O dejeto dos suínos pode substituir a ureia na adubação do pasto?

Engenheiro agrônomo orientou criador a respeito de algumas etapas a serem verificadas antes de o produtor usar o esterco da sua granja na fertilização dos piquetes

O produtor Fábio Pereira Alves, de Tupãssi, no Paraná, quer saber se os dejetos dos suínos que cria podem substituir a ureia na adubação das suas pastagens. Ele disse que já está usando em sua propriedade com bons resultados (foto acima) e quer validar a prática com um especialista.

No Giro do Boi desta segunda-feira, dia 15, o engenheiro agrônomo Wagner Pires, pós-graduado em pastagens pela Esalq-USP e consultor do Circuito da Pecuária, esclareceu o assunto.

“O suíno tem uma capacidade hoje de produção muito boa de dejetos, que podem ser aproveitados também tanto na lavoura quanto na pastagem. Eu tive oportunidade de trabalhar com uma propriedade, não aqui no Brasil, mas na Nicarágua, onde que eles tinham uma grande criação de suínos e produziam muitos dejetos. Lá, eles aproveitavam tanto para alimentação, para suplementação do rebanho, porque hoje o dejeto do suíno é puro milho, puro grão. Então eles aproveitavam os dejetos, e isso é legal, o gado comia tudo e ganhava peso. E eles também aproveitavam a água como fertirrigação nas capineiras e já dava um excelente resultado”, contextualizou.

“Eu fui pesquisar para você ter uma noção, pois eu não sei quantos suínos você tem na sua propriedade. Mas 1.000 suínos produzem 8.000 quilos de nitrogênio e 4.300 quilos de P2O5 em média por ano. E o que o seu pasto necessita para produzir bem? De algo em torno de 200 quilos de nitrogênio por hectare. Então é só você fazer a conta […] para você ter uma relação. É muito bom”, calculou.

Aprenda a fazer adubação de pasto

+ Embrapa estuda tecnologia para fortalecer ‘calcanhar de Aquiles’ do agro brasileiro

Pires ponderou, entretanto, que as proporções podem sofrer variação. “Agora isso, Fábio, também varia muito em termos da alimentação que você está oferecendo para os seus suínos, a quantidade de água e de matéria seca. O que seria conveniente? Você pegar uma amostra desse dejeto que você está jogando, mandar para fazer uma análise e ver o quanto tem de nitrogênio”, sugeriu.

Pires fez um alerta ainda sobre o uso dos dejetos nas pastagens: seu uso em excesso pode gerar rejeição dos bovinos. “O único cuidado que eu recomendaria é o seguinte: todo dejeto, seja de suínos, frango e até o de bovinos tem um cheiro. E o bovino não gosta do próprio cheiro das suas fezes. Tanto é que quando um bovino excrementa em um determinado lugar, ele não come em volta. Ele deixa de comer ali. Eu já vi esse tipo de problema: já fui fazer uma visita a uma propriedade na região de Mineiros, em Goiás, onde eles estavam jogando muita cama de frango. Lá não era suíno, mas deu um cheiro na pastagem e quem passava na estrada sentia o cheiro dos dejetos da cama de frango. E aí o gado começou a refugar. Então muito cuidado para não dar cheiro na sua pastagem. […] Você deve fazer aplicações dando um tempo entre uma e outra para que realmente aquilo volatilize aquele cheiro se perca e você não tenha problema com o consumo de forragem”< ponderou.

“Mas é bom e vale a pena continuar. É importante você misturar, fazer essa análise e aí você vai saber o que você está jogando. Com certeza, o resultado é compensatório”, conclui

+ Fazenda tem economia milionária ao transformar esterco em adubo

Embrapa ajuda produtor a transformar resíduos em fertilizante

+ Posso usar cama de frango pra adubar pasto?

Confira no vídeo a seguir a resposta completa do agrônomo: