Vai dar dinheiro confinar gado no primeiro giro de 2021?

Analista Rogério Coan ponderou que há diferença expressiva na projeção de margem para quem faz o confinamento negócio e o confinamento estratégico; entenda

No Giro do Boi desta quarta-feira, dia 12, o zootecnista doutor em produção animal Rogério Coan, CEO da Coan Consultoria, respondeu se a conta do confinamento no primeiro ciclo da entressafra em 2021 vai fechar para o pecuarista.

A resposta, claro, depende de fatores, os quais Coan elencou em sua participação no programa. “Comprar insumos, comprar boi magro nos patamares que nós temos de mercado hoje, está realmente difícil de viabilizar as contas do confinamento. Agora o cenário do pecuarista que utiliza confinamento como estratégia é totalmente diferente”, ponderou.

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Na sequência, Coan contextualizou sua opinião com slides 9 de sua apresentação recentemente feito na última edição do Webinar Giro do Boi – 1º Giro do Confinamento 2021. Confira a seguir e clique nas imagens para ampliar:

CONFINAMENTO NEGÓCIO X CONFINAMENTO ESTRATÉGIA

Confinamento negócio é aquela operação em que o pecuarista compra o boi magro, compra os insumos e, logicamente, operacionaliza o confinamento. E o confinamento estratégico é aquela estratégia de confinamento inserida na atividade de recria e engorda ou ciclo completo. É uma estratégia porque ajuda a aliviar a taxa de lotação das pastagens no período seco e é uma estratégia de terminação muito eficiente para esses pecuaristas”.

“Aqui tem uma diferença expressiva, eu diria, gritante entre o confinamento negócio, tendo em vista que nós estamos numa situação onde o preço do boi magro está bastante elevado e também o dos insumos, haja visto o milho que literalmente decolou. E quando eu analiso o confinamento estratégico, que é aquele animal que o pecuarista comprou bezerro e recriou até entrada no confinamento, ou para o pecuarista que faz o ciclo completo, faz a cria e recria, é natural que o custo de produção seja mais baixo. Por isso que a margem do confinamento estratégico é bem mais alta do que o confinamento negócio”.

Baixe aqui a palestra de Rogério Coan: Análise de Viabilidade Econômica do 1° giro de confinamento 2021

MERCADO FUTURO “CARANGUEJANDO”

“O mercado do boi gordo se posiciona no futuro numa situação ainda meio que ‘caranguejando’. […] Se a gente considerar janeiro de 2020 até os dias atuais, nós vamos ver que o boi gordo valorizou 54,85%. É algo bastante expressivo para quem está visualizando a moeda do boi gordo”.

DIRETRIZES DO MERCADO PARA VENDA DO BOI GORDO

“Nós estamos partindo do princípio de diferença do boi magro que entra no confinamento e sai com 562 kg, uma diferença de 180 dias na operação. Quando eu faço essa conta, é por isso que a gente começa a olhar o mercado futuro de setembro, porque ali eu tenho que fazer a conta de que vai sair meu boi. Então o contrato de setembro na B3, na BM&F Bovespa, é a diretriz nossa de mercado de venda. Então eu tenho que fazer minha operação acontecer nesse período de 130 dias pensando no abate exatamente no contrato de setembro”.

DIFERENCIAL DE BASE

“Nós temos ali a posição de 328,00, é importante considerar o diferencial de base de cada estado. Tem uma diferença que varia de 4 a até 9% do preço de São Paulo em relação aos estados. E é isso que o pecuarista que está em outro estado tem que levar em consideração. Se a gente analisar um estado como Goiás, que tem média de 8,33% de diferencial de base, nós vamos ver que o preço é bem diferente do que esses 328,00 projetados para São Paulo”.

MERCADO DO BOI MAGRO

“Se a gente analisar a valorização do boi magro de janeiro de 2020 até os dias atuais, nós vamos ver que essa moeda valorizou 71,52%, tendo como parâmetro a praça de São José do Rio Preto/Barretos, São Paulo. É um aumento bastante expressivo, porque ano passado a gente fazia conta do boi magro de pouco mais de 3.000,00, 2.800,00 e a gente achava que estava muito precificado. E hoje a gente tem estados como São Paulo e Paraná com boi magro na casa dos 4.500,00. […] São Paulo, Paraná com o boi magro mais caro do país e depois a gente vai visualizar Rondônia, Pará, Tocantins, que são os bois magros mais baratos do Brasil. Enquanto São Paulo e Paraná estão na casa dos R$ 4,450,00, quase R$ 4,500,00, Rondônia, Pará e Tocantins na casa dos R$ 4.000,00. Tem que fazer uma conta simplista que é um boi por arroba superior a 350,00”.

