Como vencer o desafio do bem-estar na entrada do boi no confinamento?

Como o bovino tem boa memória, as falhas de manejo ao longo de sua criação podem impactar no desempenho de toda sua vida produtiva

Quanto mais intensivo é o sistema de produção pecuário, maiores são os desafios do produtor ao longo de todas as suas etapas. Por exemplo, à medida em que terminar o gado em confinamento acelera a engorda e ajuda a dar o acabamento de gordura necessário para a carcaça atingir o padrão desejável pelo mercado consumidor, o boi fica mais sensível a fatores como a adaptação tanto do ponto de vista nutricional como “social”. É aí que o trabalho de bem-estar pode ajudar o pecuarista a obter o máximo desempenho do gado em cocho.

Em entrevista exibida nesta segunda, dia 13, o especialista em bem-estar animal da Friboi, Carlos Silva, falou sobre o assunto ilustrando o trabalho feito pela empresa na unidade de seu boitel em Lucas do Rio Verde, no estado do Mato Grosso.

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Silva avisou que por conta de o boi ter uma boa memória, uma falha de manejo em qualquer etapa de sua criação pode impactar todo o seu desenvolvimento. Entretanto, o sistema intensivo também oferece uma oportunidade. “O bovino tem uma memória muito boa, então a gente tem uma vantagem. Os animais que vêm pro confinamento têm bastante contato com pessoas e com maquinários diariamente e quase que no mesmo horário. Isso faz com que ele crie uma rotina. O bovino gosta bastante de rotina. E qualquer adversidade que ele venha a sofrer, tanto na viagem quanto dentro do curral de manejo, isso pode sim comprometer toda a estadia dele aqui no boitel”, advertiu o especialista.

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Veja abaixo os principais pontos de atenção para vencer este verdadeiro desafio de bem-estar animal no confinamento:

Embarque: importante contar com motoristas capacitados para a função. Silva comentou que na companhia os boiadeiros são treinados pelo menos uma vez por ano. “O transporte é um período muito desafiador para os animais. Os motoristas são orientados dentro da legislação vigente a realizarem as viagens no menor tempo possível para que os animais sofram menos estresse”, afirmou o especialista;

Desembarque: um dos pontos mais importantes é evitar saltos dos animais, seja para a subida na carreta ou na descida. Nas novas carretas utilizadas pela TRP, a divisão de transporte da companhia, as escadas foram substituídas por elevadores. Na chegada à fazenda, os animais são descarregados e ficam um período de 24 horas em descanso com água e feno à disposição para recuperação da viagem;

Protocolo sanitário: O período de descanso é importante que o animal responda melhor ao protocolo sanitário de entrada em confinamento. As vacinas podem variar conforme as características da região onde está o confinamento e são aplicadas junto a um antiparasitário para que seja feita a limpeza do trato gastrointestinal;

Identificação e rastreabilidade: aproveitando o manejo sanitário no curral, os animais recebem brincos de identificação da baia em que estão e também do Sisbov;

Boas práticas de manejo: em todas estas etapas, é imprescindível manejar o gado tranquilamente. Carlos Silva lembra que a audição dos bovinos é muito acurada, por isso o trabalho sem barulhos que causem estresse é altamente recomendado. O uso do bastão elétrico, embora permitido, segue um série de regras para que possa ser feito. A voz, chocalhos e bandeiras brancas devem ser sempre prioridade para a condução dos lotes;

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Os cinco domínios do bem-estar animal: manter boas condições de nutrição e hidratação; ambiente livre de frio, calor e outras condições extremas; por meio de manejo sanitário evitar doenças e ferimentos; permitir ao animal expressar seu comportamento natural; culminando em um estado mental tranquilo (sem fome, sede, dor, ansiedade, medo), configurando assim um quadro de bem-estar animal pleno.

Quais são os 5 domínios do bem estar animal e como eles influenciam na produtividade da fazenda?

“Além do lado ético do bem-estar animal, nós sabemos que a qualidade da carne também está atrelada ao manejo bem feito”, complementou o especialista.

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo: