Aclimatação de primíparas pode elevar taxa de prenhez em 120%

Médica veterinária apresenta passo a passo para treinamento de novilhas que garante tranquilidade na hora de implantar o protocolo de IATF

Um mero investimento de tempo que pode virar produtividade e dinheiro no bolso do criador. Foi o que apresentou em entrevista ao Giro do Boi desta terça, 17, a médica veterinária e consultora especialista em bem-estar animal Adriane Zart, da Personal Pec. A profissional detalhou um protocolo de aclimatação de novilhas que pode incrementar em até 120% a taxa de prenhez.

“Gado agitado, correndo dentro do curral, principalmente no manejo reprodutivo, significa uma perda econômica no resultado da fazenda porque esses animais nervoso, agitados, vão acabar causando uma redução dos indicadores, sejam eles produtivos, reprodutivos ou até mesmo sanitários”, contextualizou.

Zart apontou que o estudo dos impactos da agitação das matrizes nos resultados de prenhez após a estação de monta foi na Fazenda Rio Preto, no município de Canabrava do Norte-MT, envolvendo 469 fêmeas, cujo comportamento e desempenho foi acompanhado pela própria consultora, pelo médico veterinário Ricardo César Passos, da Criafértil, de Goiânia-GO, e pela professora da UFMS Eliane Vianna.

“No dia do manejo, após o procedimento dentro do brete, foram definidas notas para as vacas quando elas saíram de dentro do brete após o procedimento. Ou elas saíam correndo, marchando ou andando de dentro do brete. Simplesmente isso. E depois a gente comparou o resultado de prenhez para cada uma dessas classificações. Então quanto uma vaca que saiu correndo, quanto que uma vaca que saiu marchando e quanto uma vaca que saiu andando de dentro do brete emprenhou na IATF”, explicou.

“Quando a gente comparou os resultados das primíparas, a gente percebeu que aquelas primíparas que saíram andando de dentro do brete emprenharam 65%. E aquelas que saíram correndo emprenharam somente 29%. Isso significa um incremento de 124% a mais no resultado de prenhez. 36 pontos percentuais a mais, mas um aumento de 124%. Nas multíparas, essa diferença foi um pouco menor, mas ainda assim bastante significativa. As multíparas que saíram andando de dentro do brete emprenharam 65% e aquelas que saíram correndo, somente 49%. Um aumento de 33% naquelas que saíram andando”, resumiu Zart.

A veterinária ponderou, no entanto, que o fato de uma matriz sair correndo, marchando ou andando de dentro do brete não tem relação direta com o manejo da IATF em si, mas o histórico de manejo dentro da fazenda.

“Eu acho importante deixar claro por que essas fêmeas saíram correndo de dentro do brete e por que a outra saiu andando. Não tem nada a ver com o que aconteceu ali dentro do brete, mas sim o que aconteceu lá atrás. Uma fêmea que lá atrás já está correndo, o que acontece quando ela corre? Batimento cardíaco acelera, ela libera na corrente sanguínea hormônios como adrenalina e cortisol, ela chega agitada na entrada do brete, ela vai entrar mais ligeiro, ela vai se debater, vai ser muito mais difícil de conter e na hora que você abre, ela também sai correndo ali de dentro. Diferentemente de uma fêmea que sai andando. Ela está andando lá atrás, ela está calma, está tranquila, ela vai entrar andado no brete e vai sair andando do brete. Então é muito importante as pessoas terem esse conhecimento de que o fato de ela sair andando ou correndo não tem nada a ver com o que aconteceu no brete, mas sim com o que está acontecendo lá atrás”, frisou.

A consultora, então, detalhou um protocolo que desenvolveu para melhorar a relação entre homem e animal para que as fêmeas cheguem mais tranquilas à estação de monta. “Precisa ter um relacionamento de confiança e de liderança ali com a vacada”, sustentou.

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“Essa aclimatação seria uma preparação das novilhas, das matrizes para a estação de monta, para os manejos pelos quais elas vão passar durante a estação reprodutiva, durante os manejos reprodutivos. No caso das novilhas, o que a gente sabe? Que as novilhas, como a gente já comentou, e as primíparas, mas principalmente as novilhas, elas correm muito dentro do curral. Normalmente elas são mais agitadas justamente porque existe essa ansiedade do que é novo ali. Então por mais que a gente esteja fazendo tudo certo, a gente esteja calmo e tranquilo, fazendo um excelente manejo dentro do curral, muitas vezes a gente vê as novilhas no dia dos manejos de IATF agitadas e correndo”, avisou.

