dossel, um guarda-sol, um guarda-chuva na área, impedindo via sombreamento o desenvolvimento de plantas invasoras? Se acontecer isso, você recupera”, simplificou. “Mas se você tiver um estande ruim, você tem um número de plantas muito baixo, você tem que reformar”, completou o consultor.

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O professor salientou a importância de identificar a degradação do pasto antes que seja tarde demais para recuperação. “Lembrando que a reforma sempre é muito mais cara do que a recuperação. É mais cara e demora mais tempo para ela ser estabelecida. Enquanto que a recuperação é mais barata e normalmente você faz isso em 60 a 70 dias. Então, na verdade, apele para um técnico que ele vai fazer exatamente o diagnóstico correto, dizer se você reforma ou se você recupera”, aconselhou.

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MEU PROBLEMA É O MANEJO?

Haddad respondeu por que, mais cedo ou mais tarde, há necessidade de recuperar a produção forrageira, de uma forma ou de outra. “Em ambos os casos, tanto reforma quanto recuperação, é importantíssimo lembrar que é a fertilidade do solo o principal fator perdido dentro dessa degradação. O pessoal normalmente diz assim: foi falta de manejo. Falta de manejo é uma expressão extremamente vaga. Manejo é tudo. Na verdade, o que acontece é que falta fertilidade. Então quando falta fertilidade do solo, é porque o sujeito vendeu muito boi na vida, teve muito bezerro vendido, produziu muito leite, e tudo isso sacou fertilidade do solo, sacou nutrientes do solo e foi embora com o caminhão. Então se você não devolver isso de uma forma parcial ou total, você sempre vai estar em déficit com o crescimento da pastagem. Então é com isso que você tem que tomar bastante cuidado. Devolver a fertilidade do solo é o primeiro passo, seja na reforma, seja na recuperação”, instruiu.

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E por onde começar? Segundo Haddad, o produtor deve primeiramente examinar a área onde fará recuperação ou reforma do pasto. “Uma análise de solo completa está custando em torno de R$ 60 a R$ 70,00. Isso é básico. Quando você vai ao médico, o médico pede para você exame de fezes, de urina, de sangue, de hormônio, uma série de coisas, porque ele vai confrontar esses números que o seu exame der com aquilo que é considerado padrão ideal. O agrônomo trabalha da mesma forma. Você precisa ter esses números da sua situação da fazenda para serem confrontados com aquele que é o padrão ideal”, comparou.

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QUANDO COMEÇAR O PLANEJAMENTO NUTRICIONAL?

O professor da Esalq chamou atenção ainda para outro erro comum do pecuarista – a falta de planejamento para o ciclo de águas/seca já bem estabelecido e conhecido no Brasil. “A gente tem que planejar, coisa que normalmente o nosso pecuarista faz de uma forma bastante contida e ele não faz levando em conta uma possível piora nas condições climáticas nesse tipo de planejamento. Então a palavra-chave de tudo isso é planejar. Como se planeja? No mínimo seis meses antes do ocorrido”, frisou.

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“Então quem está na seca agora tem que estar planejando o que fazer nas águas. Quando entrarem as águas, tem que planejar o que fazer na seca, sempre com seis meses no mínimo de antecedência. […] Quando não há esse planejamento, ou quando ele foi insuficiente, pouco se pode fazer para se melhorar. Não tem como você escapar da situação pior dentro de todo esse contexto. Então a palavra-chave é planejamento. O que eu devo fazer para as próximas águas e o que eu devo fazer para a próxima seca quando chegaram as águas. Eu tenho que planejar seis meses antes do ocorrido”, reforçou.

Atrasando a tomada de decisão, o produtor pode não resolver os problemas nutricionais e ainda gastar mais do que pode. “Tudo que você fizer agora vai ser muito caro porque você vai estar comprando comida agora, quando todo mundo está em carestia, então isso passa a ser antieconômico. Dificilmente alguém pode dizer para você o que fazer agora porque isso requer um planejamento anterior”, alertou.

Haddad também elencou que decisões podem servir para ajudar a fazenda a atravessar a seca, desde que sejam tomadas em tempo hábil. “Tem muitas formas de você se planejar para a seca. Você pode fazer durante o final das águas uma adubação de reforço para que você aumente a massa de capim no pasto, você pode apelar para a silagem, para a fenação, você pode apelar para a capineira, para engorda terceirizada (boitel), você pode apelar para o confinamento, semiconfinamento. Agora tudo isso requer aquele planejamento anterior a que a gente se referiu. Sem isso, nada se pode fazer e que seja economicamente viável nas atuais circunstâncias”, ressaltou.

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Uma atitude que o produtor pode se preparar para tomar é reservar a sobra de pasto conhecendo a estacionalidade da produção forrageira em sua região. “Eu diria que a estacionalidade é 80-20 (porcentagem de produção entre águas – seca, respectivamente). É mais intensa do que os 70-30. E dependendo de onde você está, até 90-10. Então é por isso que se planeja antes. O que eu faço nas águas, quando eu vou ter 90% do potencial de produção? Eu tenho que, de alguma forma, armazenar esse superávit para ser utilizado na época do déficit. Essa é a técnica. Então se você não entende que essa sequência de abundância e carestia é normal, que é tão normal como saber que depois de um dia vem a noite, e depois da noite vem o dia, se você não consegue entender isso, jamais você será um pecuarista de sucesso”, advertiu.

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“Você vai engordar o gado nas águas e vai emagrecer o gado na seca. E veja bem, por exemplo, para quem faz cria: se a vaca perde a condição corporal, como é que ela entra em reprodução? Então você tem um intervalo entre partos aumentado drasticamente. Você tem todo um processo econômico de produção diminuído por falta desse tipo de planejamento. Então basicamente é o seguinte: nas águas, quando você está na abundância, você já tem que ter o planejamento para a época da carestia. Isso é tão normal quanto a sequência de que depois de um belo dia vem a noite”, lembrou.

Baixo escore corporal é principal causa de resultado negativo na reprodução

Haddad disse que esse planejamento é ainda mais necessário quando o produtor faz investimentos em genética, porque o pecuarista precisa oferecer condições de ambiente que possibilitem a expressão de todo aquele potencial que ele comprou.

“A gente faz analogia com uma Ferrari. Se você tem a melhor genética, você tem uma máquina que nem a Ferrari. Agora a melhor genética deve andar no melhor ambiente. Você não pode por a Ferrari para rodar tipo numa rodovia Transamazônica na época das águas, concorda? Então nutrição, sanidade, manejo, tudo isso é ambiente, que deve dar suporte a uma genética boa. […] As duas coisas têm que continuar juntas: você melhora a genética, mas melhora o ambiente concomitantemente”, indicou.

“Quanto mais eu mexo com genética, mais eu acredito em nutrição”

Pelo vídeo a seguir é possível assistir toda a participação de Cláudio Haddad no Giro do Boi desta segunda, dia 16:

Foto ilustrativa: Secom / Tocantins