Embrapa alerta: nem toda planta de folha larga é inimiga do seu pasto!

Pesquisador da Embrapa e pecuarista listaram benefícios do consórcio da gramínea com a leguminosa, que facilita o cultivo perene das pastagens

Além de nem toda planta de folha larga ser inimiga do pasto, ela pode até reforçar a condição da capineira se for bem manejada. Mas, claro, não é qualquer planta: são as leguminosas. Em mais uma reportagem da série especial Embrapa em Ação gravada na unidade Acre, tanto pecuarista como pesquisador ressaltaram os benefícios do consórcio na região cuja característica das pastagens é – ou deveria ser – a perenidade.

“Na época que nós introduzimos aqui os capins, que nós fomos adaptando, nós não tínhamos conhecimento daqueles que davam certo na região e a gente tinha uma percepção de ir substituindo, experimentando. […] Veio a morte súbita do Braquiarão, nós optamos por plantar capim estolonífero, que no caso era o capim Humidicola, a Grama Estrela ou o Tangola nas áreas mais encharcadas. E junto com essas gramíneas, o amendoim forrageiro”, observou o engenheiro agrônomo e pecuarista “mineiro de coração acriano” Chico Sales, da Fazenda Itaituba, em Bujari-AC, região onde está instalado já há mais de 40 anos.

FOME DE NITROGÊNIO

O pesquisador Judson Valentim, também engenheiro agrônomo e Ph.D. em agronomia, explicou a relação entre a leguminosa e a melhoria na condição do pasto. “Desde que a Embrapa passou a trabalhar aqui no Acre em 1976, nós já fazíamos parte de uma rede de um programa chamado Propasto, que era voltado para recuperação, melhoramento e manejo de pastagens da Amazônia, que visava exatamente dar suporte para poder aumentar a produtividade da pecuária a pasto e, principalmente, resolver um problema que naquela época já era grave, que era a degradação de pastagens. E aí um dos grandes problemas que nós temos na pecuária a pasto no Brasil é a deficiência de nitrogênio, que é comumente chamada de ‘fome de nitrogênio’ das pastagens”, revelou.

Foi justamente a solução encontrada no consórcio com leguminosas. “E ainda hoje, depois de 40 anos, o fertilizante nitrogenado é muito caro, principalmente para o nível de rentabilidade da pecuária, então poucos produtores usam. Uma opção que nós buscamos, então, foi exatamente o consórcio de gramíneas, do capim, com a leguminosa, porque a leguminosa, além de fixar nitrogênio biológico no solo por associação com bactérias, ela também é uma planta mais rica em proteína e incorpora nitrogênio ao solo, garantindo a longevidade produtiva das pastagens. Então esse foi o gancho”, lembrou.

A partir daí, o desafio foi encontrar as leguminosas mais adequadas. “Nós começamos a trabalhar com a puerária […] e tivemos muito sucesso, mas a partir do momento que o produtor passou a intensificar o seu sistema de produção, a puerária não se adaptou mais no sistema de rodízio, com taxa de lotação mais alta. Foi quando nós estávamos trabalhando com amendoim forrageiro, que é uma leguminosa mais adaptada a esses sistemas produtivos. Então criou-se uma cultura! O produtor do Acre hoje reconhece o valor das leguminosas”, apontou. A área de pastagem em que a entrevista com Judson foi gravada é um exemplo do fato, onde há uma consorciação de 30% de amendoim forrageiro com gramínea.

“Isto é o suficiente para que o gado tenha uma ingestão de proteína mais alta e também deixa uma sobra para que ela possa fazer a adubação do pasto. Então tem uma economia com fertilizante e tem um maior ganho de peso do animal”, acrescentou.

NEM TODA PLANTA DE FOLHA LARGA É INVASORA DO PASTO

Além de beneficiar a pastagem e a nutrição dos bovinos, a leguminosa também pode servir de seguro contra ataques de pragas. “Por exemplo, no caso de você ter um ataque de praga de uma lagarta, de cigarrinha, elas não afetam o amendoim forrageira. Então o produtor tem como se fosse um seguro aqui. Se der uma praga grande no gado dele e atacar o capim, ele não vai ter problema. Quer dizer, vai reduz a capacidade de suporte, mas ainda tem alguma coisa para o gado comer. É o que a gente chama de diversificação e resiliência do sistema de produção”, ilustrou.

Quer dizer que mesmo com a gramínea sob ataque, sobre na forrageira, como o amendoim, uma planta que tem cerca de 18% de teor proteico, chegando a 24% nas pontas durante a época chuvosa.

A maioria dos produtores, quando vê uma planta de folhas largas no pasto, encara como uma planta invasora. Então é comum a gente entrevistar produtores em muitas regiões que não têm esse conhecimento ainda, essa tradição do uso da leguminosa, e ele identificar como plantas invasoras. E vão gastando dinheiro e arrancando quando, na realidade, aquilo seria um benefício. Então a primeira grande mudança é essa: o produtor conhecer as plantas que ele têm na sua propriedade e muitas delas podem ser plantas desejáveis que podem contribuir para aumentar a sua produtividade”, afirmou Judson.

As pesquisas conduzidas ao longo dos anos com o consórcio derrubaram ainda outro mito, de que não seria possível persistir na “parceria” por muito tempo. “E nós, no Acre, conseguimos provar que isso é um mito. Essa área, por exemplo, tem 24 anos que o amendoim forrageiro foi introduzido aqui e ele está contribuindo para o ganho desse produtor”, confirmou.

O pecuarista reforçou o benefício. “A gente mata bois novos e ganha prêmios do JBS com o boi que morre cedo, com dois dentes, e isso a pasto. Não precisamos nem confinar porque porque é curta a estação seca. Aqui chove bem, o solo argiloso libera água devagar para a planta. Nós estamos no auge da seca e o capim está verde!”, mostrou Chico Sales.

A reportagem completa da série Embrapa em Ação pode ser vista clicando no player abaixo: