Como premiar os funcionários de uma fazenda de pecuária de corte?

Consultora afirmou que programa de remuneração por metas deve ser muito claro para evitar "tiro no pé", mas é essencial para manter os funcionários mais qualificados

Nesta segunda, 02, o Giro do Boi recebeu em estúdio para entrevista a pedagoga e jornalista Jack Lubaski, consultora em gestão de pessoas e desenvolvimento humano para empresas rurais. A especialista trouxe dicas para manter equipe de colaboradores da fazenda ajustada aos compromissos das propriedades, principalmente nesta retomada da economia do país, em que as contratações pelo mercado de trabalho estão se aquecendo* mais uma vez.

Jack confirmou que de fato o mercado agropecuário está aquecido na busca por mão de obra com a retomada da economia, no entanto, ponderou que também está mais competitivo, priorizando investimentos em infraestrutura e, consequentemente, precisando de profissionais mais qualificados para operar. “A gente tem tido muitas vagas no agronegócio, precisando mesmo, com todo este aquecimento do nosso setor, as pessoas têm buscado melhorar a sua equipe”, confirmou.

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Lubaski relatou também que montar uma equipe à altura dos desafios da fazenda não passa somente pela contratação de novos funcionários, mas também pela capacitação daqueles que já estão compondo o quadro de colaboradores, levando cursos, treinamentos e boas práticas. “O tempinho que você para lá não é tempo perdido, pelo contrário, você vai estar ‘amolando o seu machado’. […] e, consequentemente, ter mais lucro, menos desperdício e assim por diante”, recomendou.

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Depois de capacitar sua equipe, fidelizar estes profissionais requer outro esforço do produtor: pensar em programas de remuneração variada que possam manter os colaboradores felizes, motivados e produtivos naquela determinada propriedade, evitando a rotatividade da equipe. “Quando eu começo a ter pessoas qualificadas, eu tenho que remunerar mais”, raciocinou. A consultora disse que este modelo de premiação por conquista de metas é mais comum nas fazendas de agricultura, mas ainda tem bastante resistência no setor da pecuária de corte. E por quê?

São dois fatores principais que limitam esta bonificação. O primeiro deles é a característica da atividade: como a agricultura tem um ciclo anual bem definido, a apuração das metas é mais natural porque termina junto com a colheita, apontando se a produtividade em sacas por hectare, por exemplo, foi a programada. Já na pecuária, os ciclos são mais longos e um bezerro nascido em determinada temporada pode levar mais dois ou três anos até ser engordado e comercializado nos casos de fazendas de ciclo completo.

Outra dificuldade que o pecuarista tem de elaborar programas de remuneração variável é que muitas fazendas não conhecem os próprios números, portanto não têm referência para decidir se os resultados são dignos ou não de reconhecimento. “Então isto às vezes dificulta um pouco para o pecuarista e ele tem um pouco de insegurança pra criar este modelo de remuneração variável. Eu concordo, eu acho que realmente é um negócio que tem que ser muito bem estudado por conta de que pode ser um tiro no pé. Se você criar um modelo de meritocracia de remuneração variável sem ter dados, sem ter histórico do resultado da sua propriedade, você realmente pode ter um grande problema e não conseguir pagar o que você combinou com seus colaboradores e aquilo que era para ser positivo acaba se tornando um problema maior do que você tinha”, advertiu.

“Um negócio que eu acho muito bacana a gente falar é que o pecuarista também tem um pouco de insegurança de mostrar números para os funcionários da pecuária. Os vaqueiros, por exemplo, os seus capatazes”, relatou a pedagoga. No entanto, abrir os números e discutir formas para alcançar outros ainda mais expressivos torna-se condição essencial para criar este programa de meritocracia para fidelizar os colaboradores mais qualificados da fazenda.