BOI MAGRO POR ESTADO

“Se a gente analisar esses gráficos, fica claro que à medida que a gente tem a maior valorização do boi magro, a gente gera uma diferença em São Paulo e Paraná bem expressiva. Vamos pegar São Paulo como exemplo. Boi magro de R$ 370,00 a arroba e a arroba do boi gordo a R$ 312,00. Se a gente pegar o Pará, vamos ver que interessante. R$ 337,50 a arroba do boi magro, enquanto o boi gordo está R$ 291,50. Esse é um parâmetro bem interessante para o pecuarista avaliar e fazer as contas juntamente com o plano alimentar que ele vai utilizar no confinamento”.

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ÁGIO DO BOI MAGRO

“A gente vê que 19,98% de ágio do boi magro sobre o boi gordo, visualizando aqui que o estado do Paraná com quase 25% de ágio. É bastante expressivo. E aqui estados como Pará e Tocantins por volta de 16% de ágio, média de 19,98%”.

MERCADO DO MILHO – O “OURO DA PECUÁRIA”

“Se a gente analisar o mercado do milho, eu disse lá atrás que ele literalmente decolou. E decolou mesmo. Se a gente analisar o preço do milho em janeiro de 2020 comparando com agora, em maio, que nós tivemos na casa dos R$ 100,00 por saca em São Paulo. Nós vamos ver valorização no preço da saca do milho de janeiro de 2020 até os dias atuais de 89%. E se a gente analisar outros estados, nós vamos ver que não é nada muito diferente disso. Sinal de que realmente o milho se tornou o ouro da pecuária“.

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RELAÇÃO DE TROCA

“Nós estamos visualizando uma média de relação de troca de 4,11 (sacas por arroba), mas quando a gente analisa o mês maio, uma relação de troca de 3,01 sc/@. Nós vamos ver que é a pior relação de troca desde 2019. Significa dizer que o pecuarista precisa de três sacas de milho para praticamente uma arroba de boi gordo. É uma relação de troca bem baixa quando comparada com o histórico desse período”.

“No Giro do Boi de agosto de 2020 (relembre no link abaixo), quando nós fizemos a nossa discussão sobre o segundo giro de confinamento, eu sinceramente não visualizava esse mercado do milho tão precificado. Lógico que nós temos uma questão nacional na demanda interna, a questão americana, demanda chinesa, tem uma série de fatores que movimentam. Sem falar ainda no clima, quebra de safra e tudo mais. Mas eu sinceramente não visualizava o mercado tão precificado para esta commodity”.

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CUSTO OPERACIONAL E OCIOSIDADE

“Aqui tem uma variação que é muito importante e que às vezes para pecuarista não faz conta, que refere-se à ociosidade da operação. Quanto menos bois eu tenho numa operação de confinamento, menos bois eu tenho para pagar a conta, então o custo operacional aumenta. Então quando eu analiso estado por estado, nós estamos considerando a ociosidade. Hoje nós temos estados como Mato Grosso em que nós vamos estar com a planta de confinamento cheia que tem um custo operacional mais baixo. Já Rondônia, Pará e Tocantins, que nós vamos ter uma certa ociosidade, a gente observa já um custo operacional mais alto. Então é uma média móvel das operações de confinamento por estado. É importante o pecuarista fazer esta conta”.

“Eu vejo muitos pecuaristas fazendo para colocar a conta de R$ 1,00 por cabeça, mas quando vai fazer a conta está em R$ 2,12, R$ 2,30, R$ 1,80 e é quando mata às vezes a viabilidade do negócio dele”.

CUSTO TOTAL DA DIÁRIA POR ESTADO

“O custo nutricional nos estados de Mato Grosso e Goiás são mais baixos, logicamente pela oferta e por uma questão climática que influencia nos custos dos insumos e ali a gente vai ter logicamente a diária alimentar mais barata. E como são operações que trabalham com menos ociosidade, nós vamos ter um custo operacional também mais baixo. É por isso que são estados que têm diária total mais baixa quando comparado às outras operações. Por isso estão sublinhados os estados de Mato Grosso e Goiás.

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QUEM CARREGA O LUCRO?

