Posso dar o soro do leite para suplementar vacas leiteiras?

Zootecnista revelou que pecuarista deve ter cuidado para acrescentar a substância na dieta do gado, uma vez que o soro pode levar a desequilíbrio do rúmen dos bovinos

O criador Jerônimo David Dias de Campos, telespectador assíduo do Giro do Boi do município de Novo São Joaquim, em Mato Grosso, perguntou em mensagem ao programa se é possível dar soro de leite na alimentação de vaca leiteira.

O zootecnista Guilherme Marquez, gerente nacional de produto leite da central Alta Genetics, esclareceu a dúvida do pecuarista. O especialista explicou quais são as propriedades do líquido. “O soro é o resultado de quando a gente está fazendo queijo, então o queijo é espremido e sai aquele líquido. Ele é rico em lactose, em sais minerais, é rico em proteínas solúveis e também tem também alguns traços de gordura. Isso faz com que naquele produto você tenha uma qualidade de proteína muito grande – mesmo que o percentual seja menor, aquela proteína é muito boa e tem também a energia contida dentro desse líquido”, analisou.

O zootecnista respondeu se ele pode ser usado na dieta de vacas leiteiras. “Soro do leite é muito bem vindo dentro do processo de alimentação, principalmente se você tem disponibilidade dele no seu laticínio, na sua queijaria. Com ele, eu posso fazer substituição da ração. Mas como eu administro isso? A grande maioria das fazendas administra o soro separadamente. Elas têm o volumoso, mas administram separadamente essa parte do líquido. O soro pode ser trabalhado substituindo até 30% da matéria seca que o seu animal precisa. Por exemplo, se o animal for comer um quilo de matéria seca, eu posso dar até 300 ml de soro para esse animal em substituição a uma ração”, detalhou.

Marquez ponderou que o acréscimo do soro à alimentação da vaca deve ser feito aos poucos até que se atinja o máximo de 30% de substituição da matéria seca na dieta do gado. “Quais são os problemas que a gente tem no soro? Primeiro, nós precisamos administrar gradativamente, eu não posso chegar e fornecer o máximo possível para a vaca. Eu preciso trabalhar ela gradativamente porque senão eu posso atrapalhar aquela população microbiana lá no rúmen e essea vaca pode parar de ruminar, ela para de comer e, consequentemente, vai parar de produzir leite. Então eu faço gradativamente”, advertiu.

“Como você vai dar separado, geralmente você pega a quantidade de líquido que aquela vaca vai ingerir e dá 20% de soro e 80% de água, sendo que a cada dois dias você aumenta 20% daqueles 20% iniciais. Se a vaca bebe 80 litros de água, 16 litros seriam de soro. E aí gradativamente você aumenta 3,2 litros de soro por dia em substituição. E aí eu vou fornecer esse produto de proteína e energia”, sugeriu.

“Outro fator de dificuldade é o transporte desse soro. Onde que você encontra ele? Se tem no laticínio, você pode ir lá e buscar e trazer, mas onde vai armazenar? Aí a gente cai no terceiro problema do soro: ele é altamente perecível. Ele pode azedar muito rápido e aí é ruim. Então tem que tomar cuidado com essas coisas aí”, ponderou.

“Existem vários trabalhos que falam sobre a ingestão de 50 a até 90 litros do soro, mas aí você tem que entrar em contato com um nutricionista de sua preferência, ou trabalhar nesse montante (dentro da margem de segurança) – o que a sua vaca precisa comer de matéria seca, dê até 30% de soro, sempre administrando gradativamente”, reforçou.

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Ainda em sua mensagem ao Giro do Boi, Jerônimo perguntou qual o melhor capim para fazer piquete para vaca de leite. Marquez elencou algumas variedades recomendadas, mas considerou que a recomendação deve levar em conta uma série de variáveis.

“Tem uma variação muito grande a partir da qualidade de solo, exposição à luz solar, quantidade de água… A gente tem que lembrar que um milímetro de água a mais ou menos gera uma determinada quantidade de matéria verde, então nós precisamos calcular isso para a gente saber. Eu já vi muitos lugares trabalhando com Tifton, que vai muito bem quando bem manejado, vários lugares trabalhando com Tanzânia, Mombaça e alguns lugares tendo benefícios muito bons trabalhando com o nosso Braquiarão. Então você tem que conhecer a sua região para saber infestação de cigarrinha, qualidade do seu solo para saber se essas forrageiras conseguem se desenvolver muito bem”, observou.

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“Antes de você pensar em qual forrageira, pense em como vai manejar tudo isso para que você tenha o aproveitamento de 100% do que você vai plantar. Outras pessoas ainda fazem um estoque de capim de Capiaçu, por exemplo, que é um capim elefante clonado pela Embrapa que você pode plantar em um piquete menor e colher para administrar na época da seca. Também vai muito bem aí para você ter uma programação de comida o ano inteiro e não deixar suas vacas passarem fome”, completou.

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Confira as respostas de Guilherme Marquez no vídeo a seguir:

Foto ilustrativa: Reprodução / Mapa