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“Então a remuneração variável primeiro precisa ter números nas mãos. E fazer um formato que eu veja até o final, onde todos os envolvidos começam a criar uma ideia de que precisam uns dos outros, que tudo aquilo é uma engrenagem. Às vezes a gente vai em uma propriedade que o inseminador se acha mais importante do que o salgador, do que o cerqueiro, e não é. E, principalmente, entender que a equipe é tudo, pra não se dividir isto. Eu sempre falo: se você quer paga uma remuneração variável, pague até para a cozinheira, porque se ela estiver satisfeita, ela vai se dedicar ainda mais e a pessoa vai ter uma boa alimentação, comer bem e vai bem pro trabalho. Agora quando o vaqueiro tem problema desde o café da manhã, lá no almoço, ele não vai se doar 100%. Comprometimento engloba tudo isso, ter um modelo de gestão, de remuneração variável, bem feito e com clareza. É principalmente isto: clareza”, cobrou Lubaski, referindo-se à definição simples das metas.

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Para chegar a estes objetivos de forma que todos se sintam confortáveis, a especialista disse que a ferramenta de “toró de parpite”, ou o brainstorming, em que toda a equipe se reúne e colabora para a definição dos números a serem alcançados, é um instrumento muito eficaz. “É você ser muito claro. ‘Olhe, a gente vai começar a pagar a partir de x arrobas produzidas por hectare’. […] E começa a desmembrar. Se o seu negócio final é entregar arrobas produzidas, independente se for bezerro, terminação, você começa a destrinchar esta meta de trás para frente. ‘Para isto eu preciso de x de índice de prenhez, eu preciso desmamar um bezerro com tantos quilos, uma mortalidade no máximo tal para eu conseguir lá no final sair com estas arrobas que eu espero’”, ilustrou.

Durante a entrevista, Lubaski disse que há atualmente cursos bem específicos com profissionais com experiência de campo que podem capacitar, por exemplo, os capatazes que lidam direto com os vaqueiros, inclusive reforçando a comunicação entre os peões para que seja muito clara, em uma linguagem que possa impactar todos os integrantes da equipe. “O capataz tem que saber como gerir pessoas, pois é ele quem vai lidar. […] Aos capatazes, uma dica: de manhã, converse com seus vaqueiros na baia, passe exatamente o trabalho que vai ser feito. De preferência até um dia antes para o vaqueiro já levantar e a hora que for tropear, já pegar os animais de acordo com o trabalho que vai ser feito. […] Então hoje já tem estas qualificações exatamente para ensinar o capataz como lidar com equipe como se fosse exatamente um administrador, mas com palavras mais simples”, exemplificou.

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“Vamos buscar de acordo com o formato de cada um. Eu sempre digo que não tem uma regra pura. A ideia é que cada um no seu papel tem que criar o seu modelo de acordo com a sua realidade”, concluiu a consultora. “Para você, produtor, qualifique a sua equipe, não tenha medo, não tenha insegurança de que vai perder. É melhor você ter ele um pouco e qualificado do que ficar o resto da vida sem qualificação”, indicou.

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Além da remuneração em forma de salários e prêmios, Lubaski deu outros exemplos para fidelizar os melhores funcionários. “E, claro, a partir do momento que ele começa a se qualificar, você tem que valorizar a mão de obra dele e melhorar o salário, melhorar a condição. Porque salário não é só aquilo que ele recebe, é a condição, a moradia, o alojamento, a alimentação, a casa que a família dele mora, as condições para o filho ir para a escola, se é que neste local existe esta possibilidade”, instruiu.

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A especialista revelou durante a entrevista será embaixadora no Giro do Boi em um novo quadro semanal que estreará em breve no programa e que será voltado à gestão, contratação de pessoas e para ajudar a diminuir a rotatividade de profissionais na fazenda. “Não vai ser só produtor, não! É para você, também, colaborador. Fique de olho porque tem muita dica, muita coisa boa que vem pela frente”, adiantou.

Outras informações sobre gestão de recursos humanos para fazendas podem ser solicitadas pelo e-mail [email protected]. Os conteúdos e dicas da consultora também podem ser acompanhados pelo seu perfil no Instagram, @JacquelineLubaski.

 

Veja a entrevista completa com Jack Lubaski no vídeo abaixo:

 

*Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) apontam que 2019 foi o melhor ano desde 2013 para a geração de empregos no País. Foram ao todo registradas 16.197.094 vagas formais preenchidas contra 15.553.015 demissões, resultando em um saldo de 644.079, o maior número de vagas formais abertas em seis anos. A agropecuária está entre os cinco maiores setores que contribuíram para o número, atrás de serviços, comércio, construção civil e indústria de transformação.