“Então a gente começou a pensar em estratégias que a gente poderia desenvolver para que, no dia da inseminação, essas novilhas não estejam mais correndo dentro do curral. Como acalmá-las, como prepará-las para os manejos de IATF. E a gente acabou desenvolvendo um protocolo, digamos assim, de aclimatação que, claro, vai ter que se adequar à realidade de cada fazenda. Mas o princípio é que essas novilhas sejam treinadas para os manejos pelos quais elas vão passar antes de começar os protocolos de IATF”, revelou.

“Tudo vai depender de como já é o comportamento dos seus animais e da estrutura que você tem. […] Ele está treinando essas novilhas para entender os comandos”, disse, comentando vídeo do exercício de um peão com uma novilhada dentro de uma baia de confinamento.

“O treinamento começou lá na remanga para depois ir para o curral. No caso aí, no confinamento. Mas numa fazenda que não tem as novilhas fechadas, você pode fazer na remanga do pasto ou mesmo na remanga do curral. Porque primeiro ali você tem mais espaço, fica melhor de você ganhar confiança dessas novilhas e começar a ensinar a elas os comandos de pressão, de alívio, de como parar, enfim, fazer elas passarem por você algumas vezes dentro do curral. Depois que as novilhas já estão entendendo bem os comandos na remanga, você traz elas para dentro do curral e aí é importante que você passe elas dentro da estrutura, na seringa, no brete, sem serem contidas”, contextualizou.

“A gente começa fazendo elas passarem em porteira, ensinando a passar pelas porteiras. […] Normalmente novilhas não sabem passar por porteira, então quando você abre porteira, ela já vem todas correndo juntas, muitas vezes se amontoando ali na passagem do portão e provocando lesões e mais estresse. Então elas precisam aprender a passar no portão”, disse Zart sobre o primeiro passo da técnica.

“Depois você passa elas por dentro desse sistema, seringa, tronco e brete. Pode deixar tudo aberto, fazer uma bica corrida ali”, continuou. “Treinar gado é igual treinar pessoas, treinar crianças. Não adianta a gente querer ensinar tudo de uma vez só. Então é passo por passo, um aprendizado de cada vez”, reforçou.

“Por exemplo, eu começo com esse aprendizado na remanga, depois eu trago essas novilhas no meu curral. Se elas ainda estão muito agitadas, eu primeiro ensino a passar pela porteira. Depois que elas já estão tranquilas, eu levo elas para o pasto. E isso é rápido – não adianta eu ficar muito tempo com essas novilhas no curral. Tem que ser um procedimento rápido. Depois de uma, duas ou três semanas, dependendo da estratégia que a gente monta, ajustada para cada fazenda, você traz normalmente essas novilhas no curral e, aí sim, você passa ali por dentro do brete com tudo aberto. Leve para o pasto, deixe duas a três semanas tranquilas novamente, depois traga para dentro do curral e aí você passa dentro do brete, mas deixando as porteiras do brete fechadas. Você não precisa pegar na guilhotina ainda, mas deixe ela ficar parada alguns segundos dentro do brete de contenção. Numa próxima vinda ao curral, sim, você vai imobilizá-las com a guilhotina, esperar alguns segundo e, assim que ela se acalmar, você abre. Se você fizer isso, quando chegar o dia do implante da IATF, essas novilhas já vão ter passado ali por dentro do curral pelo menos três ou quatro vezes. Então já não vai mais existir aquela ansiedade, elas já vão sabendo o que vai acontecer, já vão treinadas, o manejo vai ser muito mais rápido porque elas já vão estar treinadas e elas já vão estar muito mais tranquilas”, recomendou.

Além do impacto expressivo na taxa de prenhez, o resultado econômico, segundo Zart, vem na esteira das mudanças de manejo nas fazendas de cria. “O resultado de prenhez vai impactar bastante no custo da nossa prenhez. Por exemplo, no caso das primíparas desse comparativo feito na Fazenda Rio Preto, o custo da prenhez das primíparas que saíram andando de dentro do brete ficou em R$ 76,00. E o custo da prenhez daquelas que saíram correndo ficou em R$ 168,00. Isso com custos, na época, de cerca de R$ 50,00 por inseminação, por protocolo. Então também um aumento de mais de 120%”, quantificou.

A única coisa que você vai investir para obter esse melhor resultado de prenhez é no seu tempo de interações positivas com o seu gado”, simplificou a consultora.

Zart deixou à disposição os contatos pelo site da consultoria Personal PEC para produtores interessados em treinamentos para seus funcionários dentro de áreas como aclimatação de matrizes ou manejo racional de animais. A veterinária lembrou ainda que disponibiliza conteúdos por meio de seu canal no YouTube.

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Assista a entrevista completa com Adriane Zart no vídeo a seguir:

Foto: Reprodução / Facebook