Posso usar cama de frango pra adubar pasto?

Especialista avisou que nem sempre o produto mais barato é o mais indicado ao pecuarista e fez um alerta quanto ao uso do material nos piquetes dos bovinos

A pergunta é de um pecuarista de Maringá, Paraná. Renan explicou que em sua região há muita disponibilidade de cama de frango, cujo uso é proibido na alimentação animal. Entretanto, o produtor quer saber se o material pode ser usado na adubação das suas áreas de pastagens.

Foi o engenheiro agrônomo Wagner Pires, pós-graduado em pastagens pela Esalq-USP e consultor do Circuito da Pecuária, que esclareceu a dúvida. “Pode, desde que a cama de frango seja o seu melhor produto, que vá atender a sua necessidade”, resumiu.

Pires ponderou que antes de usar qualquer produto, primeiro o produtor precisa saber qual é a “doença” do pasto para poder encontrar o melhor “remédio”.

“Como é que você fica sabendo disso? A primeira coisa é que não se faz adubação sem uma análise de solo. Você não toma um remédio sem fazer uma consulta com o médico, sem fazer um exame certinho. O exame que você tem obrigação de fazer chama-se análise de solo!”, exclamou.

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“Aí você mostra essa análise para um agrônomo amigo seu e ele vai fazer a recomendação correta. Às vezes não é só nutriente que está faltando no seu solo. Às vezes o seu solo está ácido e precisa ser corrigido, está deficiente em algum nutriente específico, que às vezes, na cama de frango, na adubação orgânica não tem. Então você tem que trabalhar com o melhor produto para o seu solo, ok?”, frisou.

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ALERTA

Ainda que o produtor escolha usar a cama de frango, Pires alertou que há cuidados importantes na inspeção do produto para evitar uma crise sanitária. “Você me pergunta: posso usar uma cama de frango? Claro que você pode, o único cuidado que você deve tomar é que essa cama de frango não deve conter resíduos de animais mortos. Um pintinho, uma galinha, um frango. Não pode ter presença de sangue nela porque existe o risco da vaca louca e existe o risco de o gado comer, às vezes, um pedaço desse animal que está lá, o resto desse animal morto, e contrair a vaca louca. Então a fiscalização hoje é muito rígida no Brasil nesse sentido. A última coisa que nós precisamos é de uma vaca louca ou uma aftosa, por exemplo. Então nós temos que tomar todo cuidado”, avisou.

FAZER AS CONTAS É SEMPRE BOM

O agrônomo ponderou ainda que o fato de o material ser muito barato não quer dizer que automaticamente o produtor vá levar vantagem na sua aquisição. “Outro ponto importante: às vezes, dependendo do material que você compra, ele tem um cheiro muito forte, dependendo da origem desse material. E dependendo também do estágio de decomposição desse material. Então tome bastante cuidado. Você pode aplicar a cama de frango na sua área, distribua direito, veja o custo que isso vai ficar. Normalmente o esterco e a cama de frango são baratos, mas tem que ter conteúdo. Eles tem que realmente valer a pena”, considerou.

“Algumas fazendas paras as quais eu presto consultoria optaram por fazer a adubação orgânica através de uma cama de frango e depois verificaram que era um material que estava muito pobre em nutrientes para o solo dele. Então era barato, mas não contribuía em nada”, apontou.

O consultor revelou que há inclusive alternativas mais ricas em conteúdo que substituem a cama de frango. “Existem no mercado disponíveis produtos que têm a parte mineral, mas também tem a parte orgânica. São os chamados organominerais. Esses produtos vêm já em sua composição com matéria orgânica de origem vegetal, que não tem cheiro, e um material muito homogeneizado e padronizado. Então já tem esse produto disponível no mercado”, sugeriu.

“Então fique atento nesse sentido, procure fazer uma análise desse produto e, se for usar mesmo, deixe que chova bem na área depois para que esse material infiltre na terra e comece a ser processado. […] O importante é você ir melhorando ao longo do tempo a fertilidade da sua fazenda. Siga adiante!”, concluiu.

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Se você tiver dúvidas a respeito de manejo de pastagens, envie sua pergunta para o especialista no link do Whatsapp do Giro do Boi, pelo número (11) 9 5637 6922 ou ainda pelo e-mail [email protected].

Assista a resposta completa de Wagner Pires no player que segue:

Foto: Jairo Backes / Reprodução Embrapa