Entenda quais são os benefícios do mapeamento de solos para o produtor rural

Iniciativa da Embrapa em parceria com instituições por todo o Brasil facilitará certas tomadas de decisão para agentes públicos e agropecuaristas

Os benefícios do mapeamento detalhado dos solos do Brasil vão chegar até o produtor com a ajuda da Embrapa, conforme disse em entrevista o engenheiro agrônomo e pesquisador da unidade Solos Silvio Barge Bhering, mestre em engenharia na área de concentração de geoprocessamento e doutor em Geografia na área de planejamento e gestão ambiental.

A conversa da equipe de reportagem do Giro do Boi com o pesquisador foi exibida no programa desta sexta, 26, em episódio especial da série Embrapa em Ação, que trouxe mais detalhes sobre o programa da instituição voltado ao mapeamento digital de solos (MDS).

O mapeamento digital de solos (MDS) é um conjunto de técnicas para facilitar a coleta, armazenamento, análise, interpretação e confecção de mapas de solos. No MDS, utilizam-se dados e informações de solos existentes, aliados a novas tecnologias (imagens de sensores remotos, sistemas de informação geográfica, instrumentos para a coleta in situ e georreferenciada), os quais permitem, por meio de modelagem matemática, a elaboração de mapas de diversos atributos e de classes de solo, com acurácia conhecida”, conforme consta na página do projeto dentro do portal da Embrapa.

Em outra reportagem da série exibida no Giro do Boi em 29 de maio, a necessidade de o País detalhar o conhecimento de todos os seus solos já havia sido abordada. Relembre pela reportagem no link a seguir:

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Bhering destacou como exemplo desta iniciativa da Embrapa, que é realizada com diversas outras instituições, o trabalho bem encaminhado no Mato Grosso do Sul. “O Mato Grosso do Sul pra nós é um grande case. Nós começamos esse trabalho de zoneamento no MS no início dos anos 2000, então nós fizemos todos os estudos de solo na bacia do Rio Paraguai, são cerca de 32 municípios, estudamos várias culturas, chegamos a produzir mais de 500 mapas para diversas culturas. Todavia, com o desenvolvimento destas novas ferramentas de SIG (Sistema de Informação Geográfica), novos modelos, sensores remotos, sensores proximais, nós estamos fazendo uma grande revisão temática neste trabalho para que a gente possa incorporar aí a bacia do Rio Paraná e ter, efetivamente, todo o estado do Mato Grosso do Sul os estudos de solos”, explicou.

Segundo o pesquisador, pelas parcerias estabelecidas que ajudaram a evolução do projeto, o estado sairá na frente no zoneamento. “O estado do Mato Grosso do Sul vai ser o pioneiro do Brasil. Nós temos, logicamente, outras regiões que tem informações tão detalhadas quanto, mas numa expressão geográfica muito pequena. […] Já o Mato Grosso do Sul é um grande player nacional na área agrícola, um dos maiores, um grande estado, com grande incentivo, e para isso a gente tem contado com todo apoio do Governo do Estado, começou esse trabalho, a secretaria tem nos apoiado e é um trabalho de parceria muito forte, com centro de pesquisa da Embrapa no estado – Embrapa Pantanal, Agropecuaria Oeste, Gado de Corte, associada com a Embrapa Solos, e também temos envolvidas outras instituições”, citou Bhering, falando ainda sobre o IBGE e o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) com suporte instrumental.

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O pesquisador detalhou como o desenvolvimento do projeto vai beneficiar o produtor na ponta das cadeias produtivas. “Essa é uma característica também bastante importante que esse trabalho tem, porque ele é multiusuário. A informação pode ser organizada em diversos níveis, então ele vai servir desde os tomadores de decisão do Governo do Estado até o produtor. O Governo do Estado utiliza esta informação no dimensionamento da sua infraestrutura, seja de armazenagem, seja de transporte, […] esse dado pode ser plenamente associado aos dados do Censo Agropecuário, então você consegue, mesclando os dados dos recursos naturais com dados socioeconômicos, ter toda uma dinâmica, por exemplo, de onde você tem que levar extensão rural, onde você tem que levar assistência técnica, onde está o gargalo, por exemplo, para os consultores e a iniciativa de assistência técnica privada”, exemplificou.

Bhergin ilustrou que tipos de decisões os produtores rurais poderão ser tomadas a partir das informações levantadas. “Você tem o direcionamento na seleção de uma cultivar mais adequada, seja de ciclo curto, seja de ciclo longo, se você vai fazer a segunda safra, se você não vai fazer a segunda safra, como você monta uma integração lavoura-pecuária como um todo dentro deste sistema e também isso funciona muito bem para as instituições de fomento e de crédito, já que você vai ter mais acurácia na informação. Você vai conhecer as características efetivas do solo. A agricultura no Mato Grosso do Sul é calcada numa agricultura de sequeiro, então tem a questão dos índices de precipitação pluviométrica, o tempo de recorrência dos seus dados climático, […] a retenção do solo, comportamento físico do solo. Dá uma segurança muito maior ao produtor, definição das suas datas de plantio e, logicamente, vai influenciar nos seus prêmios e rentabilidade de todas as culturas”, projetou.

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De acordo com o pesquisador, o trabalho está em fase final de captação de dados para posterior construção de plataforma, que cruzará as informações em um sistema dinâmico com Cadastro Ambiental Rural (CAR), legislação ambiental, entre outras.

Veja a reportagem completa da série Embrapa em Ação no vídeo abaixo:

Foto ilustrativa: Reprodução / Embrapa Solos