O que é melhor para a fazenda: pastejo contínuo, alternado ou rotacionado?

Agrônomo Wagner Pires explicou como funcionada cada um dos sistemas de pastejo e sua relação com a fisiologia das plantas forrageiras

“Já ouviu aquele ditado “boi não gosta de vento na canela”? É o ditado mais verdadeiro que existe. O que ele quer dizer? ‘Olhe, não rebaixe o seu pasto abaixo da canela do boi’. Então vamos começar a respeitar a pastagem! Vamos respeitar a planta para que assim a gente consiga ter um bom pastejo, uma boa produção do nosso gado e um bom resultado financeiro”, disse Wagner Pires, engenheiro agrônomo pós-graduado em pastagens pela Esalq-USP e consultor do Circuito da Pecuária, em mais uma edição de seu novo quadro no Giro do Boi, “Dez passos para construir e manter uma boa pastagem na sua fazenda”, que foi ao ar nesta sexta, 15.

E o que Wagner Pires entende como respeitar a pastagem? Basicamente é entender como a planta se comporta quando o gado faz o corte, quando ela volta a crescer ou quando ela para de crescer para evitar sua degradação.

Segundo o especialista, o produtor pode escolher entre os três tipos de sistema de pastejo, mas um deles é o mais recomendado, caso haja possibilidade de implantação na fazenda. “Existem três manejos que você pode escolher e adotar na sua fazenda”, anunciou.

PASTEJO CONTÍNUO

“É aquele que você coloca o gado no pasto e só vai tirar o gado de lá na hora de vender. O gado fica permanentemente naquele pasto. É um sistema bom? Eu não acho, porque só existe uma forma de você fazer um pastejo contínuo e não estragar o seu pasto, que é trabalhando com uma baixa lotação de gado”.

PASTEJO ALTERNADO

“O que é o pastejo alternado? Você tem dois pastos do mesmo tamanho, aproximadamente. E você trabalha com um lote 10 a 15 dias em um deles e depois de 10 a 15 dias para o outro ao lado. E depois volta, e depois vai novamente. E fica fazendo um ping pong ali. Ele é muito bom porque dá oportunidade de um descanso ao seu pasto sempre em seguida ao pastejo”.

PASTEJO ROTACIONADO

“Você vai rodar o gado em vários piquetes, sendo que, a partir do momento em que ele sai daquele primeiro piquete, aquele piquete vai descansar o número de dias necessário para a sua rebrota. É o tempo de dar uma volta completa e retornar novamente para aquele primeiro pasto. Essa é a melhor forma para você ter uma alta taxa de lotação na sua fazenda”.

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Na sequência, o agrônomo explicou a sua recomendação detalhando a fisiologia da planta forrageira. “Uma gramínea tem folha, talo e raízes. […] Porém existem mais três fatores importante, três pontos importantes que gostaria de chamar atenção”, acrescentou.

“O primeiro se chama gema apical, ou meristema apical. É um tecido que é por ele que a folha do capim se desenvolve. Imagine a sua junta do dedo, um lugar mais grosso, e no talo do capim você vai encontrar esse ponto mais grosso. Ali está localizada a gema apical. É dali que a folha nasce, dali que a folha se desenvolve. E cada tipo de capim tem uma altura dessa gema apical. Existem várias gemas apicais na pastagem e nós temos que entender e saber que não podemos deixar o gado comer. Temos também a gema basal e o nome já fala, ela está escondida na base da planta e ela provoca o perfilhamento pelo menos uma vez ao ano. E, finalmente, nós temos o que nós chamamos de tecido de reserva. O que é? É onde a planta armazena carboidratos, lipídios, sais minerais, tudo que a planta precisa”, informou.

Pires esclareceu a importância do tecido de reserva. “Como é crescimento, o desenvolvimento da sua pastagem na época das águas e na época da seca? Muda? Claro que sim! Na época das águas, a planta está em franca atividade, em franco desenvolvimento, e não tem tempo de armazenar tecidos de reserva. É muito importante que você tome cuidado e não deixe o gado rapar o pasto na época das águas. Quando termina o período das chuvas e começa o período da seca, um pouco antes disso a planta se prepara para atravessar o período da seca. De que forma? Fazendo raízes. Aprofundando seu sistema radicular. A sua pastagem, nas águas, vai produzir 70% da massa do ano e, na seca, 30%. Se você manejar bem e corretamente a sua pastagem nas águas, na seca você vai ter uma qualidade melhor de pasto. E a hora que reiniciarem as chuvas, no início do próximo período chuvoso, o seu pasto vai rebrotar, vai desenvolver rapidamente”, explanou.

“Você está percebendo como é importante você fazer um bom manejo e respeitar o tempo de descanso e altura de entrada e de saída para o seu pasto?”, indagou de forma retórica o agrônomo. Entender essa dinâmica, conforme ressaltou Pires, é determinante para saber a hora correta de colocar e tirar o gado de cima do pasto.

Saiba qual é a combinação ideal entre períodos de pastejo e descanso

“E lembre-se de uma coisa: todas as vezes que o gado sair do pasto, obrigatoriamente tem que sobrar pelo menos 50% de folhas. Esses 50% de folhas vão fazer a fotossíntese e vão dar energia para a planta rebrotar. Nós não podemos deixar o gado rapar o pasto”, completou.

Quanto custa para o pecuarista um pasto mal manejado?

Assista a participação de Wagner Pires no Giro do Boi desta sexta-feira, 15, pelo vídeo a seguir:

Foto: Reprodução / Embrapa