“Eu gosto muito desse slide. É um slide que eu digo que foi muito feliz do nosso amigo Antonio Chaker, do Inttegra, que desenvolveu esse conceito porque ele traduz exatamente a realidade da pecuária. O pecuarista tem que se preocupar com receita, não tenha dúvida, ele tem que vender nos melhores momentos do mercado para ele ter melhor precificação da arroba. Mas ele tem que olhar para dentro do negócio dele e fazer conta do custo do boi magro, da alimentação e do custo operacional porque só assim ele enxerga se aquela remuneração da arroba, se aquela receita é compatível com o negócio dele no sentido de viabilizar economicamente. Então esse slide traduz muito o que o pecuarista tem que se preocupar no seu negócio. É custo de produção, é olhar o mercado, onde ele tem uma melhor posição para venda, se o boi vai estar bem acabado, o que é muito importante para a cadeia da carne bovina. Tudo isso está resumido nesse slide sobre quem carrega o lucro na pecuária.

PROCESSO CÍCLICO DE GESTÃO E MELHORIA CONTINUADA

“Esse slide é muito importante porque ele é a base da atividade industrial. Como a pecuária sendo uma atividade industrial, nós podemos usar essa ferramenta. Essa ferramenta indica o P de planejamento, o D, de ‘do’, ou fazer (em tradução do inglês), o C de checagem e o A de ação corretiva. Por que eu gosto sempre de mostrar esse slide? Porque o pecuarista planejar bem o seu negócio, e no caso do confinamento ele tem que ter planejado com no mínimo um ano de antecedência – então o boi tem que estar confinando agora, na verdade ele foi planejado um ano antes. O duro de fazer é que ele tem que buscar a máxima eficiência em todas as etapas do processo produtivo. Se ele está fazendo silagem, ele tem que conseguir uma boa produtividade a um baixo custo, ele tem que, na verdade, na engorda, ganhar uma eficiência, fazer o animal comer menos quilos de matéria seca e colocar mais quilos de carcaça, ele tem que usar um bom protocolo sanitário para minimizar problemas de saúde no confinamento, ele tem que constantemente checar o consumo da dieta, a limpeza de bebedouro, se o padrão dos alimentos está dentro daquele teor de matéria seca desejável, o processamento dos grãos e a todo momento ele tem que estar fazendo ações corretivas no sentido de retomar as rédeas do negócio”.

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“Então o PDCA é um processo cíclico de gestão porque ele não para de acontecer. O tempo todo o pecuarista está planejando, está fazendo, está checando e está fazendo as ações corretivas porque assim ele busca a excelência na atividade pecuária, seja de cria, recria e engorda, ciclo completo, em qualquer atividade do pecuarista utilizar esse tipo de ferramenta ele vai ter maior assertividade e melhor tomada de decisão, que é o grande fator impactante no negócio dele”.

BOITEL COMO DIVISOR DE ÁGUAS

“Boitel é uma ferramenta fundamental para aquele pecuarista que ainda não tem expertise, não tem uma estrutura pronta. Então ele tem que usar essa ferramenta de uma forma estratégica porque uma vez que ele encaminha esse animal para o boitel, ele ganha de duas formas. Ele ganha no estoque na entrada e ele ganha no que a gente chama de spread de mercado, que é essa valorização da safra para entressafra. Então o pecuarista que faz conta, que tem custo de produção na mão, tem que usar essa ferramenta porque ela é uma estratégia fundamental para ele aumentar o giro de capital e conseguir bom lucro com a atividade de confinamento. Boitel é uma ferramenta que o pecuarista que não tem estrutura tem que fazer uso porque ela é um divisor de águas em muitos dos negócios”.

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SABER CUSTO DE PRODUÇÃO É UMA OPORTUNIDADE

“O pecuarista tem que visualizar a fazenda como uma empresa. E essa transformação da fazenda em empresa não acontece a passos lentos. Ele tem que necessariamente começar a controlar custo de produção, ter a fazenda efetivamente na mão, com orçamento, porque só assim ele vai conseguir planejar o negócio com assertividade e tornar a fazenda que até então está numa questão de baixa competitividade para um negócio extremamente lucrativo. Então o recado que eu dou é: utilize esse tipo de ferramenta, como o PDCA, faça seus custos de produção porque ele vai ter uma visão totalmente do negócio que ele se propõe a fazer, seja de cria, recria ou engorda. Ter custo de produção é, na verdade, ter oportunidade de tomar decisões assertivas”.

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