Como fazer seleção genética? Pecuarista que está na lida há mais de meio século responde

José Luiz Niemeyer dos Santos, da Fazenda Terra Boa, compartilhou os pilares de seu trabalho, que começou com o Nelore em 1965 e incorporou o Brangus há 15 anos

Ele é criador de Nelore desde setembro de 1965, ou seja, há quase 55 anos, e há 15 também seleciona a raça Brangus. Nesta segunda, 13, o pecuarista José Luiz Niemeyer dos Santos, titular da Fazenda Terra Boa, em Guararapes, interior de São Paulo, compartilhou em entrevista ao Giro do Boi seus ensinamentos na busca pelo animal moderno, que seja funcional tanto para a produtividade, ou seja, aproveitamento máximo da terra, quanto na eficiência econômica.

O criador recordou que na segunda metade do ano de 1965 foi quando nasceu o primeiro bezerro PO da raça Nelore na Terra Boa, e foi quando ele se tornou, oficialmente, um pecuarista, embora a fazenda já estivesse na ativa desde 1948. Pela transformação da pecuária brasileira, exigindo mais desfrute, e do perfil da demanda do consumidor de carne bovina, o selecionador já mudou por várias vezes os rumos de seu plantel. “Eu já fiz um Nelore alto, também vi que o Nelore alto era menos precoce, passei pro Nelore de tamanho médio. […] Então essas particularidades a gente vai selecionando na raça para procurar adaptação ao meio que ela vai ser criada”, refletiu.

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“Eu acho que é muito importante que o animal seja viável economicamente. Ninguém está criando para fazer graça. […] Economia na pecuária, para mim, é mais carne por hectare e dentro de uma eficiência. Com eficiência quero dizer que não adianta você produzir mais carne por hectare gastando a mais do que você ganha, então você tem essa eficiência econômica, e você tem a eficiência funcional, o animal cumpre a sua função, que é produzir mais carne. E essa funcionalidade então, para mim, é a grande característica a ser selecionada”, opinou.

Para atingir esta dupla funcionalidade, tanto econômica como produtiva, Niemeyer disse que o criador deve lançar mão de todas as ferramentas que está à sua disposição, como fez no Nelore e, mais recentemente, no Brangus, e combiná-las com algumas convicções pessoais, ou paixões. “Ele usa, ou deve usar pelo menos, alguns não usam, todas as ferramentas disponíveis de avaliação genética, de avaliação de carcaça, de ultrassom, se tiver alguma informação de genética, você vai fazer também a genotipagem do animal, a DEP genômica. Então é isso, usando todas as ferramentas que você tem disponíveis e mais aquele modelo de gado que você tem no seu coração, vamos dizer”, acrescentou.

E a raça Brangus entrou no coração do pecuarista há cerca de 15 anos, após adquirir propriedade em Dourados, no Mato Grosso do Sul, na qual já havia uma rebanho de 600 vacas Brangus. Observando que as fêmeas criavam bem os bezerros e que os machos levados para terminação na Fazenda Terra Boa tinha bom desempenho, Niemeyer começou a utilizar os recursos de seleção que já aplicava no plantel Nelore na nova raça, como inseminação artificial, fertilização in vitro, seleção por ultrassom, também os pilares do Programa Natura para adquirir sêmen dos melhores reprodutores e ainda, conforme reforçou, bons profissionais. “Se não tiver gente do seu lado, você não faz”, frisou.

Deste modo, o nelorista virou referência também na oferta de genética Brangus (veja reprodutor do Brangus Terra Boa em foto abaixo) no mercado, sendo inclusive um dos diretores da Associação Brasileira de Brangus. A raça está em plena evolução em volume de registros genealógicos, com um aumento médio de 30% por ano nos últimos cinco anos, e também em vendas de sêmen, que cresceram 700% nos últimos dez anos.

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Niemeyer ressaltou o papel do Brangus na cobertura de vacas a campo como fundamental para a crescente participação da raça na pecuária brasileira. “Monta natural é fundamental porque uma fazenda, mesmo muito organizada, não pode ficar só com inseminação. Ela vai perder bezerros, e o pior bezerro na fazenda é aquele que não nasce, aquele que a vaca não enxertou. Então o Brangus é muito importante porque ele trabalha bem a campo. Claro que você vai ter Brangus para todas as regiões do Brasil, basta você selecionar determinadas características. Se for no Sul, a exigência com pelo zero vai ser menor. Se for lá em Rondônia, aí a exigência com pelo zero vai ser maior, e vai ser por aí”, explicou.

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O criador teceu também elogios às fêmeas F1 Brangus x Nelore e também da volta ao Brangus após fazer a F1. “Eu gosto muito do F1 com Brangus. As vacas filhas do cruzamento Brangus x Nelore são extraordinárias. Ela é muito rústica, muito adaptada, ela cria muito bem. O Brangus é uma raça, em geral, que cria muito bem, ela somas todas as qualidades e dá mais precocidade ao Nelore”, comentou. “Eu recomendo nem uma terceira raça, pode jogar Brangus novamente (na Brangus x Nelore) porque ela não vai perder a rusticidade. O Brangus tem três oitavos de zebuíno, então ele é muito bom no cruzamento. Eu tenho experiência com este tempo e a vaca não precisa ser terminal, você pode ficar com a fêmea que a fêmea é muito boa e muito valorizada”, recomendou.

Por fim, Niemeyer apontou aquilo que para ele é mais importante extrair de um programa de melhoramento genético de qualquer raça. “Mais importante é que o fazendeiro tem que criar uma raça econômica, que vai produzir mais a um preço correto e que vai te dar retorno. Isso que é funcional. A gente não está brincando, criar Nelore, criar Brangus não é um hobby. Pecuária é um grande negócio, o Brasil é o maior exportador de carne do mundo, então nós precisamos pensar em produtividade por área, porque nós não temos mais aquela sobra que terra que tinha antigamente. Hoje a pecuária compete com a agricultura moderna e eficiente e nós precisamos produzir mais”, finalizou.

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Veja a entrevista completa com José Luiz Niemeyer dos Santos ao Giro do Boi desta segunda, 13:

 

Foto: Reprodução / Terra Boa