Ela trocou uma multinacional pela vida no campo e foi premiada como gestora rural

Conheça a história da mãe, esposa e produtora Sônia Bonato, que trocou a carreira em SP para se tornar exemplo de administradora na Fazenda Palmeiras, em Ipameri-GO

Sônia Bonato nasceu no estado de São Paulo e seguia carreira em uma multinacional do ramo de autopeças quando sua vida sofreu uma brusca alteração. Nada que não tenha sido uma escolha dela própria. Isto porque depois de casada, o marido recebeu uma propriedade rural no interior do estado como herança e, visionários, venderam as terras para comprar uma fazenda ainda maior no estado de Goiás.

A escolha foi pela Fazenda Palmeiras, localizada no município de Ipameri, na região sudeste do estado, localizado entre os rios Corumbá e São Marcos a 200 km da capital Goiânia. Foi então que começaram os desafios para Sônia, todos superados, segundo ela, pela sua inquietação na busca por conhecimento. A própria produtora contou sua história em entrevista ao Giro do Boi, exibida na última segunda, dia 24.

Apesar de ter nascido e ter sido criada em propriedade rural, Sônia revelou que o fato por si só não foi o suficiente para determinar seu sucesso como gestora da Fazenda Palmeiras. “Quando a gente mudou pra lá, apesar de eu ter nascido em fazenda, ter sido criada em fazenda, isso não garante sua gestão, você não tem isso aí como segurança, de saber tocar um negócio deste. Então eu fui procurar conhecimento e estudar, porque apesar de você saber como é que se planta, hoje mudou muito da época dos nossos pais”, analisou.

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O primeiro passo da caminhada para o sucesso da fazenda foi fazer a divisão das tarefas. Enquanto seu marido, Nilton, coloca a mão na massa e tem o conhecimento prático da atividade, Sônia se especializou na gestão e administração rural, aproveitando seus estudos em contabilidade. Atualmente, Sônia é a responsável por gerenciar os custeios agrícolas, financiamentos dos investimentos, cotação de insumos, vacinações e declarações como Imposto Territorial Rural e Imposto de Renda, controlando as contas e o livro-caixa da propriedade. “(Sou eu) Quem faz toda a gestão, até de comprar peça, comprar óleo, levar o mecânico na roça. Eu sou motorista, sou gestora, sou assessora dele (o marido, Nilton) porque ele liga e fala: ‘Ó, eu preciso que você vá lá levar o óleo para o trator porque acabou!’. Então eu saio correndo e vou lá”, exemplificou.

Para que tudo fique dentro do esperado, todas as metas e objetivos são traçados anualmente, com revisões mensais para checar se tudo está dentro do combinado. “Você primeiro tem que conhecer sua empresa, que é o que nós fizemos. A gente foi ver qual era a capacidade que a fazenda tinha em retorno para nós com o nosso trabalho”, observou.

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Para todas as questões que não são de seu conhecimento específico, Sônia reconheceu que busca a ajuda de profissionais de cada área. Foram os casos dos médicos veterinários Rodrigo Albuquerque (Notícias do Front), o primeiro consultor buscado pela gestora, e Adriane Zart, especialista em bem-estar animal que inspirou a gestora a levar o “manejo nada nas mãos” para a Fazenda Palmeiras.

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Na entrevista ao Giro do Boi, Sônia lembrou do dia em que assistiu à palestra de Zart e, inspirada, foi sugerir a mudança à equipe de peões. “E o que aconteceu? Eu cheguei na fazenda e fui falar com o funcionário e eu entrei dentro do curral na hora em que estavam as vacas todas lá. E meu compadre estava lá este dia e ele disse: ‘Comadre, sai daqui que esta vaca vai pegar a senhora!’. Eu falei: ‘Não pega! Você quer ver que não pega? E vocês vão fazer do jeito que eu estou fazendo!’. E você acredita que o resultado foi espetacular?”, contou sorrindo.

Como administradora da Fazenda Palmeiras, é de responsabilidade de Sônia conversar com os peões para transmitir os recados e as novidades, como o próprio manejo nada nas mãos, que aprende nos – muitos – eventos e palestras de que participa. “No começo que a gente chegou em Goiás, e como era eu quem já ficava na fazenda mesmo, olhando o trabalho e as coisas, era eu mesma que ia conversar. […] Graças a Deus, eu não tive problema, não, porque eu acho que ele (o peão) não é seu funcionário, ele é seu parceiro. Você investe em conhecimento dele, hoje você precisa dar treinamentos para o seu funcionário para que ele realize um trabalho melhor. A capacitação da mão de obra hoje é muito importante para o proprietário porque você tendo uma pessoa capacitada, ela vai saber fazer o trabalho e vai trazer mais renda pra você. Com isso, você vai ter mais confiança em entregar um trabalho nas mãos dele também. Esta é a parte de parceria que eu falo é assim. Às vezes você chega com novidade na fazenda, porque eu faço muitos cursos, muitas palestras, e eu chego na fazenda com aquelas novidades”, salientou.

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Foi com que este poder de persuasão, inclusive, que convenceu mais recentemente o seu esposo a implementar a estação de monta para a reprodução na propriedade, revelou com muito bom humor durante sua participação no programa. Atualmente, a propriedade conta com três fontes de renda, provenientes da silagem, usada para o consumo próprio e comercialização do excedente, grãos e carne, por meio da pecuária de corte. “Aconselho todo mundo a diversificar a produção na propriedade, que é coisa mais garantida”, instruiu.

Sônia falou também sobre como utilizou seus características femininas para alcançar o sucesso como gestora rural. “Eu acho que a mulher tem uma sensibilidade maior de enxergar onde que está o ponto de partida, onde que você tem que começar a trabalhar para que isto cresça e envolva todo mundo”, explanou.

Mas nada disso valeria a pena se Sônia chegasse aonde planejou somente no plano profissional. “A vida da mulher é mais cheia, a gente fala assim. É ser mãe, dona de casa, no meu caso, gestora da fazenda, ainda faço estas conexões, participo de eventos… É um propósito de vida ajudar e dividir com outras pessoas estes conhecimentos que as ajudam”, garantiu.

Sônia fez referência aos diversos grupos organizados de mulheres do agro que se reúnem periodicamente para contribuir para o avanço do setor. “A gente não é ‘clube da Luluzinha‘, a gente quer que os homens estejam junto com a gente nesta caminhada porque eu acho que não existe cá, nem cá, tem que ser uma engrenagem. Tem que dar certo para que isso cresça”, assegurou.

Para o ano de 2020, Sônia foi escolhida como uma das embaixadoras do Congresso Nacional de Mulheres do Agro, que vai para a sua quinta edição. Em 2018, durante o 3º congresso, a gestora foi reconhecida no 1º Prêmio Mulheres do Agro como um dos destaques na categoria Pequena Propriedade pelo seu trabalho na Fazenda Palmeiras.

“Neste congresso de 2020 agora, do qual eu fui nomeada embaixadora, a gente quer que as mulheres saiam de lá sabendo realmente, e tendo realmente uma direção com projetos para vida, que todos sejam realizados”, sustentou. Um dos diferenciais do congresso deste ano, segundo a embaixadora do evento, é que não somente produtoras, como também empreendedoras do ramo terão mais espaço nas discussões para mostrar como estão transformando o agro.

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Veja a entrevista completa com Sônia Bonato pelo vídeo abaixo: