Devo enxertar vaca N'Dama com embrião Holandês? Posso importar material do Brasil?

Zootecnista alertou para problema de parto por conta da diferença de porte entre as raças e recomendou outro cruzamento para as matrizes africanas

Depois de ter parte de sua dúvida esclarecida no Giro do Boi na última semana (relembre pelo link abaixo), o pecuarista Gabriel Luiz, que tem propriedades na província de Cuanza Sul e no município de Malanje em Angola, país da África, foi novamente atendido no programa desta quarta, 03, com um complemento de seu questionamento.

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“É possível utilizar embriões de vaca leiteira holandesa nas nossas vacas africanas, as matrizes N’Dama, para uma reprodução massiva? Como posso transportar embriões do Brasil para Angola ? É possível fazer cruzamentos com as vacas africanas? Elas iriam aguentar num momento do parto?”, questionou o produtor.

O zootecnista Guilherme Marquez, gerente nacional de produto leite da central Alta Genetics, auxiliou mais uma vez o pecuarista angolano, começando por apresentar a raça criada por ele.

“Lá na Angola existe uma raça muito tradicional, é uma raça chamada N’Dama. Ela é até conhecida de todos nós, brasileiros, porque ela está na formação de uma raça que nós conhecemos como Senepol. […] O nosso amigo está curioso para saber se pode colocar embriões da raça Holandês nessas vacas: pegar uma vaca Holandês, aspirar essa vaca, enxertar com um touro Holandês, fazer o embrião e colocar essa vaca N’Dama como receptora”, explicou.

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O zootecnista disse que não recomenda a transferência de um embrião Holandês, raça de grande porte, na receptora N’Dama, de pequeno a médio porte. “O que acontece é o seguinte: o N’Dama é uma raça de frame mediano, ou seja, tamanho mediano para baixo. É uma raça que chega, em sua maturidade, no máximo a 360 kg, e tem um peso ao nascimento que varia de 18 até 22 kg. Quando a gente compara com a raça Holandês, nós estamos falando de animais de grande porte que vão nascer, de acordo com os dados específicos, de 35 a 45 quilos de peso ao nascimento”, informou.

“É uma diferença muito grande!”, alertou. “Se as vacas N’Dama vão conseguir parir esses embriões, é uma situação que eu não arriscaria por achar que eu tenho um animal de frame mediano para pequeno, que vai dar à luz, parindo um animal que tem porte grande. E a gente sabe ainda que quando nós fazemos transferência de embrião, ainda corremos o risco de ter um pouco a mais de peso ao nascimento”, acrescentou. “Por isso, eu acredito que não seria uma boa ação”, sustentou o especialista.

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O profissional rejeitou ainda a possibilidade de inseminar as vacas com sêmen de touro Holandês. “Inseminando essas vacas N’Dama com o Holandês, […] nós vamos ter um cruzamento entre raças muito distantes e ainda podemos ter animais ao nascimento mais pesados (por conta da heterose), gerando dificuldade de parto. Então eu não colocaria”, opinou.

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Marquez recomendou uma outra raça para cruzar com suas fêmeas N’Dama para a produção de leite. “Ele pergunta, então, qual raça seria interessante. Acredito eu que nós poderíamos começar com uma base do Gir Leiteiro brasileiro. A gente pode colocar a genética Gir nas vacas N’Dama para a gente poder fazer um bom cruzamento”, sugeriu. Segundo o zootecnista, o cruzamento da raça africana com o zebuíno vai gerar heterose. “O N’Dama é uma raça Bos taurus taurus. É uma raça taurina. Quando a gente cruzar com o Zebu, no caso o Gir Leiteiro, nós conseguimos um frame menor e uma facilidade de parto maior, o que vai ser melhor para o nosso amigo pecuarista”, confirmou Marquez.

Em todo caso, conforme ressaltou o especialista, o produtor angolano não vai conseguir enxertar as vacas com embriões produzidos no Brasil. “Ele nos pergunta também como é para levar embriões de Holandês para a Angola. O Brasil ainda não possui protocolo de exportação de embriões com a Angola, então nós precisamos estreitar os laços políticos para que isso abra as fronteiras, para que a gente possa exportar esse material genético”, revelou.

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Qual é a sua dúvida sobre gado de leite? Envie para o programa no link do Whatsapp do Giro do Boi, pelo número (11) 9 5637 6922 ou ainda pelo e-mail [email protected].

Confira a resposta completa de Guilherme Marquez ao pecuarista angolano no vídeo abaixo:

Foto: Rebanho N’Dama no Oeste da África. Fonte: ILRI – N’Dama herd in West AfricaCC BY 2.0https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=12792149