Qual a principal contribuição da pecuária na redução e mitigação das emissões de GEE?

Pesquisador explica como os sistemas de produção de gado de corte bem calibrados podem neutralizar as emissões de gases de efeito estufa pela atividade

Os telespectadores do Giro do Boi e os pecuaristas brasileiro de modo geral têm encontro marcado nesta quinta, às 8h30, para um debate de alto nível a respeito do “Balanço de carbono da pecuária no Brasil: ameaça ou oportunidade?”. Este é o tema do 13º webinar promovido pelo programa e cujas as inscrições estão abertas (veja no link abaixo).

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Nesta quarta-feira, dia 19, um dos palestrantes do seminário virtual, o engenheiro agrônomo Eduardo Delgado Assad, mestre e doutor pela Universidade de Montpellier, na França, e pós-doutor pela Unicamp, além de pesquisador da Embrapa a professor da FGV/GVAgro, esclareceu pontos importantes para o produtor brasileiro se familiarizar com o assunto.

“Ele precisa entender que ele faz parte de um conjunto de ações que acontece no mundo inteiro e que a pecuária, como todo atividade econômica, não só agricultura, não só pecuária, não só energia, emite gás de efeito estufa. E isso tem um efeito importante no aquecimento global. Então todo esforço que a gente faz hoje é para reduzir estas emissões para que a gente consiga evitar que o mundo atinja temperaturas elevadas nos próximos anos. É importante que a gente diga isso porque as pessoas têm que saber que, apesar de ter uma controvérsia grande sobre o tema, o planeta está se aquecendo e a gente precisa reduzir estas emissões. E reduzindo estas emissões, a gente consegue mapear a pecuária positiva, consegue sobreviver, consegue prolongar o tempo de vida do homem no planeta”, introduziu o pesquisador.

Assad esclareceu como são produzidas as emissões de gases que geram o efeito estufa pela pecuária. “São dois processos principais de emissão. O processo de fermentação entérica, em que o animal come a forrageira, que passa por um processo de fermentação e aí ele arrota. Erradamente alguns grupos dizem que é o pum, a flatulência, mas não é nada disso. É o arroto do boi que emite metano, que é um importante gás de efeito estufa. Outra forma de emissão são as excretas bovinas, pelos dejetos, como urina e o próprio esterco. E aí emite-se um gás muito mais forte, que é o óxido nitroso. Este conjunto coloca a pecuária numa situação desvantajosa em termos de balanço com relação aos outros componentes, principalmente agricultura. Então a pecuária, sim, emite. O boi, sim, ele emite metano e óxido nitroso”, comentou.

O agrônomo lamentou, no entanto, que a partir desta constatação as discussões tomem rumos que, de certa forma, fogem da ciência e da racionalidade. “Tem um lado que diz que não quer comer carne, que agora é vegetariano, que só vai comer bife vegetal, mas eu acho que não é por aí”, ponderou. “Eu acho que o que nós temos que fazer é transformar a nossa pecuária em mais produtiva, intensificar a produção e reduzir as emissões e, no momento que a gente reduzir estas emissões por unidade animal, nós vamos dizer ao produtor que o consumidor está comendo uma carne que, em primeiro lugar, no Brasil, está livre de vaca louca, está livre de aftosa e emite pouco CO². Então todo esforço nosso é para mostrar que é possível, sim, você atingir valores de emissão baixos que vão beneficiar o consumidor. Ele vai ter uma carne certificada, que vem de origem boa e que tem baixa pegada de carbono. Este é o objetivo nosso”, sintetizou.

Um dos principais entraves para que a pecuária reduza e mitigue estas emissões de carbono equivalente atualmente é a degradação de pastagens. Assad citou estudo conduzido em parceria entre a própria Embrapa e a UFG que aponta que cerca de 40 milhões de um total de 168 milhões de hectares de pastagens no Brasil estão em degradação. “O foco, via agricultura de baixo carbono, é consertar esses pastos degradados e intensificar a produtividade e reduzir as emissões de carbono”, indicou.

O pesquisador reconheceu a quantidade relevante de emissões pela atividade, mas apontou que com o sistema de produção calibrado, a atividade encontra um balanço entre emissões e sequestro. “O boi emite, nunca neguei e sempre trabalhei com grupos de pessoas e cientistas que mostram que o boi emite e emite muito. Não é pouco. Em torno de 70 quilos de metano por unidade animal ao ano. Isso é bastante, considerando 200 milhões de cabeças no Brasil. Agora quando eu coloco isso num sistema integrado, com uma pastagem boa, eu não posso considerar o meu boi produzindo em cima de uma placa de concreto. Ele produz em cima de pasto e o pasto faz fotossíntese. E para fazer fotossíntese ele tem que tirar carbono, CO2 da atmosfera, senão ele não faz fotossíntese. O pasto transforma este metano e o óxido nitroso que o boi emite em uma moedinha, que é a moedinha de gás de efeito estufa que todo mundo trabalha com ela, que é o CO2 equivalente. Então existe uma relação entre metano e óxido nitroso. Ao transformar em CO2 equivalente, eu vejo quanto em CO2 equivalente que foi removido da atmosfera para que o pasto cresça, e aí vem o balanço”, explicou.

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O professor, então, revelou qual pode ser a principal contribuição da atividade para redução e mitigação das emissões de gases de efeito estufa. “Nesse balanço, nós já chegamos a algumas conclusões e alguns trabalhos que têm norteado a agricultura de baixo carbono, principalmente, todos publicados, corroborados cientificamente que indicam no mínimo (o sequestro de) uma tonelada de carbono por hectare ano, o que dá mais ou menos 3,6 toneladas de CO2 equivalente. Isso, dentro de um bom sistema de manejo, você consegue neutralizar a emissão de duas cabeças. Aí o jogo começa a ficar legal. Imagine você ter um pasto bom, você pode neutralizar a emissão. Veja – não quer dizer que você vai, mas você pode neutralizar as emissões de duas cabeças. E, ao alimentar bem o seu gado, você diminui o tempo de abate. Então a gente trabalhava com 40, 45, 50 meses para abate e hoje a meta é de 20 a 24 meses de idade. Então ao invés de você emitir aquela quantidade toda de 70 kg de metano por unidade durante 4 anos, você vai fazer isto durante dois anos. E aí eu reduzo muito a emissão do boi. Essa é a principal contribuição da pecuária na redução e mitigação das emissões de gases de efeito estufa”, completou.

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O pesquisador adiantou que em sua apresentação no webinar desta quinta, dia 20, vai contextualizar como o Brasil se enquadra no contexto mundial das emissões de gases de efeito estufa e algumas oportunidades dentro deste tópico para aumentar a sustentabilidade combinando com a necessária produção de alimentos. Assad tem boas perspectivas para o aprofundamento das discussões no país, uma vez que, de acordo com ele, a maior parte dos produtores tem boas intenções. “Os bons agricultores, aqueles que adotam as boas práticas agrícolas, são os nossos aliados. Aqueles que invadem terras, desmatam e põem fogo não são nossos aliados. Eu não quero esses como nossos aliados. Eu defendo os 95%, 98% dos produtores brasileiros que fazem tudo certinho. São esses que eu defendo, os outros não. Os outros estão na ilegalidade”, concluiu.

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Assista a entrevista completa no vídeo a seguir: