Três dicas para controlar cigarrinha do milho no consórcio e mais 14 respostas sobre manejo de pasto

Em sessão de perguntas e respostas, zootecnista falou sobre controle da cigarrinha do milho, como escolher o melhor capim, como usar herbicidas em consórcio, entre outros temas

O zootecnista e pecuarista Tiago Miguel Felipini, consultor da Alcance Rural, participou nesta terça, 19, de sessão de perguntas e respostas sobre manejo de pasto, aproveitando a volta das chuvas. Entre os destaques de sua participação estão três dicas sobre o controle da cigarrinha do milho.

Veja a seguir todas as perguntas que foram respondidas ao longo do programa:

– Qual tratamento usar para conter ou minimizar o avanço da cigarrinha do milho e que hoje também tem atacado as pastagens? (Adílson Rogério Kanieski, de Itanhangá, a 70 km de Tapurah-MT)

Felipini: “Existem várias técnicas que você pode usar. A primeira é escolher uma variedade de milho que seja resistente à cigarrinha do milho. […] A segunda é fazer o tratamento da semente. É comum o pecuarista começar a plantar a lavoura e querer gastar pouco, economizar. E uma das práticas é plantar uma cultura igual o milho, que é muito exigente, e não tratar a semente. Então a segunda dica é tratar a semente da melhor forma possível. Se possível, para você ter uma eficiência maior, coloque dois princípios ativos, dois agentes ativos ou dois tipos de venenos diferentes, um diferente do outro, no tratamento da semente. Isso vai fazer com que ela responda melhor na resistência contra essa cigarrinha. E a última dica é usar o controle biológico junto com o controle químico, porque senão o seu custo vai ficar muito alto. Você pode usar extrato de folha de Nim. Hoje o pessoal ainda não acredita, mas ele funciona bem. Ou o óleo de Nim, nas dosagens recomendadas pelos fabricantes. Tem funcionado muito bem esse consórcio do extrato de folha de Nim e o óleo junto com o controle químico. Vai fazer um controle muito eficiente na sua lavoura. Essas são as três dicas”.

– Estou pensando em plantar milho consorciado em duas áreas diferentes da minha propriedade. Em uma, pretendo colocar o capim Mombaça e, em outra área, a braquiária. Quando cultivo apenas milho, uso defensivos que impedem a proliferação de outras plantas no milharal. Pergunto: considerando o consórcio, qual defensivo devo usar para não prejudicar o capim? (Carlos Eduardo de Lira Martins, de Vitória de Santo Antão-PE)

Felipini: “A resposta não é exatamente qual o tipo de defensivo, mas sim o momento que você vai aplicar. Você deve usar o defensivo padrão, por exemplo, uma atrazina, que normalmente é usada. Pode usar um produto mais moderno que você tenha na sua região. Mas o plantio você deve fazer entre uma adubação de cobertura e outra. Ou logo após a primeira cobertura, você entra fazendo o plantio desse capim. E aí o herbicida que vai manter a sua lavoura limpa, ou pré-emergente ou pós-emergente, não vai influenciar na germinação desse capim que você vai plantar. Lembrando que você tem que colocar no mínimo 250 pontos de sementes puras e viáveis por hectare nessa lavoura para poder ter uma formação boa de capim. Então a resposta é o momento, e não o tipo de herbicida”.

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– Qual melhor pastagem para a região sudeste de MG, em Manhuaçu? (Wesley Fernando Barbosa)

Felipini: “Por sorte do destino, eu já atendi essa região. Chove muito pouco, então […] tem pouco intemperismo do meio ambiente e costuma ter muita fertilidade. Vai ter regiões com manchas de solo com muita fertilidade. Não a região toda, mas ele vai encontrar. Nós encontramos o capim braquiária lá, principalmente a Brachiaria brizantha, conhecida como Braquiarão. E, se não tiver problema com a cigarrinha, o que eu acho difícil, ele pode usar a Decumbens, que é melhor ainda. Só que a Decumbens é suscetível (à cigarrinha-das-pastagens). Toda vez que a gente planta a Brachiaria decumbens, a Braquiarinha, ele precisa comprar junto o defensivo para combater a cigarrinha. […] A cigarrinha é praticamente um mutante. Não importa se está seco ou úmido… A umidade e a temperatura fazem com que essa praga se multiplique rapidamente e avancem de uma forma endêmica. Mas nós encontramos cigarrinha no semiárido brasileiro. No norte de Minas, por exemplo, tem. Só não afeta tanto porque eles plantam Andropogon e o Andropogon é um capim resistente”.

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– Tenho uma pequena área de pastagem de várzea que utilizo para recria de bovinos e estou querendo plantar o capim Humidicola ou Setária. Qual aconselha? Quais vantagens e desvantagens? Posso plantar metade do pasto com um e metade com outro? (Sudário Braga, de Pouso Alegre-MG)

Felipini: “A primeira indicação vai ser semente de capim Humidicola, a Brachiaria humidicola. Ou a Dictyoneura. Não é nem a Setária. A Setária é muito pouco cultivada. Se você encontrar semente, também pode ser plantada. Ela tem essa característica de resistir a solos que encharcam. Agora não plante mesclados os dois capins porque o capim de porte baixo, igual Humidicola, tem uma altura de manejo diferente da Setária, que é o capim de porte médio. Então, por exemplo, a Setária vai entrar com 40 cm no pastejo, a Humidicola vai entrar com 25 a 30 cm. Então ele vai acabar fazendo com que o gado consuma mais a Setária e a Humidicola se alastre. Ele vai perder pasto de Humidicola e consumir mais a Setária. Misturar dois capins nunca é bom. Faça só o plantio da Humidicola ou só o plantio da Setária. Dá para fazer dois piquetes, pode dividir o pasto em duas áreas, aí planta um com Humidicola e outro de Setária. Respeitando as alturas do manejo, não tem problema nenhum”.

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– Qual melhor época para plantar o capim Kurumi? (Agdo Cruz, da região sul de São Paulo)

Felipini: “Nessa região, a melhor época, a janela de plantio vai ser no intervalo da segunda quinzena de novembro até o final de novembro para poder conseguir receber as chuvas de dezembro, quando o índice de veranicos nessa região, em dezembro, é muito baixo. Então seria nessa janela de meados até o final de novembro para ele ter sucesso, ter as chuvas de dezembro e também janeiro. Fugir um pouco do veranico da primavera, como os de verão. […] Qualquer capim que a gente plantar assim. Não é bem específico do Kurumi. Vai ter esse problema dos veranicos na formação porque a raiz da planta está curta, está se estabelecendo ainda, se consolidando. Depois que ela vai ficar resistente. Mas na fase inicial, (o veranico) é problema”.

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– Posso usar farinha de carne e osso para adubação de pastagens degradadas? Será que isso pode trazer alguns patógenos para a terra que possam interferir no desenvolvimento do gado? (Hugo Ikegami, de Pacaembu-SP)

Felipini: “Ele não vai ter problema de patógeno, não. Nós temos trabalhos na pesquisa em pastagem com água residuária, com esgoto líquido sendo aplicado em áreas intensivas, onde tem muito gado por hectare e sem problema nenhum. Trabalho de longo prazo, trabalho de três, quatro anos, trabalho de doutorado que pesquisadores fizeram por muitos anos e nunca tiveram problemas. E existem projetos que nós acompanhamos em que é feita essa adubação com resíduo da indústria frigorífica sem problema nenhum. O interessante, a recomendação nossa, é buscar […] o órgão que fiscaliza e monitora essa parte sanitária do estado […] para poder saber como funciona essa fiscalização. De repente o produto tem que chegar na fazenda e ficar isolado. Por exemplo, esterco de galinha, a cama de frango, se ele comprar, ele não pode deixar empilhado igual calcário para o gado ter acesso. Se tiver fiscalização nesse momento, ele acaba sendo autuado, multado. Então ele tem que receber o produto no pátio de descarga, isolado da entrada de animais. Mas ele pode usar esterco, a cama de frango como adubo para fertilidade, sem problema. Não vai ter esse problema sanitário na água, não”.

– Moro em Bocaiúva, no sul do Paraná, e o ambiente fica em torno dos 10° a 6° C nessa época do ano. A terra é muito boa! O pasto de braquiária vem embaixo da plantação de eucalipto? Tem algum pasto específico para o plantio? (Aihalon Lucas)

Felipini: “A Embrapa fez algumas unidades técnicas para pesquisar capins que suportam sombreamento e uma das pesquisas que nós acompanhamos foi na região do Bolsão lá em Mato Grosso do Sul, não muito longe da sua região. E o capim que mais se adaptou foi o Braquiarão em áreas sombreadas, áreas com sombra realmente. Então o capim recomendado para ele seria o Braquiarão, a Brachiaria brizantha cultivar Marandu. E a outra dica é usar leguminosas. Estilosantes Campo Grande, Estilosantes Mineirão, feijão Guandu. O pessoal tem usado e vai produzir uma adubação verde também no futuro. Depois que esse capim secar e morrer, e vai suprir o nitrogênio de boa parte dessa floresta. Vai ter uma floresta mais agressiva”.

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– Qual o manejo eficiente no controle da invasão do capim Jaraguá na braquiária? (Antônio Neves, de Belo Horizonte-MG)

Felipini: “Muito pertinente porque o pessoal costuma errar muito. O melhor tratamento para você é respeitar a planta que você está manejando, que está trabalhando. Então o Jaraguá está se desenvolvendo porque você está ofendendo (o capim), você provavelmente está super pastejando, está pondo mais gado do que a planta suporta, do que a pastagem suporta. Então você deve manejar pela altura esse capim que você tem, essa braquiária. Se a braquiária estiver bem empastada, se estiver sendo respeitada, ela consegue brotar rapidamente e cobrir o solo. Se cobrir o solo, o Jaraguá perde força, principalmente porque a braquiária tem uma característica de liberar pelo sistema radicular uma cerosidade que inibe o crescimento de outras plantas. Se a braquiária está perdendo espaço para outro capim é porque ela está sendo ofendida. Provavelmente, está sendo super pastejada.

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– Qual o melhor Panicum pra solo argiloso? (Reginaldo Bispo de Sena Filho, de Inhambupe-BA)

Felipini: “Se for um solo média a alta fertilidade, os capins que têm mais respondido hoje seriam o capim Miyagi, que é um capim que o pessoal tem usado bastante para silagem, tem um suporte muito alto. Então seria um dos Panicuns mais modernos hoje, mais interessantes. Tem as outras opções, que seriam Mombaça, Tanzânia… Mas eu apostaria no Miyagi para essa região que você está falando. Se o solo seu tiver uma fertilidade média a alta natural. Se não tiver, você tem que adubar. Esse capim não vai suportar solos de média a baixa fertilidade”.

– Queria saber quantos bezerros de 8 a 10 arrobas posso pôr em um pasto de dez alqueires. (Robinho Santos, de Divinolândia-SP)

Felipini: “A primeira coisa é avaliar a condição da sua pastagem, se ela está bem empastada, se está consolidada, e se ela já tem altura de entrada dos animais em pastejo. E aí o certo é medir essa pastagem, fazer uma medição direta e calcular o suporte. Mas uma receita de bolo para você é começar de baixo. Comece com uma cabeça por hectare, 25 garrotes, 25 bezerros (em 25 hectares). Se começar a sobrar pasto, você aumenta de 10 em 10% até chegar no momento que o capim começa a baixar a sua altura média. Aí você não aumenta mais a lotação, você diminui. E cuidado com o período da seca, quando o capim vai cessar a rebrota, e aí você pode superpastejar a área. Aí tem que entrar com uma suplementação volumosa. […] O pessoal acha que o proteinado salva a vida deles, salva a pecuária. Ele ajuda muito, mas você precisa ter fibra, precisa ter volume. O pecuarista chama de bucha. Ele precisa ter uma certa quantidade de pasto para o proteinado funcionar, para ele ganhar dinheiro. Se ele tiver um sistema rapadão, que é quando ele super pasteja a área dele, o proteinado não vai funcionar. Chega a dar diarreia nos animais, o animal começa a comer muito, ele desconta a falta de pasto no cocho. Então ele começa a estressar, ele libera muito nutriente pela urina e começa a querer repor isso no cocho, e aí consome muita ureia, consome muito aditivo, e prejudica o sistema digestivo dele também. Acelera a perda de peso, dependendo do pasto”.

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– Quanto de capim Napier e cana eu consigo produzir por m² em área irrigada para fazer silagem no saco? E quanto de silagem consomem uma vaca adulta e uma novilha? (Agnaldo Antonio, de Ouro Verde de Minas-MG)

Felipini: “A primeira pergunta é quanto ele produz por m². […] Provavelmente vai produzir entre 15 e 16 kg por m². Isso por ano. Então ele vai fazer três ou quatro cortes no ano, ele vai conseguir 5 a 5,5 kg por corte por m². […] Essa vaca vai consumir 30 a 35 kg, 2% do peso vivo. E aí você divide esses 2% de peso vivo pela matéria seca, que vai ser em torno de 30%, vai chegar na casa dos 35 kg para uma vaca. Uma novilha vai consumir 25, talvez 30 kg se for uma novilha mais pesada”.

– Tenho uma área de capim Andropogon que já “virou cana”. O que devo fazer? Roçar no período das chuvas ou deixar assim mesmo? (Wandeberg Feitosa, de Pirenópolis-GO)

Felipini: “Os baianos chamam de ‘canelar’. O capim fica da grossura da canela do peão, do vaqueiro. O certo é roçar em meados da primavera, ou no início do verão. Começou a chover na sua região, você pode entrar roçando e isolar a área para esse capim poder rebrotar rapidamente. Porque se ele tiver nessa condição que você falou, encanelado ou com bastante talos, demora mais de dois meses para esse talo cair. Às vezes ele tem a rebrota lateral, que é com folhas pequenas, e isso não é desejável porque esse talo não cai. Então o ideal é roçar. Todo investidor, todo pecuarista que compra semente de Andropogon, o certo é ele comprar uma roçadeira junto. Ele produz muito na primavera-verão e o pecuarista fica com medo de colocar o tanto de gado que precisa. E aí ele vai produzir essa haste, que ele chama de talo, ou o baiano chama de ‘encanelamento’. E aí tem que roçar! Se ele não roçar, ele vai perder produção, vai deixar de produzir”.

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– Estou fazendo o preparo do solo para pasto rotacionado e irrigado. Estou em dúvida na escolha da gramínea entre a Tifton 85 ou Jiggs (variedade de grama Bermuda). Qual seria mais produtiva e com mais proteínas? (Amílton Rodrigues de Freitas, de Nova Lacerda-MT)

Felipini: O capim que tem mais pesquisa comprovada, que é garantido pela pesquisa, é o Tifton 85. Ele já foi muito pesquisado, desmistificado em termos de fertilidade e adubação. Então você deve buscar primeiro o Tifton 85, ele já é um capim comprovado. O Jiggs produz bem, mas não tem a quantidade de trabalho em centros de pesquisa que o Tifton teve. Em fazendas comerciais também, os projetos que têm maior suporte em áreas intensivas, irrigadas, é o Tifton 85”.

– Quantas vacas de cria posso ter num pasto de 60 hectares? (Franciele Daiana, de Campo Grande-MS)

Felipini: “Você precisa de um técnico para acompanhar você e poder medir a produção. Hoje existem técnicas em que você mede instantaneamente a produção e você mede o estoque de capim. A partir daí, é calculado quantas vacas você consegue lotar de acordo com o peso médio do rebanho também. O ideal é estar buscando uma consultoria, uma visita do técnico da região ou uma consultoria específica para fazer esse trabalho, para poder saber exatamente o número. Eu poderia falar para você começar com 0,5 vaca por hectare, mas o seu pasto pode não suportar, não ter condição. Aí você pode superlotar o seu pasto.

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– Me ajude informando se devo corrigir a acidez de um solo sujeito a inundações de quatro a seis vezes durante o verão no MS em que é cultivada a Humidicola? (Glauco Avelino, de Anaurilândia-MS)

Felipini: “Não é porque inunda que você não pode trabalhar com a área. Nós trabalhos com áreas desse padrão que você está relatando […] (é possível ter) altas produtividades, colocando suporte de 4 UA/ha de média no ano. Em determinados momentos, (em exemplo de trabalho no sul da Bahia) chegava a até 7 UA/ha. Então o ideal é você fazer uma análise de solo. Na hora que este pasto não estiver inundado, você coleta a terra, manda para o laboratório, e aí você pode mandar até para o Giro do Boi e aí a gente fala a quantidade exata de calcário que você vai aplicar. E quando você vai aplicar? Vai aplicar quando estiver seco para sua máquina não ter problema de atolar, de tombar, então procure fazer os manejos, as operações, na hora que a água abaixar.

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Assista a sessão completa de perguntas e respostas sobre manejo de pasto no vídeo a seguir:

Foto ilustrativa: Fabiano Bastos / Reprodução Embrapa